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3160 I SÉRIE -NÚMERO 94

colectiva e na inovação, pela festa ou pela animação, em vez dos galantes cerimoniais, o rosto do que somos, concentram-se verbas e energias nos empreendimentos não reprodutivos, de mero lustre e pura circunstância, com eles se visando a promoção de governantes, a manipulação da opinião pública - sistematicamente atraída para a sagração de um fontismo desiluminado - e, portanto, a serventualização da cultura a desideratos que lhe permanecem alheios.

Vozes do PCP: - Muito bem!

O Orador: - Segundo: a aposta no regresso de concepções decorativistas, ornamentais, que encontraram arautos nos idos da ditadura e se vêm impantes entre destroços, estribadas num fraseado inconsistente que tudo deseja entregue aos mecanismos da sociedade civil, mas pulverizando até a tese do Estado supletivo (tão cara a certo liberalismo de torna-viagem!), se exalta com o custear de espaventos e realizações que não deixam raiz.
Já aqui o lembrámos, aquém e para lá do Centro Cultural de Belém, a propósito de certos festivais e feiras internacionais, bem como, sintomaticamente, do negócio que se oculta, em proveito da Deutsche Gramophon, com a subida à cena, no São Carlos, do Rapto do Serralho, de Mozart. Contra o enraizamento de uma orquestra residente, de uma oficina músico-teatral, um corpo de bailado, um coro, capazes de dar expressão ao nosso calado espólio lírico, sem enjeitar quaisquer compositores não nacionais ou adequados regimes de intercâmbio com o estrangeiro, prefere-se o efémero fausto de representações que não frutificarão. É a ideia do Portugal-apeadeiro da itinerância dos grandes espectáculos, não raro de dúbia qualidade, que fazem o deleite dos públicos de Londres ou Nova Iorque, Roma ou Paris. Um apeadeiro com salões otomanos, requintes de novo-riquismo e traços de um kitsh degradante, mandadas erigir de costas para o imperativo da descentralização. Um apeadeiro de explosivos e intoleráveis contrastes: com laivos de Broadway e Las Vegas, rodeado de um imenso Bronx de injustiças e precariedades...
O Tio Sam, Sr. Secretário de Estado, é pior do que o John Bull, de Ramalho Ortigão, e - esteja disso certo! - mau modelo para quem tanta criatividade autêntica prodigaliza, despotenciada à revelia de uma política não tecida de equilíbrios e rasgos, moldada no pragmatismo de vistas curtas ou na olhadela furtiva a copiar o parceiro que se diz ser melhor.
Terceiro: o privilégio do centralismo, umbilicado a uma visão dirigista e discriminatória, tanto no que se liga à prestação de apoios financeiro-técnicos como no que resulta da completa inexistência de circuitos de distribuição e do voluntário garroteamento das propostas locais.
O Governo inflama o verbo enfatizando as virtualidades e demonstrações das autarquias, descobre nelas a árvore das patacas para o seu indevido lavar de mãos na resposta a quem o solicita com legitimidade, mas, de facto, busca tão-só sobrecarregá-las de ónus sem as alimentar, no entalhe orçamental, com dotações mínimas que as ajudem a enfrentar os crescentes encargos. Dito de outro modo: não cumprindo o que, inequivocamente, lhe compete, endossa os agentes culturais para entidades que, porque se acham exauridas, não podem - mesmo que organicamente não devam mas queiram- atalhar ao mundo complexo das carências rastreadas. Este pilatismo de má e triste catadura não exuma os dados que gritam: por um lado, o dinamismo de certas réplicas -de que o CDIAG é exemplo a reter! -, contingentes numa moldura iníqua de insuficiências; por outro, operando um salto sinalizatório significativo, a lastima dos 11 000 contos com que a Direcção-Geral da Acção Cultural, ente mal-amado dos sucessivos titulares do cargo que o Dr. Santana Lopes entretanto exoma, terá de atender às 15 000 colectividades espalhadas por este rectângulo ocidental da Ibéria...
Descentralizar é, na boca volúvel da maioria, um logro. Serve, porventura, campanhas de panegírico pessoal; falha, contudo, dia após dia, nesse intérmino mapa dos apelos sem eco em que se transformaram as comunidades que vivem fora dos escassíssimos núcleos urbanos não de todo à míngua do elementar.
Pensemos na reacção de quantos, em Vila Real, Monchique ou Lamego, tele-observando o infeliz anúncio que proclamava a morte do teatro se o cidadão desafiado não decidisse uma quebra dos seus hábitos, se dispunham a assistir, para início de um outro percurso de tempos livres, a uma qualquer peça em cartaz. Perguntar-se-iam: onde vamos esta noite? Dissesse-lhes, Sr. Secretário de Estado, que não poderiam ir a sala alguma, porque o senhor não subsidia -e muito menos fomenta- os agrupamentos amadores, porque serão pouco mais de meia dúzia os profissionais, convivendo quotidianamente com a penúria e a insegurança, em litígio aberto ou mudo consigo. Dissesse-lhes que o filme, atravessado de um salvacionismo miserabilista, veiculava, sobretudo, o alçapremar da sua imagem e, num singelo ludíbrio, convencer o eleitor de que se aproximavam os tais Anos de Projecção de que fala um seu documento que, de permeio com úteis e justas proposições, se inçou de demagogia e erro, persistindo, em larga percentagem, por executar!
Quarta linha de força da actuação da SEC: um pendor endógeno para a delapidação ou erradicação do diálogo, para a fuga ao controlo parlamentar -como aconteceu no processo que ratificou o acordo ortográfico! -, para o acto administrativo sustentado contra todas as vozes discordantes, num complexo de ilha, de reduto fortificado e hostil, que não é compatível com a linfa que circula nos organismos vivos do sector. O Secretário de Estado mora na permanente convulsão institucionalizada, está em conflito com o universo em que se move. Sobra-lhe em atritividade o que lhe foge nos domínios do razoável, do senso das relações fecundas na diferença ou no confronto de opiniões. A pequena história, fornida com uma cadeia rocambolesca de episódios, dos seus critérios de nomeação e desnomeação, das demissões que se sucedem, das comissões de aconselhamento ou desfulanização decisória, que esquece ou amesquinha -como aconteceu com a CNALP e, entre vários, com o júri do IPC -, é a cabal denúncia de um estilo intolerante e monótonal, bem ao gosto do Ministério que o Professor Cavaco Silva lidera.
Quinta orientação-matriz: o divórcio com as novas temáticas - as do audiovisual (para além, entenda-se, da sua instrumentalização a escopos propangandísticos); as que emergem do despertar contra a indiferença e a sucessocracia desenfreada; o estudo dos direitos da terceira geração, cada vez mais prementes, numa época que exonerou a solidariedade e o humanismo; as artes «enjeitadas», como a fotografia, a culinária ou a moda; a ante-posição enformativa da cultura à gestão dos departamentos estaduais. Não concebemos o desenvolvimento despojado de uma transversal e profunda componente cultural nem esta confundida num charro negocismo, no primado do