27 DE ABRIL DE 2012
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como a construção civil, que viu a sua atividade fiscal descer para metade. Será este, então, o ponto de
viragem?
Não, no horizonte não se vê qualquer ponto de viragem. Os números da execução fiscal dizem-nos que o
pagamento de juros da dívida aumentou 221% nos três primeiros meses do ano, disparando de 190 milhões
de euros para 623 milhões de euros. E não são as reformas — que tanto afligem o Ministro Mota Soares —
mas, sim, o aumento do desemprego que está a pôr em causa as contas da segurança social. São 3 milhões
de euros que se evaporam a cada dia que passa.
Não há margem para dúvidas, portanto: o desemprego, que se avoluma a cada mês que passa, ao lado de
uma economia que esmorece e que se retraí a cada dia — são os próprios dados da execução orçamental que
mostram à exaustão a incompetência da política do PSD e do CDS.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Ana Drago (BE): — Está à vista aquilo para que tantos, de tantos quadrantes políticos, de tantas
origens, alertaram: quem semeia austeridade só pode recolher recessão; e quem semeia recessão só pode
recolher desastre social e orçamental. É isso mesmo: no ciclo da recessão não há consolidação orçamental
que se salve; só há crise das finanças a somar à crise social.
Aplausos do BE.
Repito, Sr.as
e Srs. Deputados: não há margem para dúvidas. Os dados da execução orçamental mostram
que a vossa política, a política do PSD e do CDS, impossibilita os próprios objetivos que enunciaram. A vossa
sede fiscal conduziu à redução de receita, os vossos cortes cegos nos salários e no investimento público só
geraram contração económica e desemprego e, portanto, aumento da despesa. Os dados mostram que a
vossa política destrói qualquer possibilidade de regresso ao crescimento económico, de criação de emprego e,
portanto, de suposto pagamento da dívida. Mas, no meio do naufrágio, o Governo mostra confiança na
cegueira.
Nas cimeiras internacionais, o Sr. Ministro Vítor Gaspar anuncia ao mundo a disponibilidade dos
portugueses para mais sacrifícios. Será que não faz a mínima ideia dos sacrifícios que já são hoje feitos por
milhares e milhares de portugueses?
Sr. Ministro, como escolhe — se é que de escolha se pode falar — uma família atacada por todos os lados
por esta política de empobrecimento e de perda de direitos? Se hoje já tem de escolher entre pagar as vossas
taxas moderadoras de um exame médico ou pagar o passe dos filhos, que os senhores aumentaram
exponencialmente, se hoje já escolhe entre pagar o aumento das faturas da eletricidade e do gás, fruto dos
vossos impostos, ou pagar as vossas novas portagens para poder ir trabalhar, o Sr. Ministro acha
sinceramente que esta, como tantas outras famílias na mesma situação, está disposta a fazer mais sacrifícios?
Não é um lapso, certamente, esta afirmação do Sr. Ministro, é uma ameaça aos portugueses: pelo caminho
vêm mais impostos, mais cortes, austeridade, e mais austeridade, sem fim.
Diz o Sr. Ministro, nas cimeiras internacionais, que Portugal está dar uma lição de moral ao mundo. Moral,
Sr. Ministro?! Qual é a moral de ter de escolher entre dois filhos quando só se tem dinheiro para pagar uma
propina de 1000 euros e quando há mais de 40 000 estudantes candidatos sem terem bolsa de ação social
escolar? Diga-nos, Sr. Ministro, como se diz, numa família com dois filhos, que apenas um dos filhos pode tirar
um curso superior e que o outro vai ter que ficar para trás.
Diga-nos hoje, Sr. Ministro, qual é o limite de desemprego que um país suporta. Quantos homens e
mulheres podem ser deixados para trás? Qual é a moralidade de ter criado um País com 1,2 milhões de
desempregados? Qual é a moralidade de ter uma geração inteira de jovens em que um em cada três está
desempregado e os outros vivem esmagadoramente de contratos a prazo ou de falsos recibos verdes?
Indiferente aos obstáculos, e pregando moralidade, o Governo segue o seu caminho, marcado nas estrelas
pelos manuais de economia liberal, insistindo sempre em fazer dos portugueses as cobaias de um
experimentalismo ideológico que, todos sabemos, vai correr mal, só pode correr mal. E vai correr mal porque,
como em todos os fanatismos geométricos, não há como correr bem. Já foi assim no Chile, tomado de assalto
pelos «Chicagoboys» nas décadas de 70 e 80 do século passado. A Passos Coelho e a Vítor Gaspar não lhes