I SÉRIE — NÚMERO 7
50
Continua o corte generalizado e quase integral na atribuição de credenciais de transporte aos utentes que
necessitem de deslocar-se a consultas e tratamentos, pondo em causa a natureza universal e a acessibilidade
dos serviços de saúde púbicos e contrariando, aliás, de forma grosseira, imposições constitucionais.
Milhares de utentes estão a ser afetados pela manutenção desta medida, que tanta oposição mereceu por
parte do PSD e do CDS-PP, porque milhares de utentes deixaram de ter acesso aos cuidados de saúde por
não terem condições para assegurar os custos deste serviço, vendo-se, agora, obrigados ao pagamento desse
transporte que pode chegar a atingir valores bastante elevados e incomportáveis.
E o acesso a estes cuidados de saúde é ainda mais escasso e difícil em regiões onde as condições
socioeconómicas das populações são inferiores e as distâncias impõem maiores dificuldades, o que tende a
agravar a situação.
O que se está a passar é que um número considerável de utentes, apesar de não possuir recursos
económicos nem meios de transporte, não tem acesso à credencial de transporte, fazendo com que não
possam deslocar-se ao serviço de saúde.
As requisições para o transporte de doentes não urgentes continuam a registar reduções verdadeiramente
preocupantes e é bom recordar que, quando foram encerrados dezenas de serviços de atendimento
permanente, um dos pressupostos para esse encerramento foi o reforço dos meios de transporte aos
utentes…
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Bem lembrado!
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — … mas, afinal, o que está à vista é que atualmente os SAP
continuam encerrados e o transporte não está minimamente assegurado.
Agora, é demagogia, Sr. Deputado! Agora, é demagogia, Sr. Deputado!
Portanto, na nossa perspetiva, é imperioso que se garanta o transporte não urgente e sem encargos para o
utente sempre que a situação clínica o justifique, como, aliás, tanto foi defendido pelo PSD e pelo CDS-PP.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Luísa Salgueiro.
A Sr.ª Luísa Salgueiro (PS): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: O Partido Comunista Português e o
Bloco de Esquerda convidam-nos hoje para uma discussão sobre um tema que respeita a milhares de
portugueses e que tem a ver com o transporte de doentes não urgentes, situação essa que afeta muitos
portugueses que precisam diariamente de se deslocar para consultas, tratamentos e cirurgias de ambulatório.
Em ambos os projetos há uma nota comum, que é a que propõe que seja dispensado o comprovativo da
insuficiência económica, ou seja, como aqui já foi dito, basta que exista necessidade clínica justificada para
que os utentes tenham direito a um transporte gratuito.
Sobre esta matéria, o Partido Socialista tomou já uma posição, quando era governo, aprovando um
regulamento que exigia dois requisitos cumulativos: o da insuficiência económica a par do comprovativo clínico
da necessidade do tratamento.
Este regulamento veio a ser alterado pelo PSD e CDS-PP, agora no governo, parecendo até que criaram
um regime mais favorável para os utentes.
Na verdade, o que aconteceu foi que esta maioria veio abrir uma janela mas fechou uma porta, ou seja,
abriu uma janela porque disse que dispensa o comprovativo de insuficiência económica e paga a todos os
utentes que necessitem de tratamento as suas deslocações, sendo que aqueles que não sejam necessitados
pagam até ao limite de 30 euros por mês.
Ora, acontece que — e isso não foi aqui dito pelo Sr. Deputado Luís Vales e devia tê-lo sido — esta maioria
alterou as regras de cálculo do rendimento médio mensal para efeitos de atribuição de apoios sociais.
Como V. Ex.ª certamente bem saberá, até o Sr. Provedor de Justiça já se pronunciou sobre esta matéria e
recomendou à atual maioria que altere essa legislação e reponha a situação que o Sr. Deputado disse que era
iníqua. É que o Sr. Provedor de Justiça, certamente, terá tido bem em consideração a comparação entre as
duas legislações e o que está publicado e dito pelo Sr. Provedor é que a legislação que o Partido Socialista
aprovou, aquando no governo, era correta e este é iníqua e deve ser substituída.