O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

788 I SÉRIE-NÚMERO 22

que a rejeição do «socialismo real» se transforme em rejeição pura e simples da própria ideia de socialismo.
Mas também uma nova e irrepetível oportunidade para os comunistas que forem capazes de compreender, como há 20 anos o fez Dubcek, como o está a fazer Gorbatchev, que a liberdade é em si mesma um valor absoluto e insubstituível, um valor sem o qual o socialismo não tem sentido.
Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados: As mudanças no Leste vão provocar mudanças inevitáveis no Ocidente. Desejável será que, após a queda do Muro de Berlim, outros muros simbólicos comecem a cair o egoísmo, a intolerância, o sectarismo, o racismo, os desequilíbrios e as desigualdades, a discriminação sob todas as suas formas. Alargar os direitos políticos, dar um conteúdo concreto aos direitos sociais - eis o combate do socialismo democrático que continua a ser, como disse François Mitterrand, «a ideia mais nova do mundo».
Finalmente, a hora em que pela primeira vez o Papa recebe o líder soviético deve ser a hora de um novo diálogo em toda a Europa, tendo em vista um novo clima de confiança, compreensão e solidariedade. De certo modo, a Europa do século XXI já começou. Devemos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para que ela seja uma Europa de liberdade, de democracia e de paz do Atlântico aos Urais.

Aplausos do PS, do PSD e do CDS.

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, o PS já não dispõe de tempo para responder, mas a Mesa vai conceder-lhe um minuto.
Para pedir esclarecimentos, estão inscritos os Srs. Deputados Pacheco Pereira e Montalvão Machado.
Tem a palavra o Sr. Deputado Pacheco Pereira.

O Sr. Pacheco Pereira (PSD): - Sr. Deputado Manuel Alegre, mais do que um pedido de esclarecimento, gostaria de fazer uma observação sobre o conteúdo da sua intervenção.
Penso que, no momento em que se faz o balanço das pessoas que criticaram o socialismo real, é um pouco hipócrita citar apenas aqueles que estão nas margens ou à volta da tradição socialista.
Chamo-lhe à atenção para o facto de terem sido os trotskistas os primeiros a denunciar o que acontecia na União Soviética nos anos 20, e fizeram-no em situação extremamente difícil, porque ninguém acreditava neles, toda a gente pensava que a descrição que eles faziam da realidade soviética era mirífica, ou seja, nem à direita, nem à esquerda.
Depois, muita gente que não pode ser considerada socialista, muita gente de direita, denunciou o regime soviético. Por esta razão, penso que para essas pessoas, que denunciaram nestes últimos 70 anos a realidade do sistema soviético, é injusto - e é manter-se dentro de um quadro de pensamento que estamos a pretender combater - reduzir o testemunho e a tradição apenas àqueles que o fizeram pela esquerda. Houve muita gente que o fez à direita e, acima de tudo, houve muita gente que o fez nem à esquerda nem à direita, contando as suas experiências de vida na União Soviética. E seria justo, pela nossa parte, lembrar-nos que esses foram os que mais sofrerem, os que mais foram atacados, porque não tinham nenhum grupo, partido ou posição ideológica para os defender.
Gostaria também de lhe dizer que nada comprova que as suas afirmações sobre a vontade das populações da Europa do Leste de quererem permanecer sobre qualquer fornia de socialismo tenham algum sentido que não seja aquilo que vulgarmente se chama o wish of thinking, ou seja, um desejo que seja assim.
Penso que não podemos estar a fazer um discurso sobre o que os povos da Europa do Leste querem ou não querem; nós temos que, neste momento, fazer essencialmente um discurso não sobre ideologias projectivas mas sobre realidades práticas, ou seja, sobre as condições para lhes assegurar a transição para uma democracia plena. O que eles querem fazer dessa democracia é com eles.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Montalvão Machado.

O Sr. Montalvão Machado (PSD): - Sr. Deputado Manuel Alegre, uso da palavra tão-somente para lhe fazer uma chamada à sua memória que sei que não é curta.
O Sr. Deputado, na sua intervenção, salientou o papel do Presidente Mário Soares e do Partido Socialista em 1975 a favor da liberdade em Portugal. É verdade! Sou o primeiro a reconhecer que isso é verdade. Só que o Sr. Deputado esqueceu que a par do Dr. Mário Soares e do Partido Socialista esteve o Dr. Francisco Sá Carneiro e o Partido Social-Democrata.

O Sr. Silva Marques (PSD): - Muito bem!

O Orador: - E até estava capaz de lhe lembrar, Sr. Deputado, se me permitisse, que a primeira manifestação de massas que houve neste país contra o comunismo, que pretendia apoderar-se do aparelho do Estado, foi no Porto, onde dezenas de milhares de pessoas se dirigiram ao quartel do CICA e depois ao quartel do RASP, onde dezenas de sociais-democratas portugueses foram feridos a tiro pelas balas dos militares que estavam no RASP.

O Sr. José Lello (PS): - Eu estive lá, isso não é verdade!

O Orador: - Só 15 dias depois é que teve lugar em Lisboa a manifestação da Alameda. Acredito, como diz o Sr. Deputado José Lello, que muitos socialistas tenham estado lá connosco, mas V. Ex.ª também tem de acreditar que, efectivamente, também muitos sociais-democratas estiveram convosco na Alameda.

Aplausos do PSD.

O Sr. Silva Marques (PSD): - Aliás, muito antes de vós reivindicámos nós as eleições!

O Sr. Presidente: - Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Manuel Alegre.

O Sr. Manuel Alegre (PS): - Sr. Deputado Pacheco Pereira, já há dias frente às câmaras da Televisão tivemos essa polémica.
No que respeita a Trotsky, ainda recentemente numa entrevista que dei, referi Trotsky, que, em 1903, de certa maneira, profetizou o que viria a acontecer - não posso citar todos os que o fizeram, porque são milhares, se não