15 | I Série - Número: 032 | 22 de Dezembro de 2010
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Como é que isto é possível? Pergunto se, tendo o sector dos transportes cerca de 30 empresas e um batalhão verdadeiramente considerável de 150 gestores, com transferências do Orçamento do Estado, só para 2010, de 299,7 milhões de euros (de entre as quais gostaria de destacar a REFER, com 43,3 milhões de euros, e a CP, com 37,7 milhões de euros), ainda assim, há uma explicação para as medidas que o Governo procura agora implementar.
Gostava de ir mais longe, Sr. Ministro e Sr. Secretário de Estado, e dizer o seguinte: só a CP, com cinco administradores e 90 000 milhões de euros em ordenados, tem um prejuízo de 3300 milhões de euros até Dezembro deste ano e, ainda assim, reduz serviços, quer a nível da oferta quer da qualidade, no Tua, no Corgo, na Figueira da Foz, em Coimbra ou na Covilhã. Ou seja, reduz o serviço, reduz a qualidade, aumenta o prejuízo, mas ainda distribui dividendos, o que, julgo, é prática generalizada nas empresas públicas.
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Quero também perguntar-lhe sobre a Estradas de Portugal, que tem cinco administradores e cujo Presidente aufere, só ele, um salário de cerca de 200 000 €, mas que apresenta, em 2008, 450 milhões de euros de dívidas e, em 2009, 598 milhões de euros também de dívidas. Ora, fiz uma pequena extrapolação destes resultados e questionei inclusivamente o Presidente da Estradas de Portugal, dizendo que, se nada se fizer, só a Estradas de Portugal terá, em 2025, uma dívida de 20 000 milhões de euros. Ou seja, só a Estradas de Portugal acumulará uma dívida correspondente ao valor total da dívida das empresas públicas. Acha razoável? Como é que explica isto? Termino, referindo o caso da TAP: seis administradores, 26 milhões de euros em ordenados, prejuízos de 308 milhões de euros só no primeiro trimestre, ganhando o seu Presidente 624 000 €/ano. Sr. Ministro e Sr.
Secretário de Estado, se a gestão fosse cuidada, rigorosa e de acordo com os interesses dos utentes e das contas públicas talvez não estivéssemos hoje a ter esta discussão.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente (José Vera Jardim): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Bruno Dias.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Relativamente a estas medidas de corte de 15% nos custos das empresas, o Governo vem falar muitas vezes na sustentabilidade das empresas, como se esta argumentação chantagista do género «é melhor despedirmos estes, porque, senão, vão estes e os outros» colhesse e colasse com a realidade, Sr. Ministro dos Assuntos Parlamentares e Sr. Secretário de Estado dos Transportes! Quando os senhores falam em sustentabilidade das empresas, é preciso lembrar que o Governo continua a «não mexer uma palha» nos custos para as empresas, ao nível, por exemplo, dos combustíveis.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Exactamente!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — É preciso lembrar que o Governo continua a «não mexer uma palha» no que diz respeito aos necessários investimentos e à comparticipação do PIDDAC, que, para toda a rede ferroviária, teve 8 milhões de euros. É uma vergonha, Srs. Membros do Governo, vir anunciar medidas destas, falando em sustentabilidade, e, ao mesmo tempo, minar, como os sucessivos governos têm vindo a fazer, ano após ano, a dita sustentabilidade das empresas do sector empresarial do Estado! Sejamos claros, Srs. Membros do Governo e Srs. Deputados: o que está em causa não é racionalização alguma; o que está em causa é o objectivo de preparar estas empresas para a privatização, com o Estado a pagar dezenas de milhões de euros em liquidações de empregos, para que os privados possam assumir-se com menores custos e impor a precariedade absoluta e os seus planos de baixos salários.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Exactamente!