14 | I Série - Número: 032 | 22 de Dezembro de 2010
É que despedimentos, Sr.as e Srs. Deputados, não é só lançar no desemprego centenas de trabalhadores e trabalhadoras, invocando, por exemplo, como anuncia a administração da CP, no seu plano de actividades para 2011, a «extinção de postos de trabalho com recurso a mecanismos legais».
Nesse capítulo, o grupo CP anuncia já hoje um total de 815 despedimentos.
Mas despedimentos são também os que vêm a seguir à redução de todos os serviços de transportes de Norte a Sul do País, urbanos, interurbanos, regionais, rodoviários, ferroviários, aéreos ou fluviais.
Apesar de não parecer, esse é o anúncio mais profundo e determinante que o Governo se prepara para fazer: em nome da redução do défice, impor a redução da oferta em todos os serviços, reduzir, eliminar carreiras, zonas e regiões inteiras vão deixar de ter acesso a transporte público. E isso traz mais despedimentos, mais sangria das empresas públicas, para ficarem menos problemáticas para a próxima privatização.
Questionado pelo Bloco de Esquerda no último debate quinzenal, o Primeiro-Ministro deu uma das suas assertivas respostas que, como já vem sendo costume, antecipam o contrário do que nos garante José Sócrates: «Despedimentos? Isso é um disparate total, uma atoarda do Bloco de Esquerda.» Pois sim. A resposta não demorou uma semana. Uma empresa tutelada pelo mesmo Governo, que no Parlamento bate o peito e garante que despedimentos «jamais», vai despedir quase mil trabalhadores.
Aplausos do BE.
Disparate total, Sr.as e Srs. Deputados do Partido Socialista, é aumentar os transportes muito acima da inflação, num ano de redução dos salários.
Disparate total é, num ano em que muitos milhares e milhares de portugueses e portuguesas vão deixar o carro em casa, porque já não têm dinheiro para a gasolina, reduzir o número de carreiras e ligações dos transportes colectivos.
Disparate total é tornar os transportes colectivos tão pouco atraentes, seja pelo aumento do preço, seja pela redução de serviços, criando o caos em que se tornou o centro das cidades ainda menos transitável.
Disparate total é um Governo que não tem outra política para os transportes que não seja ceder às exigências das empresas privadas e preparar a futura privatização dos operadores públicos.
Mas essa guerra ainda não está toda travada. Há muitas batalhas para travar. Com os trabalhadores, com as suas organizações sindicais e comissões de trabalhadores, com todos os cidadãos e cidadãs que não se importam que o dinheiro dos nossos impostos vá para financiar transportes públicos, baratos, acessíveis e integrados, o Bloco de Esquerda marcará presença na luta para combater os despedimentos, as privatizações, a redução de serviços do transporte público.
Aplausos do BE.
Entretanto, assumiu a presidência o Sr. Vice-Presidente José Vera Jardim.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Hélder Amaral.
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O debate que o Bloco de Esquerda nos traz aqui hoje, a ideia ou quase certeza da inevitabilidade destes aumentos e destes despedimentos, tem uma razão de ser, tem um rumo e um responsável.
Gostaria de tentar provar que era possível um outro caminho e de perguntar, quer ao Sr. Ministro quer ao Sr. Secretário de Estado, se acham normal — e começo por referir a Groundforce — que o Estado tenha duas empresas que prestam o mesmo serviço, que são tuteladas pelo Governo e que se canibalizam uma à outra, sendo que uma delas, enquanto teve gestão privada, até 2007, dava cerca de 1 milhão de euros de lucro e, quando passou para a esfera pública, teve, só em 2009, 29,6 milhões de euros de prejuízo e irá despedir (sabemo-lo agora) cerca de 336 funcionários.
O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Como é que isto é possível?!