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8 DE JUNHO DE 1991 2985

O Orador:-Mais, e esta é a diferença: tê-los-emos sempre, porque é uma tentação da natureza das coisas os políticos quererem influenciar os jornalistas e vice-versa. O vosso erro, pelos vistos o vosso vício permanente - e julguei que já se tinham libertado dele-, 6 a convicção que têm de que os senhores são os depositários das virtudes e os outros dos vícios.

O Sr. Manuel Moreira (PSD): - Muito bem!

O Orador: - E uma vez que os depositários das virtudes, mercê de «grande reflexão» - ela própria virtuosa -, reconheceram os seus «pecados», isso é garantia das virtudes futuras.

Portanto, repito, o vosso vício é este: a mania que tom de que não se enganam!... Este é o vosso grande erro e o vosso grande «pecado»!...

O Sr. Alberto Martins (PS): - Pecado?!

O Orador: - Por isso - meu Deus! - se os senhores voltassem a poder interferir nos órgãos de comunicação social,...

Vozes do PSD: - Ohhhhh!!!...

O Orador: -... o que não aconteceria!...

Aplausos do PSD.

Mas, Sr. Deputado Alberto Arons de Carvalho...

O Sr. António Guterres (PS): - Está baralhado! Devia estar a falar com o Sottomayor Cárdia.

O Orador: - Sim, digo Sr. Deputado Alberto Arons de Carvalho, colega do Sr. Deputado Sottomayor Cárdia, e sei que há grandes divergências entre os dois. pois sou um político atento e um cidadão que segue os acontecimentos...

Como estava a dizer, Sr. Deputado Alberto Arons de Carvalho, quando confunde infantilismo com frontalidade, infantilismo com a rejeição da hipocrisia, da própria hipocrisia tendência! da vida política, o senhor, pelos vistos, qualquer dia está outra vez no ex-Secretariado...

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: - Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Nogueira de Brito.

O Sr. Nogueira de Brito (CDS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Em primeiro lugar, convirá, talvez, esclarecer que peço esclarecimentos ao Sr. Deputado Alberto Arons de Carvalho,...

Risos do PSD.

...porque, V. Ex.ª, Sr. Presidente, terá de admitir que o Sr. Deputado José Silva Marques, autor das recentes alterações ao Regimento da Assembleia da República, conseguiu hoje praticar aqui a figura do «abuso do direito» e utilizou as alterações regimentais em benéfico próprio, estabelecendo uma confusão, nos diálogos cruzados, de que, espero, nos libertemos agora.

De qualquer forma, também não vou à tribuna e, pelo menos, espero ser filmado de perfil,...

Risos gerais.

...porque não colaboro nesta crítica implícita e menor que o PSD hoje decidiu fazer aos serviços técnicos da televisão!...

O Sr. Luís Filipe Meneses Lopes (PSD): - O grande mentor dessa crítica é o Deputado Carlos Brito.

O Orador: - Bom, na verdade, não podemos perder-nos em críticas menores, quando estamos apostados em discutir seriamente o problema da informação e em fazer críticas sérias e fundamentadas. Aliás, por falar em críticas, isto hoje foi uma autêntica «maré de autocrítica»: o Sr. Deputado Alberto Arons de Carvalho admitiu que o governo do bloco central, e, portanto, do PS, interferiu escandalosamente na televisão...

Risos do PSD.

...e o Sr. Deputado José Silva Marques criticou aqueles que nunca se enganam e raramente têm dúvidas...

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - Portanto, estamos em «maré de autocrítica». Espero, pois, Sr. Deputado José Silva Marques, que a sua palavra chegue aos ouvidos do Sr. Primeiro-Ministro.

O Sr. Manuel Moreira (PSD): - E também do Sr. Presidente da República!

O Orador: - Sr. Deputado Alberto Arons de Carvalho, em relação à sua intervenção quero registar, em primeiro lugar, a preocupação que V. Ex.ª manifestou quanto à concentração das empresas de comunicação social.

Na minha opinião, é bom que o Sr. Deputado manifeste aqui essa sua preocupação, tanto mais que o seu partido nem sempre comungou dela - especialmente quando a concentração se fazia mas mãos do Estado - e uma vez que estamos hoje confrontados com a perversidade da concentração dos meios de comunicação social nas mãos do Estado, designadamente da televisão.

De qualquer forma, repito, é bom que o seu partido, que é influente e importante e que tem tido, nesta matéria, influência e importância, venha aqui reconhecê-lo.

Mas reconheço também, Sr. Deputado Alberto Arons de Carvalho, que a sua principal preocupação foi quanto a uma concentração em mãos privadas que está, porventura, a desenhar-se. V. Ex.ª explicou os benefícios económicos da concentração, as vantagens da economia de escala, da concentração de meios produtivos e devo dizer-lhe que, com o zelo de «cristão-novo» nessa matéria, V. Ex.ª foi convincente e muito bom!

Contudo, gostaria que me esclarecesse sobre o seguinte: o que é que o leva porque isso é importante e é um aspecto relevante da mensagem do Sr. Presidente da República, face aos dados concretos conhecidos-a suspeitar de que há uma concentração em marcha e de que essa tem, porventura, um objectivo político? É porque, Sr. Deputado Alberto Arons de Carvalho, será importante que hoje nos possamos deter sobre esse tema um pouco mais.

Assim, pergunto-lhe: o que é que, daquilo que é do seu conhecimento, o leva a suspeitar que há uma concentração em marcha e que ela tem disfarçadamente um objectivo político?