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306 I SÉRIE - NÚMERO 11

Face à sua origem e aos seus sustentáculos pedagógicos e financeiros, teve, na fase inicial, uma componente marcadamente eclesiástica, abrindo-se progressivamente a candidatos leigos e a actividades profanas.
Dificuldades várias limitaram, durante muito tempo, a prossecução dos seus objectivos, já que não só não foi possível cativar a vinda de estudantes estrangeiros, como não se travou, de todo, o êxodo de estudantes nacionais para outras paragens, o que denuncia a existência de inúmeras limitações.
Não quer dizer que não tivesse a utilidade prometida, já que a preparação dos clérigos passou a ter outra qualidade para além da possibilidade de preparação mais adequada de advogados, notários e médicos, o que lhe confere um carácter crescentemente universalista.
Razões de carácter político-social foram transferindo, no período medieval, a Universidade de Lisboa para Coimbra e desta cidade para a capital, criando dificuldades acrescidas ao seu funcionamento e desenvolvimento.
Entretanto, à medida que a Universidade se afirmava, as Faculdades de Direito Civil e de Direito Canónico criavam sólidas raízes, assumindo papel mais relevante, a que se juntava, mais timidamente, a Faculdade de Medicina.
No século XIV assiste-se à afirmação da geometria, da astronomia, da aritmética e da música.
Na primeira metade do século XV verifica-se uma maior afluência de estudantes e as necessidades decorrentes dos Descobrimentos dão um especial incremento à matemática, na qual se incluía a astronomia, a que se junta a astrologia, que atingiu especial relevo durante o magistério de Pedro Nunes.
A actualização do ensino de outras matérias foi tentado, sem êxito, por D. João III através da fundação do Colégio das Artes, com a contribuição de humanistas portugueses formados em França.
Uma onda persecutória, que ciclicamente se vai repetindo, ora por motivos políticos, ora por motivos religiosos, vai afastando da Universidade vultos de indiscutível qualidade científica, com os evidentes prejuízos para a escola, para os estudantes e para a comunidade em geral.
A dialéctica entre a tentativa de renascimento do aristotelismo e a ciência e filosofia gravitada à volta de Copérnico e Galileu não evitou uma agonia evidente da Universidade, que na segunda metade do século XVIII foi alvo de forte contestação e de sucessivas denúncias.
Confirma-se esta perda de qualidade através da contratação de inúmeros técnicos estrangeiros, o que manifestamente evidencia o incumprimento pela Universidade das suas funções essenciais.
A publicação de O Verdadeiro Método de Estudar constitui uma pedrada no charco ao fazer a defesa de um ensinar experimental em confronto com a física aristotélica, aliado à denúncia do carácter arcaico do ensino da medicina.
Felizmente que as perspectivas expendidas pelos iluministas obtiveram eco na reforma pombalina, que produziu uma mudança radical da Universidade através de uma revisão da sua estrutura, criando-se um conjunto de seis Faculdades com novas cadeiras, dotadas de programas actualizados e servidas por professores devidamente preparados.
Assim se consagrou o método experimental, criando-se um laboratório químico, um jardim botânico e um observatório astronómico, entre outras instituições que possibilitaram um autêntico acompanhamento da ciência da época.
As Invasões Francesas e a guerra civil da primeira metade do século XIX atrasaram, de forma dramática, o desenvolvimento desejado e requerido. Apesar do estabelecimento da paz em 1834, face ao longo lapso de tempo perdido e às sequelas deixadas, não foi possível retomar o desenvolvimento iniciado anteriormente.
Quando todos os indicadores apontavam para o relançamento do processo iniciado, a Universidade enquistava-se à volta da defesa de privilégios arcaicos e decadentes, numa tentativa inconsequente de sobrevivência, apesar do esforço tenaz da geração de 70, que por meios vários procurou modificar a situação existente.
Novas escolas do ensino superior foram criadas pelo liberalismo, medidas essas que não foram bem acolhidas pela Universidade, que impediu ou demorou as iniciativas da criação de novos estabelecimentos de ensino superior, regressando ao ensino clássico quando, com origens várias, se reclamava um ensino actualizado, experimental e técnico para acompanhar o progresso evidente que se verificava e o espantoso projecto que se desenrolava em volta dos domínios do saber.
Infelizmente, as tentativas de vários políticos e jornalistas não obtiveram o eco desejado.
Os esforços de Passos Manuel e Costa Cabral em aplicar medidas revolucionárias nos planos e na legislação universitária não obtiveram os resultados desejados.
Os planos foram demasiado tímidos e de cunho marcadamente conservador e não permitiram a mudança radical que as universidades do País requeriam.
A existência de alguns professores e investigadores de indiscutível envergadura não foi suficiente para projectar a Universidade para os níveis então desejados. Somente a Faculdade de Direito, na qual se preparam as classes dirigentes do País, atinge um nível prestigiado.
Com o desenvolvimento do ensino superior no século XIX, produzido através da criação de uma academia politécnica, de escolas médico-cirúrgicas e de um curso superior de Letras, aliados a outras instituições culturais como os museus, as academias de arte e de letras e a Academia Real das Ciências, foi possível preparar um escol qualificado que contribuiu para dar ao País um lugar mais honroso no contexto das nações na segunda metade do século XIX e início do século XX.
Sr. Presidente, Ilustres Convidados, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados: Procurámos fazer uma abordagem sucinta à história da Universidade Portuguesa.
Se estamos, aqui e agora, a evocar os 700 anos da sua existência, não nos podemos quedar pela evocação estéril. É tempo e momento azado para repensar a Universidade do presente.
Universidade que é ainda espaço mitigado e limitado para as necessidades reais do País e para as compreensíveis e justas expectativas dos jovens.
O desenvolvimento e progresso do País, a sua afirmação na Europa comunitária, a paridade efectiva dos Portugueses e uma autêntica igualdade de oportunidades exigem um redimensionamento do nosso ensino superior.
A Universidade Portuguesa cresceu é dignificou-se sempre que soube interpretar as verdadeiras necessidades do País, colocando o seu saber e experiência ao serviço do desenvolvimento económico e social, antecipando-o em muitas situações, sendo, a este propósito, da maior justiça