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2356 I SÉRIE - NÚMERO 73

Não esconde, igualmente, o seu desencanto com a oposição socialista ao Governo. E volto a citar Cunha Rêgo: «Até aqui a oposição de Guterres a Cavaco Silva tem sido uma oposição que a oposição reunida neste congresso ...» - notem bem - «... acha que não e a que deveria ser». E acrescenta mesmo, quando lhe perguntam o que pode acontecer ao PS se não tirar do congresso as consequências que devia tirar Diz Cunha Rêgo: «Pode acontecer tudo!»
Está aqui tudo.

Risos do PSD.

Afinal, o congresso não era para universitários altruístas e académicos abnegados, como não era para sociedade civil nenhuma. «É ...», referiu ainda o Dr. Cunha Rego sobre ele, «... a oposição reunida neste congresso», ou seja, uma oposição que não é a parlamentar, mas uma oposição que ali reunia, sob o alto patrocínio do Senhor Presidente da República. Não há, pois, anónimos nem anonimato.
Algo indica, contudo, Srs. Deputados, que o maquiavelismo da operação ia mais longe. É o próprio Vítor da Cunha Rego que o afirma: «Este congresso, ao princípio, foi pensado em dois planos. O primeiro, foi o tempo que haveria entre o 25 de Abril e as eleições europeias. Não se sabia como o 25 de Abril ia correr, não se sabia o que é que se ia passar nessa data e havia a necessidade de criar um pólo aglutinador de algumas expressões políticas, neste caso de esquerda, para poderem ocupar esse espaço e dizerem ao País que existiam».
Eis a revelação de como se pensou utilizar a cerimónia do 25 de Abril, obviamente por pessoas exteriores a este Parlamento e a qualquer partido com assento nele, com uma finalidade frentista e conspirativa.

O Sr. Silva Marques (PSD): - Muito bem!

O Orador: - Cerimónias do 25 de Abril, Sr. Presidente e Srs. Deputados, lembro bem, que nós, Assembleia da República, generosamente e de uma forma abnegada, tal como o Governo, ajudámos a suportar financeiramente, a pedido do Sr. Presidente da República.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Acaba o Dr. Cunha Rêgo: «Em segundo lugar, o congresso foi feito na perspectiva de que, para governar o País, depois de Cavaco Silva talvez seja necessária uma aliança de esquerda».
Volto a dizer: não há, pois, anonimato. Quem falou assumiu. Como todos sabem, as pessoas em questão têm neste processo - e elas não são da direcção do Partido Socialista, obviamente- a importância que lhes advém da sua ligação ao Presidente da República, que patrocinou este congresso desde o princípio e cuja única finalidade, como aqui disse na passada semana- e muito bem - o Dr. António Lobo Xavier, se resumiu a fazer lá o seu discurso.
Por isso importa, embrenhados que estamos nas «avenidas da discussão» em que o Sr. Presidente da República nos entusiasmou a entrar, em extrair de tudo as conclusões que se impõem.
É, desde logo, natural que muitos pensem- e era isso que nós gostaríamos de pensar - que S. Ex.ª o Presidente da República é estranho a tudo isto (e gostaríamos de continuar a pensar isso). Mas. se é assim, é importante que se o diga, desautorizando os que organizaram o congresso em seu nome e invocando a sua amizade a torto e a direito. O seu silêncio compromete-o nessa manobra e eis o que dela dizem analistas que respeitam o Presidente da República. Vicente Jorge Silva chama-lhe puro «contrabando político»; Miguel Sousa Tavares afirma ser já «não uma mera questão entre a esquerda e a direita, mas entre a defesa da democracia e a sua sabotagem».

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente da República não tem sido avaro a emitir opiniões sobre Iodos os acontecimentos da vida nacional, mesmo os mais banais. Não se compreenderá por isso que, também por respeito para com todos os partidos que se sentam nesta Assembleia da República, o não faça ern função da gravidade das acusações que lhe são dirigidas do interior do partido que foi - e ele diz que continuará a ser- o seu partido.
Igualmente se esperaria do PS, mas essa é uma questão do PS e não nossa, que se sentiu - e se calhar com toda a razão - o principal visado neste insidioso processo, dissesse alguma coisa, claramente, aos portugueses.
E a gravidade das acusações ao Presidente da República devem ser esclarecidas, porque elas não são novas: estão no pensamento e na boca de todos os ex-secretários-gerais do PS, como se viu pelas recentes declarações do Dr. Jorge Sampaio.
Como não são novas, também, as tentativas de condicionamento - e no limite, de destruição - dos principais partidos democráticos. No passado, fizeram-se à sombra dos mais altos hierarcas do Estado.
Tentou-se destruir o PSD. Não foi possível, graças ao talento, à pertinácia e ao desassombro político do Dr. Francisco Sá Carneiro.
Tentou-se também destruir o PS. Não foi possível, graças à coragem, à lucidez e à frontalidade democrática do Dr. Mário Soares.
Sr. Presidente, Sr.ªs e Srs. Deputados: Para nós, a principal função do Presidente da República é a de ajudar a resolver as crises e não a de contribuir para fomentá-las ou para criá-las.
Por isso esperamos, no meio de todo este processo, que, naturalmente, deixa tristes todas as bancadas em geral e o meu grupo parlamentar em particular, que o Sr. Primeiro-Ministro e o Governo continuem a dar o exemplo de não deixarem desviar as suas atenções para questões que apenas prejudicam ou adiam a resolução dos principais problemas dos portugueses e do seu futuro.
Mais do que nunca, os portugueses aprenderão com estes episódios a saber quais as pessoas com quem não podem contar, porque elas valorizam o acessório em detrimento do essencial, a intriga em detrimento do trabalho, a conflitualidade em detrimento do diálogo, o radicalismo em detrimento do bom-senso.
Num momento como aquele que vivemos, em que são cada vez mais os sinais de que se avizinha a recuperação económica que terá, seguramente, efeitos benéficos no aumento do produto nacional, no crescimento económico, no reforço da competitividade e do emprego e na recuperação dos salários, é mais importante do que nunca que os portugueses confiem naqueles - Governo ou oposição - que têm de assumir as responsabilidades pelos seus destinos.