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I SÉRIE -NÚMERO 11 302

globalmente nos orgulhamos. Uma história sete vezes centenária -quase tão antiga como a própria nacionalidade - associa a Universidade de Coimbra aos momentos altos e aos pontos baixos da história colectiva dos Portugueses e confere-lhe um indiscutível prestígio, reconhecido não apenas no nosso país, mas no mundo. Esse prestígio constitui para nós um inestimável património, que devemos colocar ao serviço da Universidade, de Portugal e dos Portugueses.»
Proferi estas palavras, meses atrás, quando, no dia l de Março, teve lugar na Sala Grande dos Actos da Universidade de Coimbra, com toda a solenidade das velhas praxes, a abertura das comemorações do VII Centenário, sob a presidência de S. Ex.a o Presidente da República.
Ouvimos então o Presidente Mário Soares, em memorável discurso, enaltecer a Alma Mater Conimbrigensis e dirigir suma palavra de júbilo e uma saudação a todos os que - professores, alunos e funcionários - contribuem para engrandecer e manter viva uma herança tão rica e prestigiada, tanto em Portugal como no estrangeiro».
Em 9 de Agosto, data da bula do Papa Nicolau IV que confirmou a criação do «Estudo Geral», S. S. o Papa João Paulo II endereçou-me, como reitor da Universidade, uma cativante mensagem, onde se lê a dado passo: «Ao longo de sete séculos de existência, a Universidade de Coimbra vem prestando relevantes serviços à Nação com a promoção dos genuínos valores espirituais, culturais e científicos, com reflexos evidentes tanto no País como noutros territórios e continentes, em especial no Brasil e nas terras de África e do Oriente, onde junto com a cultura e a língua portuguesas se ia divulgando a luz do Evangelho e dilatando a cristandade.»
Também o Governo, através da resolução do Conselho de Ministros que instituiu a já mencionada Comissão Nacional para as celebrações do VII Centenário da Universidade de Coimbra, destacou o alcance e a importância de tais celebrações.
Foi, porém, a Assembleia da República que primeiro relevou o VII Centenário da Universidade de Coimbra, ao atribuir um importante subsídio para essas comemorações e ao aprovar, por tal efeméride, uma moção que muito nos sensibilizou e que me permito lembrar aqui. Nela se diz: «(...) a Assembleia da República renova o seu orgulho de, por unanimidade, ter criado o quadro político que permite às universidades portuguesas viver em regime de autonomia, reafirmando que não se demitirá do papel que constitucionalmente lhe cabe para que esta não seja meramente formal.
Reconhece o inestimável contributo que a Universidade de Coimbra tem vindo a dar para o desenvolvimento do saber em Portugal e afirma também a sua disposição de, com a Universidade de Coimbra, sonhar o futuro.»
Como princípios orientadores para esse futuro eu desejaria recordar aqui aqueles que os estatutos da Universidade de Coimbra, num dos seus preceitos, apontam, e se procurará que sejam letra viva e não retórica vã: «Depositária de um legado histórico sele vezes secular, na linha das tradições do humanismo europeu, a Universidade de Coimbra afirma a sua abertura ao mundo contemporâneo, à cooperação entre os povos e à interacção das culturas, no respeito pelos valores da independência, da tolerância e do diálogo, proclamados na Magna Carta das Universidades Europeias.»
Com a sessão solene em que hoje participamos, a Assembleia da República, em gesto de profundo e transcendente significado, congratula-se, e, por via dela, o País, pela passagem do VII Centenário da Universidade em Portugal, que a Universidade de Coimbra legitimamente encabeça.
Quero aqui, no termo da minha alocução, renovar a V. Ex.a, Sr. Presidente, Professor Vítor Crespo, que é, aliás, um muito ilustre doutor da nossa Casa, e a V. Ex.a, Srs. Deputados, bem como ao Governo, que à sessão se associou, a profunda gratidão da Universidade que represento - agradecimento que expresso como reitor e conformemente a um voto do senado universitário. Gratidão que advém igualmente, estou seguro disso, das universidades portuguesas em geral, porque a homenagem que hoje se consubstancia é, em último termo, para todas elas - para a Universidade Portuguesa, no seu todo. Universidade que se orgulha do seu passado e luta, afincadamente, no presente, para preparar e antecipar um melhor futuro.

Aplausos gerais, de pé.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Valente Fernandes.

O Sr. Valente Fernandes (Os Verdes): - Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados, Magníficos Reitores, Minhas Senhoras e Meus Senhores: A celebração dos grandes momentos da vida dos homens pressupõe revisitar a sua memória.
Há 700 anos institucionalizou-se em Portugal a globalização do saber, quando o despontar dos grandes centros urbanos na Europa fez germinar inovadoras congregações de mestres e discípulos, que, mantendo aceitação unânime da crença comum, se inseriram numa crescente vivência ecuménica do saber e criaram uma estruturação de novo tipo nas áreas do conhecimento. Abriram as suas classes aos que quisessem frequentá-las, assumiram, além da autonomia, a permanência do corpo de formadores, elegeram o primado da razão, da reflexão, o espírito de síntese. Frutificou a capacidade de formação integral dos seus membros e a preservação da cultura numa perspectiva humanista.
Magistério com visão unitária do saber, os Estudos Gerais materializaram a forma colectiva da determinação básica do homem para o conhecimento e tornaram possível que membros seus viessem a constituir poderosas alavancas das reformas da sociedade portuguesa durante os séculos XIV e XV. Então se revelou a vocação da Universidade para o relacionamento com o meio e a sua capacidade de intervenção na orgânica social.
A ampliação dos conhecimentos e o prestígio entretanto granjeado entre nós pelas ciências positivas contribuíram decisivamente para a epopeia que levou os Portugueses à busca e ao encontro de novas culturas, impelidos pela ânsia universalista, no período da história que, impropriamente, é designado por Descobrimentos.
Posteriormente, veio a irromper um criativo movimento na nossa Universidade, o qual somente não atingiu maior dimensão entre as congéneres europeias porque se vivia uma época em que no horizonte se erguiam figuras como Copérnico e Galileu.
Com Verney e o iluminismo a Universidade renasceu ao adoptar, no domínio da ciência, o método experimental e a prática da livre crítica e ao recusar o acolhimento de argumentos de autoridade. Tornou-se então o local