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18 DE MAIO DE 2001 7

tem resultado a proposta – ou a vã ambição – de absorver a está enganado, porque em Portugal não é, e não será. esquerda no pântano da governação. Em breve, também por cá, e tal como em Itália, ouviremos apelos lancinantes Aplausos do PS. à utilidade do voto do povo da esquerda contra a ameaça da direita. O Sr. Presidente: —Para responder, tem a palavra o

Sublinho aqui a persistência e o crescimento do espaço Sr. Deputado Fernando Rosas. alternativo, pela esquerda, aos dois «pólos» italianos: o Partido da Refundação Comunista conquistou 1,8 milhões O Sr. Fernando Rosas (BE): — Sr. Presidente, Sr. de votos, mais 600 mil que nas anteriores eleições, confir- Deputado Barros Moura, agradeço a oportunidade que me mando-se como o espaço da esperança face ao rotativismo dá para esclarecer o meu pensamento. bipartidário e à «cara ou coroa» do modelo neoliberal de Sr. Deputado, como vão longe os Estados Gerais do PS construção europeia e de governação. actual! Quase tão longe como o Sr. Deputado está hoje do

Esta é, creio, a principal lição que tão agudamente nos ManifestoComunista e das ideias que ele exprime! oferece a vitória da coligação liderada por Silvio Berlus- coni: a esquerda que vale a pena não é a do conservado- O Sr. José Barros Moura (PS): — E V. Ex.ª do Mao rismo governista, é a que tem a coragem e a lucidez de se Tsé Tung! levantar contra ele e contra a direita, como alternativa política e civilizacional. Esse é o único caminho para bar- O Orador: —É absolutamente estulto pretender que o rar a lógica da recuperação da direita populista, xenófoba e Governo de centro-esquerda, em Itália, perdeu as eleições autoritária na Europa e em Portugal. É a demissão à es- por causa da Refundação Comunista ou da oposição à querda que abre o caminho à direita. É a sua afirmação esquerda. Perdeu, porque governou mal. Perdeu, porque como alternativa de esquerda que abre o caminho à espe- governou contra os italianos. Perdeu, porque perdeu a rança. confiança da esquerda. Perdeu, porque abandonou a es-

querda e abandonou a perspectiva e a esperança que a Aplausos do BE. esquerda italiana tinha depositado no Governo da coliga- ção da Oliveira. Foi por isso que perdeu. É que quando a O Sr. Presidente: —Para pedir esclarecimentos, tem a esquerda governa à direita perde a esquerda e deixa-se

palavra o Sr. Deputado José Barros Moura. substituir pela direita para fazer essa política, que é tão competente ou melhor do que o Governo que lá está. Essa O Sr. José Barros Moura (PS): — Sr. Presidente, Sr. é que é a questão: os partidos socialistas, que se reclamam

Deputado Fernando Rosas, ouvindo a intervenção do Sr. da esquerda, perdem eleições não por causa da esquerda, Deputado Fernando Rosas sobre um tema (as eleições mas por estarem contra a esquerda. Esse é o meu ponto de italianas) relativamente ao qual sou, até por razões do meu vista e é o ponto de vista que as eleições italianas mostram. próprio percurso político, bastante sensível, devo dizer que A Refundação Comunista teve mais 600 mil votos do concordo com aspectos importantes da sua análise, mas que nas anteriores eleições. Parte da esquerda confiou nela estou em desacordo profundo quando o Sr. Deputado Fer- como alternativa, nem que fosse como esperança de alter-nando Rosas daí extrapola para uma análise da situação nativa, face a um governo que abandonou, completamente política portuguesa. órfão, a esperança de uma esquerda italiana com as tradi-

Sr. Deputado, se eu quisesse extrapolar, perguntar-lhe- ções que a esquerda tem. Se, hoje, os neo-mussolinianos ia se o vosso papel no sistema político português irá ser, ou estão no poder em Itália, em grande parte devem-no à pretende ser, o mesmo que certas franjas da esquerda, que política do governo da Oliveira, e isso é que é preciso não valem 5% em eleições, desempenharam para dividir o esquecer. centro-esquerda nas recentes eleições italianas e assim facilitar o acesso ao poder desse «negregado» dirigente Vozes do BE: —Muito bem! político que o senhor acabou de referir.

É, pois, neste sentido que quero expressar firmemente a O Sr. Presidente: —Para uma declaração política, tem minha desaprovação, na medida em que não nos identifi- a palavra o Sr. Deputado José Barros Moura. camos com políticas antipopulares e na medida em que pensamos que a maneira de um partido e um Governo, O Sr. José Barros Moura (PS): — Sr. Presidente, Sr.as com o Programa que o Partido Socialista tem, aprovado e Srs. Deputados: Os últimos episódios da luta pelas audi-nos Estados Gerais, manterem o seu apoio popular e reali- ências na televisão mostram que podem estar, ou que já zarem as suas políticas é na fidelidade a esses valores e a foram, ultrapassados todos os limites. Desde logo, os limi-esses princípios. tes impostos pela ética e pela decência, mas também o

É isso que, no essencial, apesar dos acidentes de per- limite da apatia e da conformação do público perante o curso, das dificuldades e dos erros, que reconhecemos – «lixo televisivo», que é servido todos os dias em doses reconhecemos que não estamos no melhor dos mundos –, o crescentes. Governo de António Guterres e do Partido Socialista tem Está a chegar, se não chegou já, o momento em que feito. É por isso que ele é atacado à direita e é por isso que essa mesma difusa opinião pública, formada pelas mesmas ele enfrenta dificuldades, no Parlamento e fora dele. pessoas que constituem audiências televisivas, dirá que já

Nestes termos, registo, Sr. Deputado, que faz sua a aná- basta, exigindo do Estado medidas reguladoras e sanciona-lise que toda a direita europeia fez sobre as eleições italia- tórias. nas: a de que esta é uma vitória contra os socialistas. Mas O poder político democrático não pode nem deve demi-