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3866 I SÉRIE - NÚMERO 106

se estabelece à volta desta causa, que, penso, é realmente a mais nobre causa nacional, aquela capaz de nos unir, e que não pode haver muito mais perda de tempo.
Já se perdeu muito tempo, porque hora a hora há gente que está a morrer em Timor, hora a hora há gente que está a arriscar a sua vida em Timor, hora a hora há gente que está a morrer de fome ou de sede ou a ser liquidada ou massacrada. Cada minuto perdido significa mais vidas que se vão perder. Por isso, todas as pressões têm de ser feitas no sentido de que, rapidamente, uma força de paz possa entrar em Timor. E eu congratulo-me por o Governo ter já disponibilizado a possibilidade de Portugal estar representado.
É muito importante, não só pela simbologia, como penso que as Forças Armadas portuguesas, pela sua capacidade e pela afectividade que existe entre os timorenses e os portugueses, podem agir em Timor com uma outra eficácia e estabelecer com o próprio povo de Timor relações que, porventura, outras forças terão mais dificuldades em estabelecer.
Finalmente, o Partido Socialista congratula-se, obviamente, com a libertação de Xanana Gusmão, que é hoje um símbolo, um líder e um grande homem de Estado.
Mas a nossa alegria é uma alegria triste porque Xanana deveria ter sido libertado podendo regressar ao seu território. Este acto é quase um acto cínico. É uma alegria triste, mas, de qualquer maneira, é um acto que não podemos deixar de saudar porque Xanana Gusmão, com a dimensão que tem hoje, como homem de Estado, a sua própria dimensão humana, a sua própria natural e moral autoridade sobre o povo de Timor, vai ter, com certeza, consequências e influências naquilo que está a acontecer.
Sublinho as palavras do Sr. Primeiro-Ministro: o mais difícil, em certos momentos, é a contenção, o mais difícil, até, é saber perdoar, e a atitude de Xanana Gusmão, tentando conter as FALINTIL, tentando conter as forças da guerrilha timorense, para não responderem às provocações do Exército e das milícias fascistas, organizadas pelo Exército indonésio, é uma prova de grande sabedoria, de grande coragem moral e de grande valentia.
Quero, pois, em nome do Partido Socialista, deixar aqui esta nota, fazer um apelo a toda a comunidade portuguesa, a todos os portugueses espalhados pelo mundo, para que se mobilizem, para que sensibilizem a opinião pública mundial, para que a opinião pública dos diferentes países faça pressão sobre os seus governos, de forma a que, o mais rapidamente possível, a legitimidade democrática manifestada através do voto pelo povo de Timor seja respeitada, para que a paz seja restabelecida e para que o povo de Timor não volte a ser vitima de um novo genocídio.
O povo de Timor conquistou, pela sua luta heróica, pela sua persistência - e isso é também um pouco de nós próprios, a alma do povo de Timor também é um pouco de nós próprios e da nossa passagem por aquelas paragens -, o direito à liberdade, à independência e a viver em paz. E isso não pode ser confiscado.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Carlos Carvalhas.

O Sr. Carlos Carvalhas (PCP): - Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados: Estamos aqui com grande emoção, com uma grande indignação, em que a boa notícia no caudal de notícias que aumentam a nossa angústia foi a da libertação de Xanana Gusmão, porque, como já foi aqui afirmado, de hora a hora, há vidas em perigo, há massacres, há incêndios, há deportações.
O Sr. Primeiro-Ministro disse, e creio que com verdade, que há hoje, nos portugueses, nas portuguesas, enfim, no povo português, um grande sentimento de revolta e de indignação. De revolta e de indignação com o que se está a passar em Timor, mas também de revolta, de incompreensão e de indignação perante a lentidão, a passividade, a inércia, os critérios de dois pesos e duas medidas da comunidade internacional, que, como também já foi aqui afirmado, muitas vezes, e mais uma vez, continua a colocar os interesses acima dos valores.
Timor tem unido os portugueses e, pela nossa parte, tudo faremos para que continue a uni-los, para que seja, de facto, urna causa nacional. Queremos, portanto, e por isso, aqui fazer também ouvir a nossa voz para reclamar das Nações Unidas todas as medidas que se impõem para garantir a liberdade, a segurança e a vida dos timorenses, para que não haja hesitações na condenação da Indonésia e, simultaneamente, pressão sobre a Indonésia e para que não haja perda de tempo e se avance com uma força de paz.
Aqueles que têm a vida em perigo, aqueles que estão na UNAMET, como ontem vimos nas imagens transmitidas pelos canais de televisão, que saltaram os arames farpados e que agora vêm, perante as forças militares - porque são as forças militares, não são só as milícias -, a sua vida em perigo, tudo o que lhes foi dito posto em causa, inclusivamente, no risco de se verem abandonados, creio que todos esses, todos os timorenses e também todos os portugueses exigem da comunidade internacional que haja celeridade.
A pergunta que podemos fazer aqui, e podemos dirigi-la a todo o mundo, é esta: quantos timorenses mais necessitam de ser massacrados para que a comunidade internacional aja com celeridade? Daqui a três dias, dizem-nos, há indícios de que há uma alteração na comunidade internacional, a Sr.ª Albright fez declarações mais positivas, o Sr. Clinton parece estar numa outra posição.
Peço desculpa, Sr. Presidente e Srs. Deputados, mas só me ocorre uma palavra: basta de tanta hipocrisia, basta de tanto cinismo. O que se está a passar é uma vergonha para a Humanidade, é uma vergonha para o Conselho de Segurança, é uma vergonha para a ONU!
Naturalmente, não. queremos criar dificuldades; queremos, sim, erguer a nossa voz e juntá-la às de todas as forças políticas, às de todos os homens e de todas as mulheres, às de todos os patriotas, para que a paz chegue a Timor.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Isabel Castro.

A Sr.ª Isabel Castro (Os Verdes): - Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados: Julgo que estamos reunidos num momento particularmente singular e contraditório. Há pouco mais de uma semana, vimos aquilo que para muitos parecia a realização de um sonho impossível, vimos materializar aquilo que parecia uma utopia ou algo que, provavelmente, não admitíamos que pudesse acontecer tão cedo, mas estamos a ver, hoje, imagens extremamente chocantes, que vieram, de novo, gerar em todo o País um movimento de solidariedade e expressões de manifestação dessa solidariedade por parte dos portugueses