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0097 | I Série - Número 002 | 17 de Setembro de 2004

 

encetaram já as necessárias diligências para aqui ser apresentado projecto semelhante ao que hoje apreciamos e desejamos ver aprovado.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O projecto de lei n.º 422/IX vem dar apoio decisivo a esta arte decorativa portuguesa reconhecida como valioso componente do nosso património cultural, regional e nacional.
Em termos amplos, o projecto visa a promoção e valorização desta arte, a defesa da sua autenticidade e tipicidade com certificação de garantia, a formação e valorização profissional tendente a garantir a sua genuinidade, elevado padrão de qualidade, rigor e perfeição de execução. Todas estas acções são importantes para assegurar a continuidade desta arte de raiz regional e portuguesa bem reconhecida aquém e além-fronteiras.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Os bordados de Castelo Branco, para além de expressão artística artesanal, são elementos de profunda raiz popular, obedecendo a cânones bem definidos no que concerne aos materiais utilizados, linho e seda, aos desenhos e motivos ornamentais, às cores e primorosa técnica de execução.
Tanto quanto é conhecido, em resultado de cuidadas investigações e recolhas de elementos de informação, a sua origem remonta à época dos descobrimentos, imbricando na arte evidenciada pelas colchas chinesas e indo-portuguesas, utilizando materiais, elementos decorativos, cores e técnicas de execução de cariz regional, em conjugação com a arte e criatividade das próprias bordadeiras numa produção eminentemente caseira, assumindo características específicas bem tipificadas.
Os bordados de Castelo Branco estão indissociavelmente ligados à cidade e ao concelho indo ainda mais além em outras áreas do distrito, exprimindo sempre a sua relação com o meio rural, com a decoração doméstica, com a cultura e tradição ancestral local como raiz de identidade, tornando-se representação de uma arte decorativa nacional celebrizada e muito apreciada aquém e além-fronteiras.
Permitam-me, aqui, incluir excertos de um texto do Dr. António Salvado, enquanto responsável do Museu Tavares Proença de Castelo Branco e figura fundamental na consumação do projecto da Escola-Oficina de Bordados: "(…) alguém escreveu que as Colchas de Castelo Branco nasceram do noivado do linho e da seda. E na lírica asserção vai toda uma verdade que a tradição consolida e esclarece.
Indústria caseira de muitos séculos o bordado típico de Castelo Branco surge curiosamente desenvolvido numa região do interior de Portugal (a Beira Baixa) onde o cultivo do linho e o quase culto pelo sirgo permitiram o aparecimento de uma forma artesanal que os séculos embelezaram sem manchar a pureza inata, capaz de a todos perturbar se a intenção consistir em traçar a fronteira entre artista e artesão, entre Arte e arte. Aliás, já se disse que numa sociedade que tem em alto apreço as artes artesanais, reservando a estas lugar honroso nos parâmetros definidores da cultura dessa mesma sociedade, aparece naturalmente entre essas artes (…) e as consideradas artísticas uma livre troca de ideias de que uma e outras tirarão proveito. Do Bordado de Castelo Branco se poderá afirmar que ele tipifica, com admiráveis efeitos, uma associação simbiótica cheia de sortilégios entre genuinidade e influência. Estudos exaustivos, oferecem-nos a revelação de contornos indubitáveis de que uma indústria caseira e doméstica brotou e se desenvolveu em Terras da Beira Baixa, acolhendo à guisa de inspiração e habilidade nos meandros da sua realidade quantos motivos e técnicas do bordado oriental. Provado está pois, que a tradicional cultura do linho e determinadas condições climáticas a favorecerem o desenvolvimento da amoreira e a criação do bicho-da-seda constituíram o sopro impulsionador que fez da região de que Castelo Branco é o centro a detentora e estimulante de uma forma artesanal que, diacronicamente ameaçada, aqui e ali, tem hoje garantida mercê de diploma legal a sua existência (…) Se quisermos ir um pouco mais longe, da mesma maneira que alguém falou em noivado do linho e da seda, nós poderíamos dizer agora que a Colcha de Castelo Branco representa um casamento de amor entre o Oriente e o Ocidente, na medida em que a tradição se deixou fecundar pelo que de belo, na cor, na técnica e nos símbolos, o Oriente lhe entregou (…)".
O hábito da confecção dos bordados de Castelo Branco, que atingiu expressão elevada nos séculos XVII e XVIII, correu riscos e foi-se perdendo ao longo do século XIX e inícios do século XX, para ser recuperado de forma consistente pelo Museu Tavares Proença de Castelo Branco, que garantiu a sua continuidade com genuinidade, tipicidade, primor de execução e elevada qualidade.
Em 8 de Novembro de 1976, o Decreto n.º 805 criou no Museu a Oficina-Escola de Bordados de Castelo Branco cuja actividade consiste na produção, conservação, restauro e divulgação de tecidos e bordados regionais, desenvolvendo o estudo e aperfeiçoamento das técnicas e da arte dos bordados, prestando colaboração às actividades e trabalhos oficinais de quantos a esta arte se dedicam. A Escola-Oficina de Bordados de Castelo Branco guindou-se a posição prestigiante pelo que faz e pelo que ajuda, sendo um centro incontestável do conhecimento genuíno de quanto respeita a esta riquíssima arte decorativa.
Com toda a justiça, permito-me aqui saudar e enaltecer a actividade da Escola-Oficina de Bordados de Castelo Branco e do Museu Tavares Proença.