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1 DE MARÇO DE 1989 1635

Quisemos e queremos sair de um espaço pequeno; que é o nosso próprio; para um espaço grande como é o da Europa, quisemos, crescer cá e lá, fora, quebrar um espartilho à nossa capacidade de desenvolvimento.
Outro objectivo nos terá movido também quisemos fazer ouvir a nossa voz, com valor e força que queremos que sejam grandes, contra outras vozes de outros
continentes que, embora os respeitemos; não estamos dispostos a permitir que nos discriminem, para nós, a Europa de hoje não é um continente velho e caduco
mas antes uma Europa nova, cheia de força e vigor, pelas suas gentes, pelas suas tecnologias, pelo seu trabalho, pelo seu engenho e, acima, de tudo, pelo seu
entendimento.
Os outros continentes têm que vera Europa de hoje não como um conjunto de países desunidos, caminhando cada um pela sua estrada, tendo cada um seu objectivo, mas antes e só, uma Europa coesa e unida com uma meta, um querer e uma vontade.
É evidente que tudo isto não é fácil, para nós portugueses.
Os problemas são muitos, o trabalho a dispender é extraordinariamente pesado e, tantas vezes, não bem compreendido.
Somos um pais em que as empresas ainda não estão devidamente vocacionadas para um Mercado Europeu, para um mercado tão grande como é à própria Europa.
Os empresários portugueses têm que vencer a ideia; que hoje é totalmente errada, de que apenas produzem e vendem para Portugal e para uma ou outra episódica
exportação, têm que convencer-se de que o seu, mercado, os seus clientes, os compradores dos seus produtos e dos seus serviços é toda á Europa. O seu
mundo de clientela deixou de ser de dez milhões, para passar a ser de centenas de milhões de europeus. Há que desenvolver, há que investir, há que criar, há que produzir em termos totalmente diferentes do que se fazia há meia dúzia de anos.
Sei que as dificuldades são muitas, os entraves são alguns, mas há que criar ânimo, há que ganhar coragem, numa palavra, há que acreditar num projecto em que já toda a Europa acreditou.
Sem essa credibilidade, sem esse querer mudar, não iremos a parte nenhuma.
Não ignoro-os prejuízos de uma estatização mal feita e à pressa, previamente desenvolvida com ilegítimas interferências políticas, obstacularizadora de um mais são Orçamento do Estado, obstacularizativos são hoje conhecidos em todo o mundo.
Também neste aspecto há que lutar, luta que é de nós todos também e não apenas do Estado. O Estado não pode ser tido e havido como o ser que tudo resolve sozinho, pensar assim é contrariar as bases do desenvolvimento, da iniciativa, da consciência do cumprimento do dever. O Estado não é mais que a cúpula do Pais, dos seus cidadãos. Não é, de modo algum, o mecenas ou o pai que, nas economias familiares e aos agregados destas, resolve todos os seus problemas.
Também no campo da burocracia muito temos de fazer, a começar pelo Estado e a acabar em todos é cada um de nós. A burocracia é um inimigo declarado das boas e profícuas relações entre os que produzem e os que consomem, entre os que buscam-se os, que aguardam quem os encontre, a burocracia transforma em difícil, caro, emperrante o que pode e deve ser fácil, rápido e barato. A burocracia é um mal das sociedades dificientemente organizadas. Também aqui nos cumpre aproximar-nos da Europa, onde esse mal está a ser largamente debelado.
O nosso sistema judiciário, a nossa educação, a nossa saúde; tudo isto são sectores em, que precisamos de avançar, e avançar significativamente, para que em 1992 tenhamos gente capaz de competir nesse mercado económico e político que é a Europa e, principalmente, o que vai ser, a Europa.
Temos que competir, temos de criar condições para competir, temos de nos convencer que somos capazes de competir. Temos de mostrar à Europa que não somos um irmão incapaz, doente; inoperante, inválido. Temos de mostrar, à Europa que estamos nela por mérito próprio e não por mero acto de favor.
E temos tantos e tantos, campos em que podemos competir com vantagens...
Como meros exemplos: os têxteis, os vinhos, o calçado, a cortiça, o azeite de qualidade, a confecção de vestuário, a ourivesaria, o mobiliário, as conservas, e tantos e tantos outros que agora não ocorrem.
Mas temos que modernizar.
Modernizar uma agricultura que ao, longo das décadas quase que não passou, até há poucos anos, daquela que os egípcios faziam antes de Cristo. Temos que incentivar o gosto pela terra, temos que saber aproveitá-la. Há que chamar para ela os que a abandonaram. Há, principalmente; que introduzir novas tecnologias e 'abandonar culturas improdutivas economicamente, buscar outras mais rentáveis. Há que chamar para o cultivo da terra os jovens, incutir-lhes o gosto por ela, dar-lhes garantidamente, a justa compensação do trabalho da terra.
Muito já se fez neste e em, outros sectores, mas há que fazer mais, e esse mais não é apenas o Estado que tem de fazer, somos nós todos.
Temos de desviar a ideia de que só pode viver-se nas cidades e principalmente nas grandes cidades. Aproveitemos a província, o interior, a serra e haveremos de ver que lá não se viverá pior que nos grandes centros.
Para tudo isto e tanto mais, há que investir.
O português, por feitio, é avesso ao convencimento para investir, ousado em tantas outras áreas, o português é retraído no investimento. Gosta mais do aforro, da poupança, perdoem-nos a expressão, do «guardar o dinheiro no colchão».
Mas, o português está a aprender e a aprender depressa. O investimento tem subido. Mas é preciso que suba mais, é preciso deixar de haver dinheiro parado para passar a haver dinheiro a andar.
Preciso é, também, que os portugueses se convençam de que são capazes de competir: na indústria, no comércio, nos serviços, precisamos de mostrar que somos tão capazes como os outros.
Temos que ser modernos, desburocratizar, descentralizar, ser rápidos, capazes, eficientes; não podemos perder tempo.
Como já aqui tive ocasião de dizer, se perdemos agora tempo, não mais o encontraremos.
Temos que criar portugueses modernos!
Temos que construir um nova Portugal para os nossos netos!
O balanço, até agora, é positivo.
Todos dizem que vamos pelo bom caminho. São os que caminham connosco, e até outros; que o dizem,