I SÉRIE — NÚMERO 106
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O Sr. Luís Montenegro (PSD): — Como disse o Primeiro-Ministro, e passo a citar: «Fomos obrigados a
fazer, sem contemplações, o diagnóstico dos nossos males coletivos e a indicar a terapêutica possível. Uma
terapêutica de choque, não diferente, aliás, da que estão a aplicar outros países da Europa bem mais ricos do
que nós. (…) Anunciámos medidas de rigor e dissemos em que consistia a política de austeridade, dura, mas
necessária, (…). Reconheço que a situação é difícil para todos e que para alguns, principalmente nas zonas
urbanas na periferia das grandes cidades, se tornou mesmo muito difícil, duríssima. Ninguém o sente mais do
que eu, que todos os dias apareço responsabilizado mesmo por aquilo de que humanamente não é legítimo
nem sensato responsabilizarem-me. Reconheço que há motivos de descontentamento, particularmente entre a
população mais desfavorecida. Mas atente-se nas causas dessa situação e haja um pouco de paciência e de
confiança no trabalho que está a ser feito. Dê-se tempo ao tempo e jogue-se na estabilidade e no trabalho —
não na agitação permanente, na perturbação e no caos —, se queremos encontrar uma via de saída
consensual e democrática para os problemas reais e estruturais (…)» do País.
Sr.as
Deputadas e Srs. Deputados, em especial os do Partido Socialista: Concordam ou não concordam
com o Primeiro-Ministro? Concordam ou não concordam com este apelo à paciência e à confiança?
Concordam ou não concordam com esta denúncia daqueles que, com oportunismo, querem agitar
irresponsavelmente a população e, afinal, não ajudam?!
Sr.as
Deputadas e Srs. Deputados, em especial os do Partido Socialista: É muito estranho que não
concordem, é mesmo muito estranho, porque quem disse isso, em 31 de março de 1984, foi o Primeiro-
Ministro Mário Soares, no dia em que um Governo PS/PSD cumpria um ano de mandato e implementava um
plano de emergência para enfrentar, com a ajuda externa, a crise financeira que Portugal vivia.
Vozes do PSD: — Muito bem!
O Sr. Luís Montenegro (PSD): — Srs. Deputados, nós concordámos, há 28 anos, com esse Primeiro-
Ministro, apesar de ele ser socialista. E os senhores? Não consideram justo que este Governo e este Primeiro-
Ministro possam fazer, a bem dos portugueses e com a sua compreensão, aquilo que, necessariamente, tem
de ser feito?!
Srs. Deputados, os melhores programas de crescimento económico e de criação de emprego que, hoje,
temos de desenvolver são as reformas estruturais.
Como dizia já o Dr. Mário Soares, em 1984, temos de equilibrar as contas e reformar estruturalmente o
País. Reformar o Estado e os sistemas públicos — é isto que garante o Estado social.
Aplausos do PSD.
Reformar a justiça, a relação entre a Administração, os cidadãos e as empresas é o único caminho que
garante o desenvolvimento sustentado.
Aumentar a dívida e o défice não é a solução, Srs. Deputados.
Foi por isso que, tal como prometemos aquando do debate do tratado orçamental e da discussão de um
projeto de resolução do Partido Socialista, aqui viemos apresentar também as nossas propostas. Decidimos
promover este debate, com um duplo objetivo.
Em primeiro lugar, para fazermos a apresentação das nossas propostas, com vista a que as políticas
europeias possam, cada vez mais, seguir um modelo gerador de emprego e de crescimento duradouro e
estrutural.
A Sr.ª Teresa Leal Coelho (PSD): — Muito bem!
O Sr. Luís Montenegro (PSD): — Em segundo lugar, para que o Parlamento se possa constituir também
como uma fonte de consenso abrangente, que integre, nomeadamente, aqueles que, no passado, sempre
convergiram connosco nesta matéria.
A Sr.ª Teresa Leal Coelho (PSD): — Muito bem!