I SÉRIE — NÚMERO 103
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Não havendo pedidos de palavra, vamos votá-lo.
Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.
Srs. Deputados, vamos entrar no primeiro ponto da ordem do dia, destinado a declarações políticas.
Para este efeito, estão já inscritos os seguintes Srs. Deputados: Catarina Martins, pelo BE, Heloísa
Apolónia, por Os Verdes, e Duarte Cordeiro, pelo PS. Por enquanto, são as inscrições que se registam na
Mesa.
Dou a palavra à Sr.ª Deputada Catarina Martins.
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.as
Deputadas e Srs. Deputados: Polícia à porta dos
supermercados, incidentes entre as pessoas que esperavam horas e horas, filas próprias de uma catástrofe
natural. As imagens que, ontem, invadiram os televisores de todas as casas deram-nos conta de um País em
estado de sítio e em estado de privação eminente. Tudo, porque a maior distribuidora do País decidiu oferecer
descontos de 50% a quem fizesse compras superiores a 100 €.
Dos 365 dias do ano, o Pingo Doce não encontrou melhor dia para fazer uma promoção sem precedentes
em Portugal do que o feriado do 1.º de Maio. Um dia em que os trabalhadores tinham o seu descanso por
garantido, mas em que se viram obrigados não só a trabalhar mais do que em qualquer outro dia, como a
fazê-lo em condições indignas, que puseram em causa a sua própria segurança e integridade física.
A escolha não foi inocente. Entendamo-nos: não foi uma promoção publicitária mas, sim, uma ação política
para virar consumidores contra trabalhadores…
Protestos dos Deputados do PSD Francisca Almeida e Luís Menezes.
… e para marcar um ponto político, em favor da desregulação de horários e condições de trabalho,
precisamente no Dia do Trabalhador.
Aplausos do BE.
No momento em que o Governo avança, como nunca, no sentido da desregulação do mercado de trabalho,
a mensagem foi clara: os direitos dos trabalhadores são um empecilho para a economia e o interesse dos
portugueses. Não são! Os consumidores, quando saem do Pingo Doce também são trabalhadores; e não há
promoção que pague, a médio e longo prazo, o que perdem com a diminuição dos seus direitos.
Todos sabemos, e percebemos, que sabe bem poupar metade do que se gasta habitualmente na
mercearia ou no supermercado. De mais a mais, num País que, como nos disse, hoje, o Eurostat, tem mais
140 000 desempregados, desde que o PSD e CDS chegaram ao Governo.
Vozes do BE: — Muito bem!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — A reação popular é mais do que compreensível. Ela é, aliás, o sinal
evidente da depressão económica em que o País se encontra mergulhado.
Podia esta campanha (e reação popular) ter tido lugar antes da crise social que vivemos? Podia, mas não
era a mesma coisa.
Nada obrigava a Jerónimo Martins a escolher este dia. Ou alguém imagina que esta empresa seria capaz
de organizar esta iniciativa no dia de Natal? Não. A força do simbolismo não escapou à distribuidora.
Protestos da Deputada do PSD Francisca Almeida.
Não contente com a desregulação dos horários de trabalho, decidiu invadir o caráter simbólico do 1.º de
Maio para humilhar e vergar quem entende que, contra a prepotência e repressão, cabe lugar à dignidade do
trabalho.