3084 I SÉRIE - NÚMERO 93
cia do esforço de desenvolvimento que tencionamos levar a cabo, mas fora dele ficam muitos outros investimentos e muitas iniciativas que se hão-de articular entre si, aproveitando o impulso que ele há-de dar à economia e à sociedade portuguesas para progredirmos a ritmo mais dinâmico, fazendo-nos aproximar dos níveis de prosperidade de que já usufruem os países mais desenvolvidos da Comunidade.
O conjunto de documentos que elaborámos tem como título Preparar Portugal para o Século XXI. Os meios que nos vêm da Comunidade são, assim, para nos ajudar a construir um futuro mais próspero e mais robusto nas suas capacidades de
auto-sustentação. É muito difícil, em meia dúzia de anos, recuperar desfasamentos que foram cavados ao longo de décadas e fazer renascer oportunidades que passaram. Mas temos de agarrar todas as que se apresentarem de novo e devemos, mesmo, forçar o destino, através de um empenhamento da vontade e da convergência das acções de todos os portugueses, que têm de se sentir mobilizados para a concretização de uma tarefa comum e não, como tantas vezes sucedeu ao longo da nossa História, teimarem em acentuar o que os divide na formulação da ideia que têm acerca do País ou, de modo ainda menos respeitável, cavarem fracturas artificiais que representam brechas de que só os outros beneficiam. Temos de desmentir a ideia, que se instalou em Portugal, de que tudo está organizado para contrariar. A cooperação é indispensável, não havendo nada que melhor assegure a eficácia do que a convergência de esforços daqueles que podem trazer algo de positivo à resolução dos problemas que temos de resolver.
Quem é capaz de desenvolver Portugal são os portugueses! Somos nós que temos de nos desenvolver. O esforço principal terá, assim, de ser concebido e concretizado por nós, numa manifestação de coesão, de confiança e de determinação, de que já demos mostras nos nossos melhores momentos, quando conseguimos agregar o dinamismo de muitos e induzir o entusiasmo de todos.
As ajudas comunitárias são ajudas que, só por si, não fazem mover nada, se houver resistências ou vacilações. Elas representam apenas um fermento. Tudo depende, afinal, da energia e da vontade dos portugueses.
A proposta de Plano de Desenvolvimento Regional que elaborámos tem quatro grandes objectivos específicos: primeiro, a qualificação dos recursos humanos e o emprego; segundo, o reforço dos factores de competitividade da economia portuguesa; terceiro, a promoção da qualidade de vida e da coesão social; quarto, o fortalecimento da base económica regional.
O futuro dos portugueses, a médio prazo, está ligado à sua educação de base, à formação que conseguirem para enfrentar a vida e ao modo como a actualizarem em permanência, o que depende muito da sua capacidade inicial para aprenderem a aprender e à importância que atribuírem à aquisição de novos conhecimentos. Uma acção virada para o reforço da educação só dá frutos seguros na geração seguinte, mas pode conceber-se um conjunto de actuações dirigido a todos os estratos etários que coexistem, em dado momento, por via da diversificação dos tipos de formação. Neste domínio, a questão principal está em exigir a educação como instrumento fundamental para a realização pessoal de cada um e para o seu encaixe na vida activa, fazendo com que todos alcancem o máximo que as suas capacidades consentirem. Isso terá como consequência uma alteração radical das condições de modernização do nosso tecido produtivo e das próprias condições de vida da colectividade.
A este respeito, é preciso investir em escolas, construindo algumas nos locais em que há excesso de procura e melhorando todas, nomeadamente através da sua dotação com laboratórios e oficinas, forçando a ligação dos estabelecimentos de ensino ao mundo exterior, melhorando simultaneamente a capacidade de aprender e o saber-fazer, que têm de andar a par para se atingir uma formação equilibrada e versátil.
No domínio imaterial, impõe-se uma ampla acção de formação dos formadores. A desactualização em termos de conhecimentos, o facto de muitos dos docentes terem ido para a carreira do ensino como solução profissional de recurso, a ausência de formação pedagógica de muitos dos professores, em suma, todos estes factores, em conjunto, fazem com que se deva dar prioridade à sua formação. Ensinar a ensinar constitui, assim, um imperativo para se poder concretizar, em bons termos, a ambição da elevação do nível de educação e de formação dos portugueses, particularmente dos jovens.
Uma educação de base sólida permite a realização de muitas ambições, mas tem de haver uma formação profissional adequada para facilitar a entrada na vida activa ou para reconverter as capacidades de quem se vê na obrigação de mudar de tipo de actividade. Para assegurarmos a competitividade do que produzimos, os empregos têm de ser cada vez mais qualificados. A par de uma grande versatilidade deve haver também uma especialização que garanta que fazemos as coisas com qualidade e a preços mais interessantes do que as dos nossos potenciais concorrentes. Temos, por isso, de assegurar aos que trabalham os mais altos níveis de formação profissional, a qualquer nível e em todos os sectores.
Ligada com o reforço da educação e da formação está a apetência pela aquisição de novos conhecimentos. Portugal não é ainda um país que valorize sistematicamente a ciência e a tecnologia. Não há uma cultura científica e tecnológica generalizada, nem há, na classe empresarial, um sentimento de confiança na classe dos investigadores que faça com que a primeira recorra sistematicamente à segunda e que esta procure valorizar, através da primeira, os resultados do que vai descobrindo.
Ora, a inovação de que necessitamos em todos os ramos só se pode alcançar através da incorporação de novos conhecimentos e de novas atitudes, o que tem muito a ver com a confiança que se deposita naqueles que fazem avançar as fronteiras da ciência, da tecnologia e da aplicação prática dos seus resultados.
O reforço dos factores de competitividade da economia passa por acções que têm a ver com as «externai idades», tão caras aos empresárias e tão determinantes da possibilidade de harmonização do País, em termos de desenvolvimento, e por outras que se dirigem directamente à modernização do tecido económico, através de ajustamentos estruturais, da melhoria das condições de competitividade de cada unidade e da diversificação das actividades que têm de se orientar para os muitos «nichos» em que podemos usufruir de vantagens comparativas, se as procurarmos com afinco e as mantivermos através de um esforço tenaz e consistente de inovação permanente.
Em matéria de infra-estruturas, temos de completar a malha dos itinerários principais que estruturam o País e permitem colocá-lo mais próximo de si próprio e também - pelo menos é o que queremos - dos mercados para onde exportamos. Por isso, a rede dos eixos transeuropeus mereceu uma atenção especial na formulação da nossa proposta e a articulação intermodal, particularmente entre os transportes marítimos, os rodoviários e os ferroviários, ocupa uma posição de relevo nas nossas preocupações.
Os sectores tradicionais não podem desaparecer; têm de se modernizar, especializando-se nas altas gamas que ga-