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14 DE NOVEMBRO DE 1990 303

privilegiado, gerador de fluxos de novas ideias pela interligação entre o ensino e a investigação científica, possível graças à nova estruturação e hierarquização dos conhecimentos.
Estes novos e promissores horizontes vieram a conduzir, inversamente, à progressiva perda de uma visão unitária do saber, da promoção da discussão relativa ao todo, com consequente definhamento da dimensão cultural da Universidade e portanto da sua capacidade de formar agentes de humanização.
Uma nova disciplina científica, a Ecologia, foi criada no final do século xá como ramo autónomo da Zoologia e na década de 30 a sua evolução permitiu configurar o conceito de ecossistema.
Durante o presente século o homem alargou as fronteiras do conhecimento e a eficiência das suas actividades a um nível tal que o progresso nos domínios social, científico e tecnológico permitiu significativos avanços na qualidade de vida de cada vez maior número de habitantes dos países industrializados. Sabemos que este processo veio, no entanto, a colocar problemas não previstos, que constituem grandes desafios à sociedade moderna, nomeadamente à sua inteligência.
Há meio século, António Sérgio como que profetizava, ao escrever no 1.º volume de Ensaios, que «os progressos da ciência não redundam por necessidade em progressos da razão». Com efeito, a nossa civilização industrial cria fontes de perturbação na capacidade homeostática da biosfera, ao desprezar as leis de reciclagem dos elementos numa taxa incompatível com a perenidade das biocenoses.
O objecto da ecologia, de início confinado ao estudo do mundo natural, tendeu, pois, a abarcar os múltiplos aspectos da interacção entre os homens e o ambiente. A ecologia, de ciência particular, constitui-se assim no grupo de ciências do ambiente, área que imbrica nos campos das ciências sociais e humanas. A nível epistemológico, assume mesmo um desafio conducente a novo modelo de unidade das ciências, modelo com carácter integrador, capaz de reflectir essa profunda unidade objectiva dos homens entre si e com os outros habitantes do planeta.
Esta evolução condicionou também o aparecimento, no início da década de 70, de uma consciência ecológica e portanto de nova dimensão social, exigindo novo tipo de rigor não só no conhecimento, mas também na praias política.
Este o contexto no qual a Universidade é solicitada a aprofundar o seu envolvimento e participação activa nos componentes cientifico, educacional e tecnológico do desenvolvimento e na dinâmica social.
O conhecimento e a educação tomaram-se um dos recursos fundamentais perante o futuro, pelo que a instituição universitária tende, pois, a representar um pólo crucial no desenvolvimento das comunidades. Estes objectivos não deverão, no entanto, torná-la menos disponível para os valores que a singularizaram: a interligação entre o ensino e a investigação fundamental, a capacidade de educação integral, pela reflexão criativa dos temas da ciência e da cultura. Não será com a introdução de uma cadeira de Ecologia, desinserida dos currículo, que se obterá este desiderato, mas antes com reflexão de carácter global humanista e ecologicamente empenhada.
A cooperação científica interdisciplinar, a esta luz, poderá retomar o impulso medievo, integrador, configurando-se como procura universalista da verdade, tão peculiar aos Estudos Gerais.
Tal como a Universidade Medieval se assumia no seu ecumenismo, também a instituição universitária dos nossos dias deve constituir-se em travejamento que suporte a procura de respostas para problemas globais da humanidade, assumindo uma visão do mundo que inspire frutuosa colaboração, de âmbito supranacional e sobretudo solidária, perante a necessidade de relacionar o homem com a sua acção e o seu destino.

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente:-Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Adriano Moreira.

O Sr. Adriano Moreira (CDS): - Sr. Presidente da Assembleia da República, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados, Srs. Reitores, Sr. Reitor da Universidade de Coimbra: Reunidos nesta Câmara para comemorar a fundação da Universidade, uma das raríssimas matérias que faz convergir todas as forças políticas para a unanimidade, por isso mesmo vem à lembrança a frase saudosa com que os antigos condiscípulos da Universidade de Paris, na Idade Média, se reencontravam e reconheciam: nos fuimus simul in Garlandia.
Notou Teófilo Braga, justamente para explicar a ligação profunda que guardavam os antigos escolares que vinham a encontrar-se em trincheiras cívicas opostas, que aquele facto apagava as distâncias entre o simples monge e o pontífice, entre o modesto advogado e o secretário de Estado, que o acaso um dia aproximara. Era, como lhe chamou, um parentesco espiritual, que fazia renascer a intimidade quando, ao fim de anos, se encontravam em Roma, em Jerusalém, mais tarde na índia ou nas Américas, os que tinham passado pela mesma experiência na mesma Universidade.
Mais notável é que na celebração concorre a vontade dos que passaram os anos da formação noutras áreas e aprendizagens, porque isso demonstra que a Universidade, sendo apenas a alma mater de alguns, se transformou no património de todos, preservado de geração em geração, e sem dependência da mudança dos tempos ou das vontades.
É uma verdadeira instituição, no sentido mais rigoroso e exigente do conceito, e, na sua versão ocidental, um dos modelos que foi implantado e sobreviveu no vasto mundo para onde a colonização expandiu as soberanias que bateram em retirada geral nesta segunda metade do século: as universidades americanas, como Harvard, tiveram a raiz nos colégios (1630), anteriores à Revolução; as universidades do Canadá, como a Lavai University (Quebeque, 1852) e a Université de Montreal (1876), tiveram por modelo Paris, Oxford, Edimburgo; na Ásia, o Governo Chinês fundou a Universidade Nacional de Pequim (1902) e o Japão fundou a Universidade Imperial de Tóquio (1877), com base nos modelos ocidentais.
Portugal não as instituiu no Brasil antes da separação dos reinos, em parte por causa de interesses corporativos, no sentido de reservar à Universidade metropolitana o privilégio de conceder os títulos máximos, mas ali se colou o grau de mestre, com grande cerimonial e prestígio.
De facto, logo o Padre Manuel da Nóbrega, chegado à baía de Todos-os-Santos em 29 de Março de 1549, definiu o ensino como a primeira prioridade, dedicando-lhe a inspirada energia, como diz o cronista, de «homem