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14 | I Série - Número: 073 | 27 de Abril de 2009

Construiu-se também com a reforma agrária e a nacionalização dos sectores estratégicos, que colocaram as potencialidades do País ao serviço do desenvolvimento e do bem-estar colectivos.
As comemorações do 25 de Abril na Assembleia da República são, por isso, a justa e indispensável celebração institucional desse momento ímpar da História de Portugal, que, juntamente com o 1.º de Maio, reencontra nas comemorações populares por todo o País as raízes de onde brotou.
Mas as comemorações de hoje não podem prescindir de um elemento de actualidade que ponha em perspectiva esse futuro que Abril propunha perante a realidade que hoje vivemos. E, quanto a nós, a resposta é óbvia: ao contrário das falsas modernidades que vão empurrando os portugueses de volta às relações laborais e sociais do século XIX, o projecto libertador de Abril mantém toda a sua actualidade como verdadeiro projecto político de progresso social e económico e de justiça social.
A dramática realidade que hoje vivem os portugueses é precisamente o resultado do abandono desse projecto de sociedade que Abril afirmou.
O País que temos hoje é o exemplo indesmentível da falência das políticas que acentuaram a exploração e a concentração de riqueza a um ponto em que os pobres já não conseguem suportar as fortunas dos ricos.
Num momento em que o sistema capitalista torna evidentes as suas dramáticas consequências para os povos, num momento em que se agudizam as contradições do sistema económico que assenta na exploração do homem pelo homem, é preciso Abril de novo.
Abril de novo significa romper as inevitabilidades e os dogmas com que o neoliberalismo procura travar o avanço da humanidade e dar resposta às necessidades do País.
Em Portugal, Abril de novo significa adoptar políticas económicas que coloquem a riqueza do País ao serviço do bem-estar colectivo, que valorizem os nossos sectores produtivos, que sejam capazes de pôr fim ao desemprego em que se encontra mais de meio milhão de portugueses e que rompam com a dependência face ao estrangeiro.
Abril de novo significa definir políticas laborais que valorizem o trabalho e respeitem os direitos dos trabalhadores, pondo fim aos baixos salários e pensões, à precariedade laboral que atinge mais de um milhão de trabalhadores e apontando aos jovens um caminho que não seja o das modernas praças de jorna do trabalho temporário.
Abril de novo significa encontrar políticas sociais que ponham fim à pobreza que atinge mais de dois milhões de portugueses e que acabem com a crescente exclusão social.
Abril de novo significa colocar o Estado ao serviço do povo, garantindo o acesso universal e gratuito à saúde, à educação e à justiça e reconduzindo a escola pública ao seu objectivo central de formação da cultura integral dos indivíduos.
Por tudo isto, Abril de novo significa fazer profundas rupturas. Significa romper com políticas que submetem o País aos ditames das potências europeias e mundiais, acentuando a exploração e agravando as desigualdades sociais.
Significa romper com a subordinação do poder político ao poder económico, que transforma o Estado em instrumento de obtenção de lucro dos grupos económicos e dos senhores do dinheiro.
Significa romper com políticas que passam ao lado do combate à corrupção e à criminalidade económicofinanceira, mas utilizam o aparelho repressivo do Estado para coagir sindicatos e trabalhadores em greve ou para limitar liberdades fundamentais como as de manifestação e de propaganda política.
Estas transformações, que fazem do projecto de Abril um projecto de progresso para o futuro, impõem-no simultaneamente como uma exigência do presente.
A persistência nas receitas neoliberais, que, apesar de falidas, são apenas enjeitadas no discurso por quem as continua a perfilhar na prática política, trará consigo o agravamento das condições de vida das massas trabalhadoras e a sua luta por uma sociedade nova.
Utilizando a expressão de Soeiro Pereira Gomes, cujo centenário do nascimento comemoramos este ano, diremos que os «trabalhadores sem trabalho — rodas paradas duma engrenagem caduca» hão-de querer retomar Abril.
A certeza com que o PCP comemora o XXXV Aniversário da Revolução de Abril é, por isso, a certeza de que, mais cedo que tarde, o povo português há-de querer retomar esse caminho libertador de Abril, numa pátria de homens e mulheres livres, que mais cedo que tarde, neste nosso tempo, e mesmo que lhe dê outro nome, a juventude portuguesa há-se rasgar esses novos horizontes, há-de exigir Abril de novo.