I SÉRIE — NÚMERO 1
4
Nada disto seria um problema se esta alteração que provocou os transtornos sérios, que todos sabemos,
não passasse de mais um exemplo de uma solução improvisada, sem estudo prévio, e, pior, sem que fossem
avaliadas as suas consequências, independentemente das intenções e preocupações ambientais que
conhecemos e partilhamos.
A gestão socialista da Câmara de Lisboa alterou o perfil de trânsito de um dos principais eixos da cidade,
sem alternativas consistentes. Mais uma vez, a forma a sobrepôs-se ao conteúdo.
Neste caso, como em muitos outros, a Câmara de Lisboa procurou apenas criar a ilusão de uma solução,
sem ponderar a sua eficácia nem o transtorno que pode causar aos cidadãos.
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
O Sr. João Gonçalves Pereira (CDS-PP): — Pode o Dr. António Costa sonhar com um centro da cidade
sem carros e cheio de bicicletas, mas é evidente que não é solução para uma cidade de sete colinas, como é
a cidade de Lisboa.
Pode o Dr. António Costa conduzir pelo Marquês de Pombal a um domingo com a televisão dentro do
carro, mas é evidente que segunda-feira a confusão estava instalada.
Aplausos do CDS-PP.
Ou seja, existe uma enorme diferença entre a propaganda e a realidade das coisas.
Aquilo a que todos assistimos, durante uma semana, foi, claramente, uma manobra propagandística de
pré-campanha eleitoral.
O Presidente da Câmara Municipal de Lisboa tem-nos habituado a anúncios de enorme projeção mediática
que lhe têm permitido passar a imagem de um executor ativo. No entanto, não só existe uma enorme
desproporção entre o anúncio e a obra como as experiências a que os lisboetas vão sendo sujeitos têm um
custo elevado.
Tudo isto sempre baseado num exercício de autoridade de quem tudo sabe e está pouco disposto a ouvir
opiniões contrárias, o que já tínhamos visto, de resto, a propósito da reforma administrativa de Lisboa, em que
o CDS bem avisou. E o nosso aviso teria melhorado bastante a proposta.
Durante uma semana, António Costa apareceu todos os dias na Praça Marquês de Pombal, quer a explicar
a experiência rodoviária, quer a servir de motorista a uns jornalistas, quer a dar indicação aos polícias e até
mesmo, espante-se, a receber lições de um lisboeta que alertava para o perigo da falta de sistema de
escoamento de águas que a obra apressada não tinha previsto.
Eu diria que António Costa podia ter-se poupado àquela situação e poderia ter-nos poupado a todos a tanta
propaganda, pelo simples facto de ter posto o trânsito ao contrário até dezembro para ver se isto vai dar, para
ver se vai resultar.
E já que falei em poupar, é bom lembrar que, nesta experiência, já foi gasto perto de um milhão de euros.
Ou seja, estamos perante um típico caso de experimentalismo socialista com custos elevados.
Convém recordar que um executivo camarário que antecedeu António Costa, o executivo de Pedro
Santana Lopes, fez uma obra que hoje todos reconhecem, à direita e à esquerda,…
Vozes do PS: — Uma vergonha!
O Sr. João Gonçalves Pereira (CDS-PP): — … que trouxe enormes benefícios para a circulação
rodoviária no centro da cidade, e que é a obra do túnel do Marquês.
Pois bem, agora, que a circulação funcionava, decide a Câmara Municipal de Lisboa criar uma experiência
no Marquês que durará até ao Natal.
O mais caricato desta situação é que aqueles que tanto criticaram o túnel do Marquês, aqueles que
chegaram a boicotar a execução desta obra, fazendo os contribuintes pagar vários milhões de euros a mais
em indeminizações, são os mesmos que hoje defendem, sem hesitar, na Câmara de Lisboa, as vantagens
desta experiência.