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2606 I SÉRIE - NÚMERO 65

É, pois, a esta luz que a actividade do Governo tem de ser apreciada:, a de uma conjuntura, interna e externa, sem precedentes, onde o difícil seria não brilhar.
Ora bem, e que fez o Governo com esta conjuntura?
Comecemos com os indicadores que mais frequentemente o Governo utiliza como bandeira para justificar os seus pretensos .êxitos: a inflação, os salários reais e o investimento. . .
A inflação, em 1986, baixou de 19% para cerca de 12%. É um facto positivo, que fica bem ao Governo realçar. Mas a esse realce não podemos deixar de contrapor três factos. Em primeiro lugar, que a desaceleração do crescimento dos preços já se iniciara em 1985 e não apenas em 1986: a queda fora então de dez pontos percentuais, contra os sete pontos do ano findo. Em segundo lugar,- é o próprio Governo, nos seus documentos oficiais, a admitir a nulidade do seu mérito: os 12% .da inflação, em 1986, resultam da média ponderada de 18% no. mercado interno e de 7% negativos da inflação importada, e é óbvio que só pela primeira o Governo pode ser. responsabilizado. Em terceiro lugar, que a própria redução de preços em Portugal tem, ainda assim, um mérito relativo: quase todos os países da CEE conseguiram reduções superiores à nossa.
Os salários, pelos elementos até agora disponíveis, terão crescido cerca de 5% em termos reais. É razoável.
E talvez seja bom lembrar agora a intervenção que o Sr. Primeiro-Ministro fez há cerca de um ano, após «ignora» o último trimestre de 1985, como se nada tivesse a ver com isso - e foi nesse período, exactamente, que o emprego mais diminuiu. Por outro lado, utiliza artifícios metodológicos para baixar a população activa, que serve de base a») cálculo da taxa de desemprego: as mulheres portuguesas, por exemplo, que não têm emprego, não são chamadas «desempregadas», mas «inactivas»
... O método pode servir para fazer discursos bonitos, com taxas sonantes, mas não é um método honesto.
Uma história conhecida lembra: a do senhor que fez um albergue para aqueles que primeiro tinha feito pobres.
Veja-se o caso da estrutura de distribuição de rendimento, de que o Governo nunca fala. Em 1973, o peso do factor do trabalho no conjunto do rendimento era da ordem dos 53%. Em 1975, era da ordem dos 70%, análogo ao que se verifica na generalidade dos países europeus. Em 1986, com uma conjuntura sem precedentes, aquele peso salarial não ia além de escassos 47% - a taxa mais baixa depois do 25 de Abril! É simplesmente chocante que um governo que diz prosseguir a justiça social aceite como boa uma situação como esta e a silencie.
Mais grave do que tudo isto, porém, é a total ausência de medidas de fundo de que o Governo até agora deu mostras; e foi para tomar medidas de fundo que ele se propôs governar e tinha rompido o bloco central. Mais grave de tudo isto é a total ausência de um modelo de desenvolvimento, através do qual possamos minimamente saber o que queremos e para onde vamos: ninguém ainda sabe o que este governo quer