I SÉRIE — NÚMERO 54
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No entanto, vamos ver como é que o mercado se vai comportar em relação a algumas destas medidas,
porque muitas vezes o efeito não é o que ocorreu com medidas de caráter semelhante que o Partido Socialista
aplicou no passado.
Temos bastantes dúvidas quanto a uma matéria que a Sr.ª Deputada referiu: a dos países que são
referenciados para a formação do preço em Portugal. Até agora não foi possível conhecer o estudo em que se
baseia essa alteração nos países-referência de forma a concluir, como o Governo e a Sr.ª Deputada fizeram,
que isso se vai traduzir num abaixamento dos preços. Isto está por demonstrar. Era bom que assim fosse…
Mas mais vantajoso seria acabar com um mecanismo que o PS criou. É porque, antigamente, o preço em
Portugal era o mais baixo de três países: França, Itália e Espanha.
Com o PS passou a incluir-se outro país, a Grécia, que nem por isso tinha preços mais baixos do que os
restantes, mas o preço passou a ser a média, o que se mantêm com este Governo.
Isto, sim, seria uma alteração significativa dos mecanismos de formação de preços.
Sr.ª Deputada, quero colocar-lhe algumas questões.
Por exemplo, porque é que o Governo não revê os cortes nas comparticipações feitos pelo governo PS e
que tanto penalizaram os utentes? A Sr.ª Deputada pode dizer que até agora não mexeram mais nas
comparticipações, mas não pode dizer que não criticou os cortes nas comparticipações feitos pelo governo
anterior e que foram brutalmente injustos para os utentes!!
Mais: a Sr.ª Deputada pode garantir que o compromisso que o seu partido também assumiu com a troica
de rever novamente o regime de comparticipações não vai significar mais nenhuma baixa de comparticipações
ou a descomparticipação de mais medicamentos?
Sr.ª Deputada, quanto à garantia de que a saúde seja tendencialmente gratuita, o Governo acaba de
aprovar um aumento brutal das taxas moderadoras, não só nos valores mas no número de atos que passam a
estar abrangidos por taxas e que anteriormente não estavam, e por isso o CDS não pode vir agora falar da
proteção dos utentes e de um Serviço Nacional de Saúde «tendencialmente gratuito», porque com o CDS ele
é cada vez mais «tendencialmente pago»!
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado João Semedo.
O Sr. João Semedo (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Teresa Caeiro, a Sr.ª Deputada ensaiou um
breve balanço da política de saúde dos últimos seis meses do Governo que apoia, mas esqueceu-se do mais
importante e daquilo que é visível aos olhos de todos os portugueses, que é o aumento das listas de espera
para consultas, para cirurgias e até para meios e exames complementares de diagnóstico. Este é que é o
traço, o resultado fundamental destes seis meses de política de saúde do Governo que a Sr.ª Deputada apoia.
O segundo aspeto, aliás, já referido pelo Sr. Deputado Bernardino Soares, é o enormíssimo aumento das
taxas moderadoras.
A Sr.ª Deputada veio dar eco, neste Parlamento, à campanha que o Governo desenvolveu nos últimos dias
sobre a diminuição do preço dos medicamentos.
A Sr.ª Deputada não devia ter alinhado de forma tão leviana (se me permite o termo) e superficial nessa
campanha, porque sei que a Sr.ª Deputada sabe que a diminuição do preço dos medicamentos será
eventualmente efetiva no dia 1 de abril, com efeitos a 1 de julho, e no dia 1 de maio para os medicamentos
genéricos, com efeitos no dia 1 de agosto.
Se a Sr.ª Deputada quiser tratar destes assuntos com outro grau de profundidade, poderemos perguntar-
lhe: mas que raio de medicamentos é que baixaram desde o dia 1 de janeiro, comparativamente com o dia 31
de dezembro?
É isto que o Governo pretende iludir com a sua campanha?!
Pretende iludir — e termino com a pergunta que lhe quero fazer — porque o Governo está a anunciar, ao
propagandear de forma tão sonante esta diminuição virtual e real do preço dos medicamentos, o aumento
generalizado das descomparticipações do Estado no preço dos medicamentos. É isto que o Governo está a
preparar e é sobre isso que quero questionar a Sr.ª Deputada, já que outras perguntas não lhe posso fazer.