I SÉRIE — NÚMERO 4
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Iludir não está dentro dos deveres de um Governo. Ser realista está na lista das obrigações de um
Governo. Ora, se o Instituto Nacional de Estatística revelou esta semana que há uma derrapagem orçamental
que nos afasta das metas com que Portugal se comprometeu, é preferível um Governo prevenir para não ter
mais tarde de remediar.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Apreciámos a posição da Sr.ª Líder Parlamentar do PS, que nos pareceu remeter para mais tarde e maior
concretização uma posição definitiva sobre esta matéria. Não tanto pela sobriedade que sempre seria
esperável, dado o trimestre a que se reporta a referida execução, mas sobretudo pelo sentido de País:
Portugal não pode falhar os 5,9% do défice orçamental no final do ano, pela simples razão de que esse é o
primeiro valor relevante na avaliação externa sobre o nosso País.
Vozes do PSD e do CDS-PP: — Muito bem!
O Sr. Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros: — Reforço, por outro lado, a preocupação de
universalidade, que tanto chega a rendimentos de trabalho como a rendimentos de mais-valias, e que pedirá
mais a quem mais tem e, obviamente, menos a quem menos pode. Mas, acima de tudo, devemos significar
um valor que é um compromisso comum a todo o Governo: mesmo em tempo de sacrifícios, mesmo em tempo
de austeridade, não se sacrificam os pensionistas mais pobres, não se é austero com os idosos que têm
menos rendimentos.
Cerca de um 1,4 milhões de portugueses cuja reforma está abaixo dos 485 € não são atingidos por esta
medida.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Também não levam aumento!
O Sr. Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros: — Para aqueles que se apressam a fazer
críticas, comparemos esta opção com outra, a do congelamento das pensões mínimas, rurais e sociais,
decidido em 2010 para este ano de 2011. Reconhecer-se-á com elementar justiça que, quando falamos em
ética social na austeridade, protegendo os mais pobres, não dizemos palavras e somos consequentes nas
decisões.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Perdoar-me-á a minha estimada amiga, Dr.ª Maria de Belém: manter o poder de compra dos pensionistas
mais pobres não é assistencialismo. É manter o poder de compra dos pensionistas mais pobres!
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A questão da austeridade convoca uma outra matéria sensível, a do exemplo que o Estado dá quando
pede sacrifícios aos outros. Sem moralismos, mas com determinação. Um alerta de que estamos
comprometidos com esse exemplo foi já dado com a decisão de não nomear novos governadores civis. É uma
decisão que o País entende pela prosaica razão de que a maioria dos portugueses percebe mal por que
subsistem, ainda, os governos civis, sendo demonstrável que, com a adequada distribuição das suas
competências, se pode manter o serviço ao público, ganhando-se eficiência na despesa.
O Sr. Renato Sampaio (PS): — Não é verdade!
O Sr. Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros: — Há uma outra decisão que podemos anunciar
hoje e que é similar no combate ao desperdício e ao despesismo, que são dois hábitos que a sociedade
portuguesa não tolera mais. É, aliás, uma decisão que também é importante para outro debate, que é, digamo-
lo com toda a franqueza, o do clientelismo.