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30 DE MAIO DE 2001 9

É contraditória porque tem dois fundamentos antagóni- solidariedade e da justiça social. Para o Bloco isso não cos no texto da moção e nas sucessivas declarações dos conta, tudo isso é assimilável à direita. Indo até ao fundo dirigentes do partido proponente: ora quer, ora não quer do raciocínio, é mesmo a pior das direitas. derrubar o Governo. Mas aprofundemos primeiro a contradição que a censu-

E baseia-se num equívoco, porque parte do princípio ra encerra. Esta moção não é uma, são duas: uma, para dogmático de que o socialismo democrático, projecto re- derrubar o Governo; outra, para o não derrubar. E vai formador que criou e consolidou o Estado-Providência ou variando de natureza ao sabor dos textos e dos discursos o Estado de Bem-estar nas sociedades europeias, não se dos seus dirigentes. É como se no Bloco de Esquerda hou-distingue da direita e, por isso, não tem verdadeiramente o vesse também uma linha vermelha e uma linha negra, a direito de governar em vez dela. primeira pela pureza revolucionária, a segunda com algu-

A direita tem uma enorme dificuldade em ser oposição mas fraquezas desta vida. por, no fundo, estar convencida de que deveria governar por direito divino. O Bloco de Esquerda entende também Aplausos do PS. que, sendo de direita tudo o que lhe é exterior…

Para facilitar as coisas comecemos por analisar a ver-Protestos do PSD e do CDS-PP. são mais inocente da moção. Segundo um alto dirigente do Bloco de Esquerda, falando em 27 de Maio, a moção está Srs. Deputados, dão licença que continue? cheia de boas intenções. Não é para derrubar o Governo, mas para provocar uma clarificação política e renovar a O Sr. Presidente: —Srs. Deputados, agradeço que fa- esperança à esquerda.

çam silêncio. Estamos aqui para ouvir quem está no uso da É uma moção do tipo «censuro logo existo». palavra.

Risos do CDS-PP. O Orador: —Nunca pensei ter acertado tão certeira-

mente no alvo!… Não preciso sequer de utilizar argumentos meus para a combater. Basta relembrar-me o que os elementos do Blo-Aplausos do PS. co de Esquerda referiram sobre as moções de censura dos outros partidos. O Sr. Narana Coissoró (CDS-PP): — Onde é que está Escrevia, a propósito da moção de censura apresentada

o alvo? pelo PSD, o Deputado Luís Fazenda: «A dita cuja ‘moção de censura’, sem eficácia na Assembleia da República, O Orador: —Repito, o Bloco de Esquerda entende devido à composição parlamentar, que assegura ao PS

também que, sendo de direita tudo o que lhe é exterior, é a metade dos assentos, faz lembrar as aventuras e desventu-verdadeira direita que deve governar, ainda que por direito ras daqueles briosos gauleses, que, cercados de romanos profano, na ausência de um projecto radical que virasse o por todos os lados, tinham o patrocínio dos deuses e o mundo às avessas. energético auxílio de uma poção mágica, que lhes duplica-

va a força.» Risos do PS. Aplausos do PS. São, aliás, bem conhecidos os desastres a que conduzi-

ram experiências deste tipo. Recordo também a interessante teorização do Deputado Francisco Louçã para demonstrar a inconsequência da Vozes do PS: —Muito bem! moção de censura do PSD, ou as palavras irónicas do Deputado Luís Fazenda: «A moção de censura do PSD O Orador: —Esta moção de censura faz assim recor- apresentada ao Governo Constitucional, neste Parlamento,

dar, embora com o polimento de mais de duas décadas de denota indisfarçável desejo de competição entre partidos e democracia, a concepção bem enraizada em alguns prota- líderes partidários de direita». E mais à frente: «Vamos gonistas do PREC. Tudo o que não fosse revolucionário pela seriedade. Não nos norteia o jogo parlamentar mas, era da reacção e os piores de todos os reaccionários eram sim, o exercício da cidadania e a clareza das escolhas.» os socialistas porque pareciam não o ser. Na análise do próprio Bloco de Esquerda, parece estar

Hoje, para o Bloco de Esquerda, tudo o que não é da assim, nesta versão da moção de censura, «um indisfarçá-esquerda radical é da direita e o socialismo democrático é vel desejo de competição que só pode ser com o PCP», no a pior das direitas, porque no seu entender não parece sê- quadro do chamado jogo parlamentar. lo. Este é o equívoco que está na base desta moção. Pior do que um equívoco, uma mistificação. O Sr. Luís Fazenda (BE): — Era o que faltava!

O Bloco de Esquerda não se assume assim como que- rendo ser componente de uma esquerda plural, disponível A Sr.ª Maria Celeste Cardona (CDS-PP): — Só para contribuir para a governabilidade do País e para a pode! estabilidade política, mas como pretenso detentor de uma espécie de monopólio da esquerda, olhando com desdém o O Orador: —Mas, como já sublinhei, há uma segun-contributo que, durante mais de um século, se ficou a de- da moção de censura entregue na Mesa da Assembleia da ver ao socialismo democrático na defesa da liberdade, da República, e essa visa inequivocamente derrubar o