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654 I SÉRIE - NÚMERO 19

Daí que não caiba na nossa intervenção fazer o confronto de dados que merecem uma análise e uma apreciação qualitativa.
No entanto, queremos deixar aqui cinco notas relativas à apreciação destes resultados eleitorais, que nos parecem iniludíveis.
A primeira é, naturalmente, a de assinalar a grande derrota do PSD. Este partido, apesar de absorver grande parte do eleitorado que deixou o CDS, sofreu uma significativa derrota, que se manifesta no litoral e, em particular, nos grandes centros urbanos.
Sr. Presidente e Srs. Deputados, em nosso entender, e numa primeira análise desta significativa derrota, o PSD é a primeira vítima da política que tem desencadeado neste país. São os cidadãos que são obrigados a deixar as zonas do interior e a vir pari o litoral e, em particular, para os grandes centros urbanos que se sentem mais inseguros, porque é aqui que a situação de emprego é cada vez mais precária e que a situação social e económica está cada vez mais agravada. Os resultados eleitorais penalizam principalmente a política que o PSD A segunda tem a ver com a afirmação da força da CDU, tanto no que se refere aos resultados que alcançou em 1989, como no que se refere à sua grande vitória na Área Metropolitana de Lisboa, onde, apesar das investidas que o Partido Socialista fez para derrubar as presidências da CDU, os resultados demonstraram que o prestígio da gestão dos nossos autarcas é reconhecido e reforçado, afirmando-se como a grande força de liderança desta Área. A terceira, Sr. Presidente e Srs. Deputados, vai, como é natural, para o reforço da voz ecologista no poder local.
Os ecologistas do Parido Os Verdes reforçaram a sua participação nos órgãos ao aumento do número do poder local, não só em relação de eleitos mas também ao acréscimo de responsabilidade; nos órgãos municipais.
A quarta tem a ver com os resultados da Coligação «Por Lisboa», que revelam o reconhecimento dos lisboetas da validade do trabalho e da transformação iniciados em 1989 e do projecto de convergência política que lhe deu corpo e sentido e que, agora, importa aprofundar.
Esta é, em nosso entender, uma experiência que está a dar frutos e que se poderia, multiplicar e projectar no futuro, com benefícios para os portugueses, para o País e para o nosso quotidiano colectivo.

O Sr. Joel Hasse Ferreira (PS): - Mesmo quando o PS sair, Os Verdes ficam
sozinhos na CDU!

O Orador: - Finalmente, Sr. Presidente e Srs. Deputados, o Partido Ecologista Os Verdes quer deixar aqui uma saudação a todos os eleitos no dia 12 de Dezembro, que se disponibilizaram e, estes quatro anos, as cometidas pelos portugueses. Daí a nossa saudação.

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, o Sr. Deputado Mário Tomé requereu, ao abrigo do n.º 3 do artigo 72º do Regimento, para usar da palavra.
Nos termos do referido artigo, como Deputado independente, dispõe de 15 minutos
por sessão legislativa, mas, como já utilizou quase 10, ainda dispõe de tempo.
Tem, pois, a palavra O Sr. Mário Tomé para uma intervenção, finda a qual encerraremos o período de antes da ordem do dia.

O Sr. Mário Tomé(Indep.): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Os resultados das eleições autárquicas do passado Domingo, dia 12, traduziram-se, com toda a simplicidade dos números, numa substancial vitória da esquerda.
Mais: verifica-se que a esquerda é maioritária em votos nacionais, em número de autarquias e mesmo nas intenções de voto para as legislativas.
A direita - PSD e CDS - foi derrotada em toda a linha e o PSD não atingiu o seu grande objectivo para estas eleições, que era obter a maioria das câmaras, quer elas fossem de municípios com 10 000 eleitores quer de municípios com 200 000.
O PSD perdeu ainda nos principais centros urbanos e câmaras de marca como Sintra e Cascais.
Esta derrota do PSD e do Governo confirma, nas umas, o descontentamento social e reflecte o protesto generalizado dos mais variados sectores, que se tem feito sentir em lutas, paralisações e manifestações.
A repercussão nacional destas eleições autárquicas era evidente, mas o Primeiro-Ministro não quis deixar de o sublinhar ao ter participado directamente na campanha, nomeadamente fazendo uma remodelação ministerial à boca das umas, aliás sem resultado.
O Primeiro-Ministro, ao socorrer-se de sondagens como tábua de salvação para a derrota insofismável, reconhece, nos resultados das mesmas, que o PSD perdeu a maioria e que há crescente isolamento do seu Governo.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Estas eleições ditaram a falência da tentativa geral de bipolarização da vida política do País, e isso graças aos resultados da CDU, que são, de facto, uma vitória. Uma vitória que saudamos, porque tem grande importância para a esquerda em geral e para o prosseguimento da luta contra o Governo.
A vitória do PS é também de grande importância para a esquerda, mas tanto este partido como o seu secretário-geral têm a responsabilidade de não terem aceite as propostas de unidade em mais municípios, não permitindo, assim, que a derrota do PSD fosse ainda mais flagrante.
Há que tirar as devidas ilações dos resultados e da vontade do eleitorado: para derrotar o PSD não há apenas uma esquerda, há mais.
A sua eficácia potencia-se na unidade, como foi o exemplo da Coligação «Com Lisboa», cuja magnífica vitória saúdo, bem como o Dr. Jorge Sampaio, presidente reeleito com todo o mérito.
A UDP, que concorreu de forma diversificada para potenciar a unidade contra o PSD e eleger o maior número de candidatos, teve resultados positivos; obteve mais 20 % de autarcas e deu um sério e reconhecido contributo para os bons resultados das listas em que participou em unidade.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Estão criadas melhores condições de luta social pela melhoria das condições do país e de luta mais geral pelo fim do cavaquismo.
Mas o que é o cavaquismo? O cavaquismo é, por exemplo, levar a irresponsabilidade política até ao ridículo, como argumento de poder; é ser obrigado a reconhecer o voto penalizador pela situação a que o Governo conduziu o País e tirar a conclusão de que o voto é contra a crise e não contra o Governo - em vez de sair, acha que deve continuar; é, perante a derrota eleitoral, articular a seguinte sequência épica: Fernando Nogueira - «resultados razoáveis», Cavaco Silva - «ninguém ganhou nem perdeu, Nunes Liberato - «não queremos ser triunfalistas».
O cavaquismo é, pois, um desastre para o País e até já para os próprios cavaquistas.
O eleitorado disse de sua justiça: o cavaquismo está à porta da rua.