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20 DE DEZEMBRO DE 1984 1211

tatizados tivessem adoptado uma atitude idêntica em relação a esse debate...
Se o Sr. Deputado pensar um pouco mais, verá que de há tempos para cá o cerco em torno da Assembleia da República se tem acentuado.
Não quero trazer para a discussão, como disse há pouco, os incidentes de hoje, na medida em que decidimos fazer um inquérito a tais incidentes, mas o Sr. Deputado repare se não temos razão nesta matéria. Repare se isto não consubstancia o tal estado de espírito obcecado, de dominação, o tal estado de espírito que visa calar tudo aquilo que é a palavra discordante, sobretudo se dita com energia e pondo em evidência o erro de uma política que se está a prosseguir.

Vozes do PCP: - Muito bem!

O Orador: - Temos, portanto, as maiores razões para estar preocupados. E não são as palavras que se possam dizer sobre o passado do Sr. Primeiro-Ministro que nos trazem algum sossego. A história está cheia de exemplos, como já tive ocasião de dizer aqui, e ser democrata prova-se no dia-a-dia, prova-se sobretudo quando se tem poder.

Vozes do PCP: - Muito bem!

O Orador: - Era isto que queria dizer ao Sr. Deputado Carlos Lage.
Quanto ao Sr. Deputado José Luís Nunes, bem o percebo. O Sr. Deputado queria o empurrão só para o ministro Seabra, mas nós temos uma outra visão das coisas e pensamos que ou há moralidade ou pagam todos.

Vozes do PCP: - Muito bem!

O Orador: - O Sr. Deputado falou de resultados eleitorais, de voto, etc., mas se tem tanta confiança no voto porque é que a sua posição coincide tanto com a do Sr. Deputado Capucho? A legislação eleitoral é um dos pontos do Programa do Governo que vai ser revisto. Acho que não deve alterar as regras do jogo quando está prestes a perder. Portanto, não altere as regras do jogo quando as sondagens indicam que o Partido Socialista ficará em 2.º lugar ou, as mais recentes, até em 3.º, e quando indicam que o candidato Mário Soares ficará colocado em 4.º lugar na corrida para Belém. Se o Sr. Deputado tem confiança nas regras do jogo e se é democrata mantenha essas regras e não as altere quando tem o poder e está a perdê-lo.

Vozes do PCP: - Muito bem!

O Sr. Manuel Lopes (PCP): - Quem não tem razão faz sempre assim...

O Orador: - Em relação às lutas dos trabalhadores, o Sr. Deputado desmentiu o Sr. Primeiro-Ministro. Deve ter sido um lapso. Provavelmente, não estava cá quando o Sr. Primeiro-Ministro fez essas afirmações ... Eu não quero sublinhar mais esta questão, porque ela pertence-vos, no entanto, quero dizer que essas afirmações são inteiramente legítimas e que em qualquer democracia são formas de exprimir pontos de vista, de veicular queixas e de apresentar reclamações.
O Sr. Deputado frequenta certos areópagos onde as questões da democracia são muito discutidas, mas em democracia a opinião pública é uma realidade; os movimentos de opinião são uma realidade e os sindicatos pesam seriamente nesses movimentos de opinião. Portanto, Sr. Deputado, respeite-os se quer que nós respeitemos as suas convicções democráticas.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente: - Para protestar, tem a palavra o Sr. Deputado Carlos Lage.

O Sr. Carlos Lage (PS): - O Sr. Deputado Carlos Brito, ao falar da atitude panglossiana, acusou-me de acreditar que tudo vai pelo melhor no melhor dos mundos, mas eu prefiro acreditar que tudo vai pelo melhor no mundo da democracia. O Sr. Deputado Carlos Brito tem uma atitude diametralmente oposta: acha que tudo vai pelo melhor no mundo em que não há democracia, no mundo dos países de Leste, inspirando-se constantemente nesses exemplos.

O Sr. Rogério de Brito (PCP): - Ó Lage, estás armado em pirilampo ...

O Sr. Presidente: - Para protestar, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Nunes.

O Sr. José Luís Nunes (PS): - Vou fazer o meu protesto tomando como exemplo a expressão "desmentiu o primeiro-ministro". Eu não desmenti o primeiro-ministro, porque o primeiro-ministro não ignora que houve manifestações, movimentações, etc. No entanto, se eu tivesse que discordar do primeiro-ministro, discordaria mas não o desmentiria.
Conta-se que um dia em determinado sítio alguém perguntava o seguinte: porque é que não denunciaram, a tempo e horas, os crimes de Estaline? Neste momento Nikita Krustchev levantou-se e fez a pergunta: quem foi? Toda gente ficou em silêncio e passados dois minutos ele disse: agora, já sabem por que razão ninguém denunciou os crimes de Estaline. É exactamente a mesma questão que os Srs. Deputados acabam de pôr.

Risos do PS.

O Sr. Presidente: - Para contraprotestar, tem a palavra o Sr. Deputado Carlos Brito.

O Sr. Carlos Brito (PCP): - Sr. Deputado Carlos Lage, estava convencido de que o Sr. Deputado, desde que andava a ler umas coisas - como se provou há pouco nas abundantes citações do seu discurso -, estava com outros recursos e outra capacidade de réplica, mas vejo que está na mesma, nesta pobre cassette, e incapaz de discutir ideias e situações, salvo naquelas em que tem alguma cultura livresca. Neste caso discutíamos coisas sérias que se passam em Portugal. E é uma pobreza, que eu lamento, o facto de o Sr. Deputado não ter sido capaz de se manter nesse terreno e de responder como era próprio.
Em relação ao Sr. Deputado José Luís Nunes, o Sr. Deputado sabe muitas histórias, mas elas nem muitas vezes encaixam nas situações. A memória é um predicado importante na vida parlamentar mas nem sempre resulta. Eu nem sei quem é que o Sr. Deputado quis atingir com essa história do Estaline. Terá sido