4 DE OUTUBRO DE 2012
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Sr. Presidente, Srs. Deputados, o que aqui está em causa é exatamente o direito à saúde e este transporte
de doentes não urgentes é um instrumento essencial, um meio para garantir aos utentes o direito à saúde. Por
isso é que o PCP pugna pela proposta de que o transporte seja atribuído gratuitamente. Consideramos ser de
uma profunda insensibilidade, por parte do Governo, pôr doentes com patologias que geram bastantes
fragilidades a pagar o respetivo transporte para poderem ter acesso aos tratamentos.
Para terminar, Sr. Presidente, Srs. Deputados, gostaria de dizer que não vale a pena vir aqui com o
argumento de que estamos comprometidos com a troica para reduzir um terço dos custos do transporte de
doentes não urgentes, porque foi o PS, o PSD e CDS-PP que, ao assinarem aquele pacto de agressão,
aceitaram e submeteram-se a estas condições.
Por isso, são o PS, o PSD e o CDS os responsáveis, hoje, pelo facto de milhares de pessoas não irem a
consultas e a tratamentos porque não têm condições económicas para o assegurar, quando a situação clínica
o justifica, ficando impedidos de acederem a esses mesmo tratamentos.
Continuaremos a pugnar pelo direito à saúde e pelo cumprimento da Constituição, que os senhores
colocaram na gaveta.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para apresentar o projeto de lei do Bloco de Esquerda, tem a palavra
o Sr. Deputado João Semedo.
O Sr. João Semedo (BE): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: O projeto de lei que hoje
apresentamos retoma a proposta que já tínhamos feito na anterior sessão legislativa exatamente sobre o
mesmo assunto e que o PSD e o CDS-PP rejeitaram.
Não temos ilusões que, hoje, o sentido de voto do PSD e do CDS seja diferente do de há um ano, mas
consideramos ser importante este debate.
Por um lado, pelas circunstâncias em que hoje decorre o transporte de doentes, há, de facto, muitos
milhares de doentes que perderam este benefício e, desses, muitos terão ficado sem acesso aos cuidados de
saúde de que precisavam. Portanto, não é inteiramente verdadeiro o que a Sr.ª Deputada Teresa Caeiro disse
de se poder garantir que todos os doentes tenham o transporte necessário. Isso não é inteiramente verdade.
Mas o problema fundamental, para além da circunstância e do contexto em que hoje decorre o transporte
de doentes, é o precedente que a atual situação abre no Serviço Nacional de Saúde.
Discordamos que se associe ao critério clínico o critério da necessidade económica. Consideramos que
aquilo que se justifica clinicamente deve ser dado, deve constar dos benefícios de que qualquer um possa
usufruir, independentemente da situação social e económica. Considerar o contrário é abrir um precedente
terrível: hoje é o transporte não urgente, amanhã é o internamento, depois serão as urgências, depois serão
as cirurgias e depois os medicamentos…
Sei que o PSD e o CDS não têm sensibilidade para este problema e aceitam tranquilamente um Serviço
Nacional de Saúde a duas velocidades: um Serviço Nacional de Saúde para quem pode pagar e um Serviço
Nacional de Saúde para quem não pode pagar.
Aliás, digo-o porque me recordo bem da controvérsia da semana passada.
Protestos do Deputado do CDS-PP Artur Rêgo.
Sr. Deputado, não me interrompa que eu oiço-o normalmente com muita atenção. Não se trata de
demagogia! Não quero se quer qualificar aquilo de que ia falar! Um Governo que tem o atrevimento de pedir a
um Conselho Nacional de Ética um parecer sobre uma situação inacreditável, que é a de saber se é possível
racionar medicamentos, tratamentos, pela simples de que eles são caros! Isso é que grave e é revelador da
insensibilidade quer do CDS quer do PSD a esta problemática!
O Sr. Artur Rêgo (CDS-PP): — Sabe qual é a raiz etimológica da palavra racionar? Racionar quer dizer
usar a razão!