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1978 I SÉRIE - NÚMERO 60

produzido sobre a vida de portugueses, com aqueles que empenharam a sua própria vida na libertação deste povo, é, de facto, querer pôr em causa aquilo que foi a razão do viver de muitos portugueses.
E fazer isto, quando comemoramos o 20.º aniversário do 25 de Abril, quando os jovens de hoje, que têm 20 anos, praticamente nada sabem sobre o fascismo - ao longo destes 20 anos, muito pouco se fez para esclarecer os jovens sobre o que foi o regime fascista em Portugal, escondendo-se até qual o papel que a PIDE desempenhava -, trazer aos órgãos da comunicação social, à televisão, esta possibilidade de pôr em causa as próprias razões do 25 de Abril, significa também pôr em causa o facto de estarmos hoje aqui, neste Parlamento, para onde fomos eleitos, por vontade expressa do povo português. É isso também que está em causa, porque antes do 25 de Abril não era a mesma representação que aqui estava, era outra que estava ao serviço desse regime, que o sustentava, e tinha como «ponta de lança» a PIDE!
Sr. Presidente, Srs. Deputados, nós pensamos que é necessário que seja escrita a história do fascismo e da PIDE. Para isso, pensamos que é fundamental que sejam abertos os arquivos da PIDE porque, quando estiverem ao alcance daqueles que pretendam informar-se melhor sobre qual foi o passado da polícia política em Portugal, certamente que os jovens portugueses e as gerações futuras deste país conhecerão melhor e terão mais argumentos para jamais desconsiderarem ou porem em causa os valores da democracia e da liberdade em Portugal.
Sr. Deputado Manuel Alegre, por todas estas razões e por tudo aquilo que foi dito e que faltou dizer, penso que haverá lugar nos órgãos de comunicação social para que esta pedagogia seja feita, para além das escolas portuguesas. Reitero que nos associamos à sua intervenção e manifestamos a nossa indignação e protesto pelo facto de os «pides», aqueles que foram os carrascos dos portugueses, poderem vir à televisão e confrontar os seus pontos de vista com aqueles que sofreram na carne as mazelas que essa polícia política impôs sobre aqueles que lutaram pela democracia e pelo desenvolvimento deste país em liberdade.

0 Sr. Presidente (Adriano Moreira): - Tem a palavra o Sr. Deputado Narana Coissoró.

0 Sr. Narana Coissoró (CDS-PP): - Sr. Deputado Manuel Alegre, em primeiro lugar, quero apoiar, em nome do meu grupo parlamentar, as suas palavras de indignação e de revolta não só contra o espectáculo deprimente que a SIC deu ao País mas contra a própria instituição que o tal Cardoso representou perante todo o povo português.
Julga-se, geralmente, que a direita está associada à PIDE e faz-se todo o possível para que, nos debates onde aparece a PIDE, esteja presente directa ou indirectamente o PCP e não esteja presente qualquer representante da direita democrática. Porque é verdade também - e o Sr. Deputado Manuel Alegre sabe - que as vítimas da PIDE não foram apenas os comunistas, não foi apenas a esquerda, mas foram todos os democratas mesmo quando pertenciam à direita. E nesta bancada estão dois! Dois Deputados que estiveram presos no Aljube, foram saneados dos lugares conquistados por concursos públicos e por mérito, conhecem os métodos utilizados pela PIDE!

Aplausos dos Deputados do PS Manuel Alegre e Raúl Rêgo e do Deputado do PSD Álvaro Viegas.

Não fazemos gala disso porque também não perseguimos ninguém depois do 25 de Abril, continuando a ser de direita!
Trago aqui à colação o seguinte: que autoridade moral têm aqueles que se solidarizaram com o KGB e com a então alardeada batalha dos saneamentos, que dizimaram faculdades e institutos inteiros, como o meu, e que deram cabo da biblioteca mais preciosa de Portugal sobre os assuntos ultramarinos? Hoje, Angola, Moçambique, Guiné, S. Tomé e Príncipe e Cabo Verde procuram livros preciosíssimos sobre a sua própria história e problemas como os da saúde, agronomia, economia etc. e não os encontram porque o Partido Comunista Português, depois do 25 de Abril, foi ao meu instituto, roubou-os, trouxe-os para a Rua da Junqueira e incendiou-os, como nos tempos da inquisição, dizendo que eram propaganda colonialista.

Vozes do PSD: - Muito bem!

0 Orador: - Que autoridade moral têm aqueles que expulsaram todos os professores das Faculdades de Direito de Lisboa e de Coimbra, como o ilustre Mestre Braga da Cruz, que prenderam e mandaram pessoas para Caxias, que nunca se revoltaram contra mandados de captura assinados em branco, que nunca tiveram uma palavra a favor da liberdade dos perseguidos e que hoje vêm aqui fazer de conta que estão indignados por causa da liberdade?

0 Sr. Lino de Carvalho (PCP): - 15so é mentira!

0 Orador: - Onde está a liberdade? Ou será que para esses a sua violação é boa quando se trata do KGB e má quando se trata da PIDE/DGS?

Vozes do PSD: - Muito bem'

0 Orador: - Nós, nesta bancada, somos contra a PIDE e alguns fomos vítimas dela. 0 Presidente que hoje está sentado a dirigir os trabalhos e eu próprio fomos vítimas. Fui saneado por Marcelo Caetano. 0 Professor Adriano Moreira foi saneado pelos comunistas. Estive seis anos fora da Universidade, estive no Aljube, mas nunca fiz gala disso.
Pergunto, no entanto, por que não hei-de revoltar-me quando os meus colegas, que dedicaram toda a sua vida ao ensino e ao trabalho de investigação foram expulsos e se viram obrigados a exilar para fora de Portugal sem uma palavra de crítica do PCP.
Pergunto por que se fazem debates sem pessoas seleccionadas. 0 que se faz hoje é a política-espectáculo do pior que há.

Vozes do PSD: - Muito bem!

0 Orador: - Querem audiências e pouco lhes interessa a História contemporânea. Querem encher os ecrãs com figuras, figurões e figurantes e não querem as pessoas que sabem dos problemas em debate.

Vozes do PSD: - Muito bem!