O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

1980 I SÉRIE - NÚMERO 60

cracia e do 25 de Abril, ainda que numa interpretação conservadora, porque não há democracia sem que todos os seus quadrantes e todas as áreas políticas e ideológicas se reconheçam na democracia. A democracia é debate e confronto, mas é também um consenso sobre a sua própria essência e o seu próprio funcionamento.
Simplesmente, Sr. Deputado Narana Coissoró, aprendi com o Padre António Vieira que um bom sermão deve ter um só tema. Hoje não vim aqui discutir o KGB, mas a PIDE e o regime fascista português. Nunca fiz qualquer saneamento nem faço discriminações. Não as faço em relação à direita democrática, como também não as faço em relação à esquerda, mesmo relativamente ao Partido Comunista, que comigo e com outros combateram o regime fascista e foram um partido grandemente perseguido durante a ditadura fascista.
Distinguimos as nossas divergências políticas e ideológicas e os confrontos travados da participação dos comunistas na luta contra o regime salazarista e das torturas e perseguições que sofreram. Não vamos esquecer isso nem discriminá-los, porque eles estiveram sempre na primeira linha do combate contra a ditadura fascista. Esse é um facto histórico que ninguém pode esquecer. Esquecê-lo é também uma forma de branquear, distorcer e perverter o passado.

Vozes do PCP: - Muito bem!

0 Orador: - Não vim hoje aqui discutir outras coisas que não o branqueamento que se pretende fazer do regime fascista. Vim discutir a PIDE e não outras polícias políticas.
Algo se deve reter disto: a rejeição efectiva da tentativa de lançar a confusão e fazer o debate-espectáculo, numa lógica que é a do dinheiro e das audiências, mas que subverte todos os valores, desde os valores políticos a outra espécie de valores morais. A televisão não pode funcionar em Portugal dessa forma e a guerra das audiências não pode levar, como disse na minha intervenção, a confundir o bem e o mal e a ser ela própria uma forma de subversão de todos os princípios e valores.

Aplausos do PS e do PCP.

0 Sr. Presidente (Adriano Moreira): - Para defesa da consideração, tem a palavra o Sr. Deputado Silva Marques.

0 Sr. Silva Marques (PSD): - Sr. Presidente, Sr. Deputado Manuel Alegre, entende o Sr. Deputado que eu, em consequência das minhas funções e responsabilidades, devo estar à altura das mesmas. Também penso que sim! Mas também penso que o mesmo acontece com o Sr. Deputado!...
Julgo que a diferença entre nós não decorre da capacidade de estarmos à altura das nossas responsabilidades mas de uma visão diferente que temos. Por isso mesmo, terminei a intervenção dizendo que, se calhar, foi a propósito deste ponto que eu fui para um partido e o senhor para outro, porque aí há, de facto, uma divergência!... E foi por isso que pedi a palavra. Aliás, nesse ponto, a minha postura e a minha visão das coisas é muito semelhante à do Sr. Deputado Narana Coissoró, que nunca, na minha vida política, conheci pessoalmente, contrariamente ao que aconteceu com o Sr. Deputado.
Retomando o que eu estava a dizer, deu-se, de facto, uma divergência entre nós. Eu fui para outro sítio e, se calhar, estamos em sítios diferentes... É essa a minha interrogação. Julgo que estamos em sítios diferentes e que eu estou em melhor sítio do que o Sr. Deputado, mas é evidente que o senhor pensa o mesmo em relação a si. Estou convencido de que eu estou em melhor sítio, porque fui para o sítio que recusou imediatamente o fraccionamento da liberdade; fui para o sítio que recusou imediatamente a discriminação quanto à dignidade humana; fui para o sítio que não suportou a complacência com outra forma de perseguição política. Julgo que fomos, de facto, para sítios diferentes e, tendo em conta o seu discurso de hoje, ainda estamos em sítios diferentes!...
0 Sr. Deputado só vem hoje falar de uma polícia? Impossível! Como é possível falar só de uma polícia política? Aceitar falar só de uma polícia política é aceitar colaborar com as outras polícias políticas e mantê-las no silêncio...

Protestos do PS.

É sim, Srs. Deputados, porque se vivemos em liberdade foi porque conseguimos abater a ditadura e a sua polícia política, mas foi também graças à movimentação popular que se conseguiu vencer a nova perseguição política imediatamente após ao 25 de Abril!... Quantas vítimas, quantos perseguidos, quantas pessoas perderam o seu emprego? Quantos operários, quantos empregados, quantos intelectuais, quantos professores foram perseguidos? E quantos mortos?!... 0 Sr. Deputado não quer discutir os mortos verificados depois do 25 de Abril? Não quer discutir aqueles que foram vítimas das espingardas ditas revolucionárias? Eu não aceito separar a discussão, porque não colaboro com nenhum algoz, seja ele de antes ou depois do 25 de Abril.

Aplausos do PSD.

0 Sr. Presidente (Adriano Moreira): - Para responder, se assim o desejar, tem a palavra o Sr. Deputado Manuel Alegre.

0 Sr. Manuel Alegre (PS): - Sr. Presidente, Sr. Deputado Silva Marques, estamos realmente em sítios diferentes e em partidos diferentes. Ainda bem que assim é, porque isso significa que o nosso combate contra a ditadura não foi em vão e que há democracia, pluralismo e partidos diferentes em Portugal.
Penso que estou do melhor lado, do lado em que no essencial sempre estive, que é o lado do coração, o meu lado esquerdo. Mas essa é a minha convicção.
Sr. Deputado, eu faço o discurso que quero sobre o que quero e não o que o Sr. Deputado me quer pôr a fazer.

0 Sr. Silva Marques (PSD): - Claro! E eu faço a crítica que quero!

0 Orador: - Estou à vontade, moral e politicamente, porque combati todas as formas de totalitarismo e todas as formas de repressão. Aliás, o Sr. Deputado sabe bem o combate que pessoalmente travei, antes e depois do 25 de Abril. Neste momento, não faço o discurso que o senhor quer fazer, mas, se há hoje liberdade e democracia em Portugal, isso deve-se ao combate que o Partido Socialista travou comigo, ao lado de Mário Soares, na primeira linha.