O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

2652 I SÉRIE - NÚMERO 83

As Vacas loucas, os protesto dos estudantes e dos agricultores, a responsabilidade da administração do Hospital de Évora do Ministro no trágico caso da morte dos hemodialisados, o desemprego, as estatísticas, a crise, enfim, na retórica do PSD são irreais.
A realidade é aquilo que se fabrica na direcção do Grupo Parlamentar do PSD ou no Gabinete do Primeiro-Ministro.
A argumentação do PSD na Comissão é, aliás típica: a crise não é assim tão grande o desemprego resolve-se com investimento, o Ministro está a ministeriar, logo os Deputados não precisam deputar, e, argumento dos argumentos, não convém sequer discutir em Plenário as medidas de apoio aos desempregados, porque isso teria efeitos psicológicos negativos que agravariam a situação.
Qualquer avestruz não faria melhor!
O Deputado Duarte Lima disse que faço oposição pela oposição, sem alternativa. Agende-se, então, o meu projecto de resolução!
O Deputado Pacheco Pereira insurge-se nos jornais contra a «subordinação da opinião pública a uma mera lógica de oportunidade que empobrece a vida pública e a democracia», que varre tudo o que é complexidade e nuance de posições sendo os que as têm os primeiros a ir «pela borda-fora», assistindo-se, assim à superficialização da vida pública! Que bonito! Agende-se, então, o meu projecto de resolução.
Mas não! Afinal o PSD quer que se pense que ele é a sua própria alternativa e que, sendo as diferenças vitalizadoras da democracia, mais vale desvitalizá-la.
À realidade prefere a ficção, este PSD que ameaça entrar em órbita em torno de si próprio. E, contudo, ela, a Terra, a vida, move-se e não há inquisição que a
aguente!

A Sr.ª Presidente (Leonor Beleza): - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Carlos.

O Sr. Carlos Lélis (PSD): Sr.ª Presidente, é para um protesto!
Srs. Deputados, é para um apelo ou um aviso!
Ontem, em todos os canais e noticiários da televisão passou a crónica de uma ocupação selvagem anunciada na rádio também, mas com mais depoimentos e muitas vozes de fundo, nos jornais de hoje há colunas que chegam e bastam, entre as outras notícias e outros males do mundo.
Alguma coisa vai mal e não será no reino da Dinamarca. Aqui mesmo, na Reitoria da Universidade de Lisboa, ao Campo Grande, um grupo de mais ou menos 200 estudantes deu largas, deu vazão ao que chamaram «mais uma forma de luta contra a lei das propinas». E fizeram-no - deduz-se - com ostensiva assunção de que tinham o direito, a moral, a razão e todo o saber do mundo a favor desse activismo.
A universidade é dos estudantes? De acordo mas em sentido restrito, porque a universidade portuguesa é uma criação com cerca de 700 anos. A universidade é um dos alicerces institucionais deste nosso país de séculos e num
Estado de direito à democracia tem como referência as suas instituições.
Por maior que seja a crise do sector educação, por mais dividas que esteja as vontades políticas por mais que assista aos estudantes os valores da inquietação e da irreverência, por mais que tenhamos dito amén, pacificamente ou por omissão, a tudo isso, Sr.ª Presidente e Srs. Deputados, há patamares, há limites, há encenações, há palavras e obras que não podem ser deixadas nem passadas para a opinião pública como coisa corrente, divertida ou até justa.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - É preciso dizer - e esta Casa tem uma palavra a dizer sobre isso, mesmo sem se ingeri nas associações de estudantes que querem agarrar a vida com ambas as mãos - que por aí não, que não podem ir por aí, que o presente não passa por aí e que o futuro também não Aliás, já alguns outros estudantes, mais ou menos 200, disseram «não, assim não» aos seus companheiros, com a autoridade que lhes cabe de serem também parte das associações (acho que sete) envolvidas na manifestação de ontem.
O incidente do Centro Cultural de Belém não estava «perdoado», não estava esquecido, mas já tinha saído da ordem do dia. Com o juízo do tempo daquele fait divers no CCB, até já se comentavam várias coisas, a saber por exemplo, que o despropósito da atitude dos então quatro ou cinco estudantes tinha mesmo marcado uma viragem da opinião pública a favor da 5 de Outubro.
Mas essa viragem era um efeito a contrário, contra natura, uma ajuda que, salvo seja, se dispensa. Pelos graves incidentes pela desordem de ontem, é de julgar que aquele gesto não for semente mas que o «mau gosto pegou de galho».
Srs. Deputados, é preciso que outras vozes, outras bancadas digam «não, não vamos por aí, assim não». E eu até acredito que do erro cívico, estratégico, social, se não aperceberam esses tais estudantes, que, numa ilusão de uma apregoada coragem intelectual, deram a cara sem fuga, deram os nomes sem gaguejar, deram entrevistas sem procuração.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador:- Um dos argumentos chave que lhes ouvi pela televisão foi o de que «é óbvio, é óbvio». Ora óbvio -santa paciência! - é que não é. E para demonstrar que não o é, para evitar outras escaladas porque temos um mandato de responsabilidades dentro e fora desta Casa é preciso, é urgente que uma justa indignação generalizada faça ter mão nos motins de Estudantes deste figurino sem classe. Não propomos não queremos nem inquéritos nem processos disciplinares. A autoridade universitária existe como esteio da sua autonomia. Mas que sejam os próprios «agitadores» - e ponho aqui aspas mas não «panos quentes» - que sejam esses próprios estudantes a sentir que estão a marginalizar-se da opinião