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1033 | I Série - Número 27 | 07 de Dezembro de 2000

 

suspensão dos aumentos, a paralisação do Estado. O Primeiro-Ministro, mais fraco, ameaçava mais.
Entretanto, um acordo estranho, uma proposta indecente foi ganhando peso e oportunidade. De um dia para o outro, estava encontrada a chave da felicidade. Num golpe de ilusionismo, um Governo sem maioria cresceu em apoiantes, adquiriu um voto, forjou um alibi para se manter. Ingratos, os portugueses nem por isso demonstraram o seu contentamento. Afinal o Governo continuava... Mal!
Estava para chegar o momento em que se instalou, de novo, a confusão. Três exemplos simples nos basta recordar, acontecidos que foram num tempo próximo. Em primeiro lugar, saltou aos olhos dos portugueses como a usura do poder é capaz de transformar as pessoas e de as carimbar com o sinal de ignomínia. Repetidamente se chamou a atenção para o estado socialista que se instalou. Nem mais. O Presidente da Administração Regional de Saúde do Norte declarou que todos os portugueses são iguais mas que uns são mais iguais que outros.

Vozes do PSD: - Uma vergonha!

O Orador: - Arrogou-se o direito de escolher entre eles pela sua cor partidária. Olha para os cidadãos em iguais condições e circunstâncias, dotados de igual mérito e opta, de entre eles, pelo socialista. É a confusão entre a meritocracia e a partidocracia. É a degradação completa!

O Sr. Luís Marques Guedes (PSD): - Muito bem!

O Orador: - Como acreditar nesta fantochada dos concursos com fotografia em que a prova da entrevista serve para anular as vantagens curriculares e o conhecimento específico? O episódio Catarino não é senão a configuração da regra. O mais impressionante, nele, foi o silêncio do Governo, a distracção da Ministra, o mutismo do Primeiro-Ministro.

O Sr. Luís Marques Guedes (PSD): - Muito bem!

O Orador: - De quinta-feira à terça-feira seguinte, só depois do escândalo se transmitir às páginas da comunicação social, a Sr.ª. Ministra chama o (ir)responsável e demite-o. Tarde e mal.
Mais ou menos pela mesma altura, é conhecido um outro episódio tanto ou mais grave quanto representa a normalidade assumida de um comportamento inadmissível. Um Secretário de Estado resolveu falsificar o funcionamento do Estado lançando mão de um expediente grosseiro: os seus assessores, colaboradores ou adjuntos constituíram entre si uma Fundação. Para quê? Para a prevenção e segurança, como cobertura. Para autopromover campanhas publicitárias, como fim objectivo. Numa palavra, para tornear a lei.

O Sr. Fernando Seara (PSD): - Muito bem!

O Orador: - Com que dinheiro e outros bens? A constituição, com 10 mil contos provenientes do Estado, aos quais acresceram mais 400 000 contos de subsídios e dois edifícios públicos como prémio. Tudo muito linear e muito simples. Sem dinheiro nem bens dos seus fundadores, a Fundação recebeu-os dos contribuintes.

O Sr. Luís Marques Guedes (PSD): - É uma vergonha!

O Orador: - É mais fácil e mais compensador criar uma fundação do que uma direcção-geral e dá menos nas vistas do que criar um novo instituto público. Se a moda pega, mil fundações florescerão em todos os Ministérios. O Governo será a mãe de todas as Fundações. Sobre isto, admitido pelos intervenientes com um grau de descaramento inusitado, o Sr. Primeiro-Ministro evita falar. Só que quem cala consente!

O Sr. Luís Marques Guedes (PSD): - Muito bem!

O Orador: - Apercebendo-se disso, o Sr. Secretário de Estado, agora Ministro, lança a notícia da sua iniciativa de colocar o lugar à disposição - o Sr. Primeiro Ministro mantém-no em funções. Ao mesmo tempo, sabe-se que o anterior Ministro da Administração Interna tinha suspendido as operações da dita Fundação. Ao mesmo tempo, o actual Ministro da Administração Interna duvida da legalidade e consulta a Procuradoria-Geral da República. Estão todos estes no mesmo Governo! Encontram-se todos às quintas-feiras!

O Sr. Paulo Portas (CDS-PP): - Nem todos!

O Orador: - Será preciso explicar como este Governo não tem jeito, nem conserto possível, nem Primeiro Ministro? Será difícil que o Primeiro Ministro perceba que o expediente utilizado é absolutamente inaceitável?

O Sr. Luís Marques Guedes (PSD): - Muito bem!

O Orador: - A impunidade é do tudo «quero, posso e mando»!

O Sr. Paulo Portas (CDS-PP): - Quero, posso e fundo!

O Orador: - A Fundação Patrão-Vara não é mais do que a Fundação da vergonha. Um Primeiro-Ministro que não compreende a censura que este facto merece, faz do acto de governar um exercício de displicência cúmplice e irresponsável.

Aplausos do PSD.

Mas o paradoxo maior aconteceu, também, desde meados daquela desgraçada última semana. O Dr. Ricardo Sá Fernandes entendeu dever escrever ao Sr. Primeiro Ministro pedindo-lhe que demonstrasse o seu interesse pela reabertura do caso Camarate. Limitou-se a pedir o que muitos portugueses sempre pediram: o esclarecimento da verdade na base de novas provas. Pelos vistos, uma singular maldição mandaria que nenhum caso dos últimos tempos do assassinato de várias figuras públicas em Portugal conseguisse ser levado a conclusões. Mas, a nós, que convivemos com ele, custa-nos admitir a insuficiência da investigação, o temor em acusar, a ineficácia da justiça. Ninguém tem razões para estar satisfeito, esta é a verdade. O Dr. Sá Fernandes acabou de escrever um novo «J'accuse». Limitou-se a pedir justiça.

O Sr. Luís Marques Guedes (PSD): - Muito bem!

O Orador: - Perante a incomodidade de alguns sectores, consta que o Sr. Ministro da Justiça levou o assunto a Conselho de Ministros. Os seus colegas de Governo