46 | I Série - Número: 099 | 3 de Julho de 2009
E, na segunda parte, pretendendo disfarçar, o Sr. Deputado disse que não se tratava de um problema de nõmeros,»
O Sr. Presidente: — Tem de concluir, Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — » de um problema de medição real, mas, antes, de sentir a pobreza. Por quem é que o senhor se toma? Por alguém que sente a pobreza antes dos outros? O Sr. Deputado é mais sensível à pobreza? É mais humano com a pobreza? Mas que complexo de superioridade é esse? Não, Sr. Deputado! Sinto a pobreza e quero combatê-la, Sr. Deputado,»
Aplausos do PS.
O Sr. Luís Fazenda (BE): — Tenha juízo!
O Sr. Presidente: — Tem mesmo de concluir, Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Não, Sr. Deputado! Sinto a pobreza e quero combatê-la, mas faço-o sempre no limite das minhas possibilidades e não tenho a pretensão de gostar mais dos pobres do que os outros.
Nunca usei esse argumento, nunca disse a um adversário político «eu sinto a pobreza, o senhor não a sente».
Isso nunca disse. Isso, sim, é baixeza, Sr. Deputado.
Aplausos do PS.
O Sr. Luís Fazenda (BE): — Isso está mesmo mal!!
O Sr. Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, já era expectável que viesse à Assembleia da República, na sua intervenção inicial, com o ar mais cândido possível, armar-se em vítima perante a situação muito difícil que hoje se vive no País, referindo que a responsabilidade é toda da crise internacional. Faz lembrar aqueles meninos que fazem asneiras e que depois apontam para algures e dizem: «Não tenho culpa, a culpa é dele!» — o «ele» do Sr. Primeiro-Ministro é a crise internacional.
Mas, Sr. Primeiro-Ministro, a nossa democracia já é muito adulta e as pessoas já têm muita maturidade para perceber que este Governo tem, de facto, grandes responsabilidades em relação à situação que se vive no País.
Quero deixar bem claro que nós, Os Verdes, não dizemos que não existe uma crise internacional e que ela não tem efeitos sobre Portugal. Só o Sr. Primeiro-Ministro é que inventa que os outros dizem isso, porque era aquilo que gostava que os outros dissessem. Mas também temos o perfeito discernimento, que o Governo não tem, de perceber que as políticas do Governo, tomadas antes e durante esta crise internacional, tiveram repercussões muito sérias na vida concreta das pessoas e na nossa economia. Ora, vamos lá lembrar-nos.
O Governo andou, durante todo o seu mandato, a cortar no investimento público. O que é que isto significou? Significou que com esta opção o Governo fragilizou a nossa economia.
O Governo lembrou-se, no ano passado, que afinal o investimento público era uma alavanca para o investimento privado e gerava emprego no País. Ora, então, podemos dizer que a opção do Governo, quando cortou no investimento público, foi determinante para gerar desemprego no País. Agora, o Governo já está atrasado na adopção dessa medida e — também é preciso dizê-lo — não está a tomá-la de forma correcta.
Ora bem, o Governo que prometeu 150 000 postos de trabalho em Portugal é o Governo que contribuiu, justamente, para a fragilização do emprego e para o desemprego em Portugal! Veja-se bem! E não foi só com o corte no investimento público, foi com aquilo que fez na Administração Pública, foi com aquilo que fez no Arsenal do Alfeite, foi com aquilo que fez na Gestnave... E podíamos estar aqui a tarde inteira a falar de inúmeras empresas e de inúmeras situações em que o Governo claramente contribuiu para o desemprego em