11 DE OUTUBRO DE 2012
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Vou dar dois exemplos marcantes. No Orçamento do Estado, estava previsto um défice de 8,3% do PIB,
que o Governo ajustou para 7,3% do PIB, no ROPO, para, afinal, chegarmos à conclusão de que atingiu os
9,8% do PIB, no Procedimento dos Défices Excessivos, de Setembro 2011, ou seja, quase 17 000 milhões de
euros — repito, 17 000 milhões de euros de défice. É obra, Srs. Deputados!
Trajetória com o mesmo sentido aconteceu com a dívida pública, que, no Orçamento do Estado para 2010,
se previa de 85,4% do PIB e acabou, na Conta Geral do Estado de 2010, em 93% do PIB, mais 10% do que
no ano de 2009.
Sr.as
e Srs. Deputados: Acresce que o Governo continuou com a aposta no investimento nas parcerias
público-privadas, tornando cada vez mais insustentável o controle dos respetivos encargos.
Os encargos líquidos com as PPP cresceram 26%, em 2010, em relação a 2009, representando um
acréscimo de mais de 220 milhões de euros.
Gravoso para o futuro foi ainda o procedimento, ao longo do período de 2006 a 2010, de subtração às
regras da Administração Pública de 87 serviços, entre empresarialização de hospitais, conversões em
associações e fundações, tudo foi utilizado para mascarar a realidade.
O desenvolvimento da execução do Orçamento do Estado para 2010 ficou completamente desfasado do
que foi anunciado no momento da apresentação, discussão e aprovação na Assembleia da República, tendo-
se todas as variáveis afastado para fora de intervalos que se possam considerar razoáveis.
Sr.as
e Srs. Deputados: Face aos resultados apresentados na Conta Geral do Estado referente à execução
do Orçamento do Estado para 2010, o PSD e o País fazem um juízo muito crítico do desempenho da
governação do Partido Socialista na condução da política económica e financeira do País, nesse ano.
Ouvimos, ao longo dos últimos anos, o PS queixar-se da crise internacional, mas, em vez de defender os
portugueses dessa mesma crise, só conseguiu agravar os seus efeitos, que é aquilo que verificamos neste
momento.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Michael
Seufert.
O Sr. Michael Seufert (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados: De facto,
já não choca a quem leia a Conta Geral do Estado de 2010 e os pareceres anexos que o Tribunal de Contas
diga, por exemplo, que não foi possível apurar o valor global da receita e o valor global da despesa — é muita
receita, é ainda mais despesa e o Estado é uma máquina muito pesada, nada disto é novo.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — É verdade!
O Sr. Michael Seufert (CDS-PP): — Também não choca que o prazo médio do pagamento das
administrações públicas tenha, em 2010, passado de 69 para 91 dias — um aumento de 25%.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Bem lembrado!
O Sr. Michael Seufert (CDS-PP): — Também não choca que o consumo público se tenha situado 3,5
pontos percentuais do PIB acima do orçamentado (aliás, o Tribunal de Contas comenta que o autor das
previsões, que era o Governo, tinha informação privilegiada, pelo que não se percebe a discrepância).
Nem chega até a chocar que o Tribunal de Contas tenha de vir dizer ao Estado que a dotação provisional é
para despesas urgentes e imprevisíveis, e não para ser usada para despesas com pessoal que estavam
suborçamentadas.
Nada disto choca porque, de uma forma ou de outra, já sabíamos que isto tinha acontecido.
O que, de facto, choca, ao ler a Conta Geral do Estado de 2010, é percebermos as armadilhas e alçapões
de despesa que as contas do Estado escondem, que aparecerão no futuro e que tornarão no futuro o
saneamento dessas contas ainda mais difícil.