O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

16 DE JUNHO DE 1995 2863

der as misérias do presente é não cumprir as obrigações, é uma atitude que só se tem uma vez. Depois é ouvir bater as portas. E bem batidas.
A política do Partido Popular é profundamente hipócrita, porque todos os dias propõe medidas e actos que implicariam a autarcia económica de Portugal, e não tem a coragem de dizer aos portugueses que a verdadeira consequência dessa política seria a saída da União Europeia.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Tenham a coragem de o dizer e então cá estaremos para discutir as consequências. Ou será que não há consequências?
E exactamente porque todos os riscos que estão à nossa frente são riscos de facilidade, tentações de facilitismo, é que o PS parece emergir do seu torpor habitual e se agita um pouco por todo o lado. O PS entrou num delírio despesista - tudo oferece, a nada põe preço.
Sá de Miranda dizia que "ao cheiro de canelas" o reino se despovoava e fugia para as índias. Ao PS Cheira a canela, bem mais próxima e fácil do que a que eslava nas índias. Cheira-lhe a facilidades ou, dito de outra maneira, a muito dinheiro para gastar. E muito dinheiro para gastar faz crescer como cogumelos as centenas de propostas despesistas em que o PS e exímio. Um balança recentemente publicado revelava que de mais de 100 medidas propostas pelo PS, cerca de 90 % implicam o aumento das despesas ou a diminuição das receitas.
A verdadeira gaffe do Engenheiro Guterres não foi certamente esquecer-se do PIB, número que com certeza conhecia, mas a súbita revelação, em meia dúzia de segundos de cruel televisão, da verdadeira política socialista: promessas sobre promessas, pagas não se sabe por quem nem como. Os socialistas, com alguma caridade, chamaram a essa gaffe "bloqueio" e chamaram bem.
O Dr. Freud tem um ensaio muito interessante sobre estes "bloqueios", sobre o esquecimento de nomes (aqui de números) que estão como se costuma dizer na "ponta da língua" e que estamos quase a dizer e nos esquecemos de dizer. Pois é. O Eng. Guterres tinha, na. "ponta da língua", um discurso sobre as promessas e o seu preço e dali não saiu. Sem querer colocar o Engenheiro Guterres no divã do Dr. Freud, o que aconteceu foi que do seu reprimido "id",- a parte do Engenheiro Guterres em que ele não manda -, onde estava enterrado o preço das coisas que ele promete, veio, à revelia do seu ego e super-ego, ao de cima, à tona da sua voz e para o espanto da sua face num bloqueio imenso, abissal e. absoluto. Ficamos a saber que o Engenheiro Guterres também é humano, e que tem lá dentro, no fundo, escondido o preço das suas facilidades. Só que não o diz e depois bloqueia. O Dr. Freud explica isso muito bem.

Aplausos do PSD.

Sr. Presidente, Srs. Deputados: Em Outubro de 1995 a última palavra é a dos eleitores, do povo português. Os portugueses, e muito bem, terão que nos julgar pela obra feita - e está feita obra. Terão que nos julgar pelas nossas escolhas - de políticas e de pessoas. Terão que nos julgar pelo que fizemos de certo e pelos nossos erros - e com certeza que erros cometemos. Terão que nos julgar pelo programa de reformas que iremos de novo apresentar e pelas pessoas que propomos ao seu sufrágio.
Mas a nossa obrigação é sermos claros com os portugueses. Em Outubro de 1995, o que está em jogo para o País não pode ser indiferente a cada um de nós. Apresentamo-nos ao veredicto popular como responsáveis por um mandato cuja responsabilidade não enjeitamos. Mas também nesse momento de escolha, como cidadãos de parte inteira, não nos eximimos de dizer aos portugueses que consequências pensamos irem ter as suas escolhas.
E dizemo-lo com clareza:- das eleições de Outubro de 1995 vai depender uma dupla escolha - a de quem governará Portugal e do modo como Portugal poderá ou deverá ser governado ou se, pura e simplesmente, deixa de poder ser governado. Vai depender dessa escolha saber se o PSD terá a legitimidade de continuar a obra, que tem uma coerência e uma continuidade que deve ser preservada e que tem custos interromper, ou se se experimentam todas as novidades. Sem custos, sem preços, sem garantias, mas com perigos. Os perigos da facilidade.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - O PSD propôs-se a si próprio renovar a maioria absoluta que obteve em 1987 e 1991. Propôs-se um objectivo mais difícil, árduo e exigente do que qualquer outro partido, em grande parte porque está convicto de que as dificuldades que atravessamos exigem governos com capacidade para governar e não governos só de nome, e que existem apenas para nomear os amigos. O objectivo da maioria absoluta não é um mero objectivo partidário é uma necessidade exigível pela instabilidade inscrita no nosso sistema eleitoral Que e assim reconhece-o o principal partido da oposição que, envergonhadamente, também pede ao eleitorado uma maioria absoluta.
E também somos claros na recusa de qualquer coligação, antes ou depois das eleições. Sena profundamente desestabilizador para a vida política portuguesa e pouco clarificador, se das eleições de Outubro de 1995 resultassem soluções ambíguas nas quais os partidos de franja - o Partido Popular ou Partido Comunista Português - acabassem por definir as políticas do PSD ou do PS. Seria péssimo ver os grandes partidos, nos quais a maioria dos portugueses votaram, subordinados o PSD a um PP radical e anti-europeu e o PS a um PCP, nos antípodas do pensamento democrático e do capitalista.
O Partido Popular e o PS são partidos do facilitismo e os partidos do facilitismo não devem governar, nem em momentos em que é preciso a capacidade de tomar medidas difíceis- e essa é a verdadeira prova dos nove de um governo -, nem em momentos em que existem oportunidades únicas que podem ser perdidas
Temos toda a confiança que os portugueses também assim pensam.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: - Inscreveram-se, para pedir esclarecimentos, os Srs. Deputados Manuel Queiró e Jaime Gama.
Tem a palavra o Sr. Deputado Manuel Queiró.

O Sr. Manuel Queiró (CDS-PP): - Sr. Presidente, Sr. Deputado Pacheco Pereira, começo por lembrar-lhe que, em Outubro passado, o Sr. Deputado fez aqui um grande ataque ao meu partido, com base nas pretensas críticas que fazíamos à classe política, denunciando essa forma enviesada e condenável de captar os favores do eleitorado.
Tendo em atenção o que aconteceu posteriormente no seu próprio partido, recomendava-lhe algum cuidado com