18 I SÉRIE — NÚMERO 94
frente». Isto no que diz respeito à defesa da orla costeira, no que diz respeito à eficiência energética, que anda
a passo de caracol, e no que diz respeito à gestão de recursos hídricos, que até agora se pautou, única e
exclusivamente, por incentivar os negócios da água. Essa é a sua grande prioridade.
Na verdade, é aqui que está a sua derrota, e este é o grande balanço do seu Ministério, nesta altura.
Indo justamente a esse ponto, quero que o Sr. Ministro responda a uma pergunta muito clara e muito
simples.
Existe uma empresa multimunicipal de Trás-os-Montes e Alto Douro responsável pelo abastecimento da 3
água para consumo humano em toda essa região. Esta empresa pública, que capta cerca de 31 milhões de m
de água por ano e serve uma população de mais de 400 000 habitantes, vai pagar uma taxa de recursos
hídricos 1000 vezes mais cara do que a EDP vai pagar pela barragem que vai construir.
O Sr. Ministro tem de explicar isto com a maior clareza, porque estamos a falar de uma função pública
essencial, que é o abastecimento humano de um recurso que é público. Pois não há uma lei que diz que a
água é titularidade de todos, que é propriedade de todos? E, contudo, aqueles que precisarem de matar a sua
sede vão pagá-la a uma taxa de recursos hídricos pela captação 1000 vezes mais cara do que as empresas
dos negócios da electricidade que se vão instalar em toda a região do Alto Douro, única e simplesmente, para
venderem a electricidade a Espanha.
Explique isto, Sr. Ministro, porque este é um dos exemplos da sua política — que aqui reconheceu e que
aqui «deu de barato» —, que é a de que o negócio está à frente do ambiente. É nessa área que tem de se
justificar diante dos portugueses e reconhecer o grande balanço e a grande derrota do seu Ministério.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: —Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Miguel Tiago.
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Sr. Presidente, Sr. Ministro, a intervenção que acabou de fazer deixa bem
clara a concepção deste Governo — é uma concepção que opõe o ambiente ao desenvolvimento. Só isso
explica que seja o próprio Ministro a dizer que o ambiente não pode parar o País.
Não, Sr. Ministro, o ambiente deve ser um elemento de mobilização e de desenvolvimento da economia
nacional e do País e não um entrave, como este Governo o concebe.
Estamos numa interpelação do Partido Ecologista «Os Verdes» ao Governo que coincide com o final de
quatro anos — ainda bem — de mandato e de intervenção deste Ministério do Ambiente. São quatro anos que
se traduzem, no que toca a ambiente, num desastre.
Hoje temos um Estado menos interveniente na preservação e conservação da natureza; temos um
Ministério do Ambiente que se converteu em comissão de negócios, em agência imobiliária de alienação do
património e do território dos recursos naturais para os grandes grupos económicos.
Só isso também poderá explicar que este mesmo Governo entenda que a pesca tradicional, por exemplo,
na zona da Arrábida e de Sesimbra seja um fortíssimo ataque ao ambiente mas que a co-incineração em
pleno Parque Natural da Serra da Arrábida seja um elemento estruturante da sua política de resíduos e de
ambiente. Está tudo dito sobre a perspectiva que este Governo tem.
Sr. Ministro, gostaria de deixar-lhe algumas perguntas rápidas.
Quanto ao Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, quatro anos depois de ter aqui
anunciado que, até com uma reestruturação do organismo, estava disponível para aumentar e potenciar a sua
presença no território e a sua capacidade de intervenção, o que verificamos é haver zero vigilantes da
natureza a mais do que quando entrou em funções; zero intervenção do Instituto da Conservação da natureza
e da Biodiversidade.
Deixo-lhe uma pergunta muito simples: ainda acha que, de facto, vai cumprir aquela sua promessa, feita
logo no início do seu mandato na Comissão Parlamentar de Poder Local, Ambiente e Ordenamento do
Território, de recrutar e abrir mais espaço para vigilantes da natureza e para a sua colocação no território?
E já agora, Sr. Ministro, indique ao Grupo Parlamentar do PCP uma intervenção física, concreta, objectiva
do Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB), por exemplo no Parque Natural do
Sudoeste Alentejano e da Costa Vicentina. Para além do trabalho administrativo, de gabinete, de autorização e
de não autorização de intervenções, refira uma intervenção concreta daquele Instituto.