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7 | I Série - Número: 002 | 21 de Setembro de 2007


Sr.as e Srs. Deputados, encontra-se a assistir aos nossos trabalhos, na tribuna reservada ao corpo diplomático, a Sr.ª Presidente do Parlamento da Estónia, acompanhada de uma delegação parlamentar, que estão em Portugal a convite da Assembleia da República.

Aplausos gerais, de pé.

Para uma declaração política, tem a palavra o Sr. Deputado Fernando Rosas.

O Sr. Fernando Rosas (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Não fosse o jogging do PrimeiroMinistro e as suas notórias confusões linguísticas, dir-se-ia que a visita oficial de José Sócrates aos Estados Unidos da América pouco teve para contar. Nada mais errado. Em menos de 4 minutos, que foi o tempo das declarações conjuntas de George Bush e José Sócrates à imprensa, o Primeiro-Ministro permitiu que o presidente norte-americano colasse Portugal, o Governo e o povo português ao esforço de guerra americano no Iraque e no Afeganistão, sem nada dizer.
Permitam-me que, por uma vez, cite o Sr. Bush: «Eu quero agradecer ao povo de Portugal por ter apoiado a sua…» — dele, Sócrates — «…decisão de ajudar o povo do Iraque e do Afeganistão a perceber a bênção da liberdade, e estou agradecido por isso. Sei que essas não foram decisões fáceis de tomar, mas os povos que, nesses países, acreditam que devem viver numa sociedade livre e desejam viver numa sociedade livre também apreciam as suas…» — dele, Sócrates — «…decisões».
Foram estas as declarações de George Bush, perante o silêncio complacente do Primeiro-Ministro socialista, que aparentemente se terá esquecido das promessas de véspera de falar com ênfase em questões como a do Kosovo, do Médio Oriente e Afeganistão, quem sabe comovido com a «bênção da liberdade».
É natural, e até bastante provável, que Bush tenha confundido José Sócrates com o Primeiro-Ministro que o recebeu, há quatro anos, de braços aberto na base das Lajes. O mesmo Primeiro-Ministro que garantia a pés juntos (lembram-se?) que existiam armas de destruição massiva no Iraque, poucos dias antes de abandonar o País e o cargo para o qual tinha sido eleito. O povo português, que encheu as ruas do País contra a invasão do Iraque, não perdoou o papel do governo de Barroso e de Paulo Portas numa guerra baseada na mais miserável e assumida das mentiras.

Vozes do BE: — Muito bem!

O Sr. Fernando Rosas (BE): — O povo português, que Bush evoca em vão pelo seu apoio à guerra e que em todas as sondagens se manifestou, de forma quase unânime, contra a invasão do Iraque.

Vozes do BE: — Muito bem!

O Sr. Fernando Rosas (BE): — Que Bush se engane faz parte do seu dia-a-dia. Que o Primeiro-Ministro português se encolha e não diga nada é toda uma outra história que merece ser apreciada pelo Parlamento e pela opinião pública portuguesa.
Só que Bush não se enganou. É um homem só, abandonado pelos mesmos homens que o levaram ao poder e acossado pelo desastre em que se tornou a ocupação militar norte-americana e dos seus aliados do Iraque. Precisa de vincular alguém à sua política internacional de desastre, e José Sócrates, como presidente em exercício da União Europeia, deu-lhe essa oportunidade. O Primeiro-Ministro português, calado, consentiu e foi cúmplice na instrumentalização do povo português para este discurso desculpabilizante. Foi esse o resultado palpável, infelizmente, da sua viagem oficial aos EUA.
Na política internacional, como na área económica e social, este Governo é fraco com os fortes e impositivo com os fracos. Não recebe o Dalai Lama, pelas «razões conhecidas», como disse Luís Amado, e cala-se perante o despautério de Bush pelas mesmas «razões conhecidas».

Risos do BE.

A segunda leitura é menos benevolente para o Partido Socialista. O mesmo partido que se juntou, nas ruas e no Parlamento, à oposição frontal dos portugueses a uma guerra à revelia do direito internacional, e que teve Mário Soares, Ferro Rodrigues ou Manuel Alegre nas gigantescas manifestações contra a invasão do Iraque, parece ter mudado de posição. Quem sabe em nome das «razões que são conhecidas». Freitas do Amaral, um dos rostos da oposição à guerra, foi o primeiro responsável pela pasta dos Negócios Estrangeiros, rapidamente substituído por Luís Amado, que dava entrevistas a criticar a posição de Ferro Rodrigues e a elogiar Durão Barroso pela Cimeira das Lajes e pelo apoio à guerra.
O actual Governo do Partido Socialista e o seu actual Ministro dos Negócios Estrangeiros exprimem uma política externa que está em clara contradição com o que foram as posições de muitos socialistas, e aparentemente do Partido Socialista, quando da guerra do Iraque e sobre a agressão americana ao Iraque.
Mais do que isso, o Partido Socialista ainda mantém instrutores militares no Iraque e intensificou a intervenção militar de tipo agressivo de Portugal no Afeganistão. O mesmo país (o Afeganistão) responsável, através do