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3906 | I Série - Número 072 | 02 de Abril de 2004

 

responder sobre o que fez durante todo este ano seria o dia de hoje, 1 de Abril. Começo por homenagear, sinceramente, esta escolha do Ministro Luís Marques Mendes, que é uma atitude de comovente honestidade política, uma tocante homenagem do vício à virtude, porque, se durante um ano inteiro o Governo mentiu ao povo português sobre a guerra que apoiou, o único dia em que o Dr. Durão Barroso poderia falar verdade é mesmo hoje.
Esperemos, por isso, que hoje, finalmente, nos diga alguma verdade sobre esta grande mentira.
É por isto, Sr. Primeiro-Ministro, que era a si que competiria explicar o que disse e o que fez - e é indelicado e até desagradável deixar a Ministra dos Negócios Estrangeiros, que não tinha funções governativas quando a mentira começou, na situação de isolamento nesta Assembleia.
O Primeiro-Ministro, aliás, sairá dentro em pouco, com uma conveniente vénia à Assembleia, como já fazia protocolarmente o seu antecessor, mesmo que, neste caso, seja a sua honradez e seriedade política que vai ser discutida. O Sr. Primeiro-Ministro, em matéria que lhe diz directamente respeito, prefere deixar a Ministra sozinha com o incontornável Sr. Ministro Luís Marques Mendes.
Por isso, peço-lhe, Sr.ª Ministra dos Negócios Estrangeiros e das Comunidades Portuguesas, que transmita ao Primeiro-Ministro a nossa condenação por um ano de mentira. Durante um ano, a política externa portuguesa contribuiu para a guerra, para agravar a crise do Médio Oriente, e contribuiu, sobretudo, para dividir a União Europeia. Ao fazer parte do eixo da mentira, seguiu a palavra e as ordens do único governo de extrema-direita do ocidente, como tão bem lhe chamou Freitas do Amaral: aboliu o direito internacional, declarou a guerra preventiva como regra, arrogando-se o império, o poder e a possibilidade de atacar quem quisesse, quando quisesse, como quisesse. Permitiu, desta forma, contra todas as promessas, mesmo as que foram feitas nesta Assembleia, a construção do "muro da vergonha" para roubar os direitos dos palestinianos à sua terra e à sua independência. E os resultados, Sr. Primeiro-Ministro, são lamentáveis: nem democracia, nem justiça, nem paz, nem combate ao terrorismo!
Pelo contrário, o governo português contribuiu e contribui para a mentira que reforça a desordem internacional; contribuiu e continua a contribuir para a pilhagem do Médio Oriente; e, pior do que tudo - e disso vamos falar -, contribuiu e contribui para reforçar a principal central do terrorismo à escala internacional.
Comecemos pela mentira.
A guerra, no princípio, só tinha um pretexto: era preciso derrubar Saddam Hussein, porque as suas armas de destruição maciça constituíam um perigo para o mundo. Foi isto que o Primeiro-Ministro aqui repetiu, sem cessar.
No comunicado do Governo português, duas horas depois de Colin Powell ter apresentado o seu caso na ONU, dizia-se que "se registam especialmente as gravações e fotos que indiciam a manutenção pelo Iraque de armas de destruição maciça, químicas e biológicas".
Na Carta dos Oito, escrevia Durão Barroso: "Enviámos uma mensagem clara de que livraríamos o mundo do perigo trazido pelas armas de destruição maciça de Saddam Hussein".
No comunicado da Cimeira dos Açores afirmava-se que "qualquer presença militar no Iraque (seria) temporária, com o objectivo de promover a segurança e eliminação das armas de destruição maciça".
No Parlamento, naturalmente, o Primeiro-Ministro repetiu o mesmo a 18 Março, dizendo que o objectivo que o Governo sempre prosseguiu foi "a defesa intransigente do desarmamento do Iraque", e no dia seguinte, 19 Março, veio dizer que "A ditadura iraquiana é uma ameaça à paz. Desarmar o Iraque é um objectivo essencial (…)".
Ora, agora, sabemos que as armas eram mentira e que o pretexto era mentira. Aliás, até conhecemos a origem da mentira. O Primeiro-Ministro tinha a certeza de que havia, no Iraque, armas químicas e biológicas, porque tinha recebido um relatório dos serviços secretos britânicos nesse sentido - tenho comigo a cópia do relatório, para o caso de o Sr. Primeiro-Ministro querer voltar a ter o gosto de passar os olhos por este texto extraordinário.
O relatório dos serviços secretos britânicos é uma falsificação grotesca e ficou famoso por ter levado Blair a declarar no Parlamento britânico que Saddam Hussein poderia usar, em 45 minutos, armas químicas e biológicas (pág. 5 do relatório).
Todo o relatório é uma confabulação sinistra. Tudo é falso! David Kay, o chefe da CIA, que foi o responsável pela operação de 1200 agentes que durante um ano procuraram as armas, demitiu-se e pediu um inquérito sobre a mentira. Não há armas de destruição maciça!
Hans Blix, o chefe dos inspectores da ONU, explicou que quem queria encontrar bruxas na Idade Média conseguia sempre - mas as armas são piores do que as bruxas, desaparecem sem dar cavaco a ninguém!
Colin Powell sabia onde estavam 20 instalações e descreveu-as num mapa na ONU - mentira!
Rumsfeld sabia de todas as localizações - mentira!
Durão Barroso sabia tudo sobre tudo o que os outros sabiam - mentira!