I SÉRIE — NÚMERO 10
48
Sr.as
e Srs. Deputados, uma reforma eleitoral com o único propósito de diminuir o número de Deputados
não empobrece apenas a pluralidade de opinião, mas a representatividade geográfica.
O Sr. João Semedo (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Cecília Honório (BE): — O que é que julgam que aconteceria a distritos como Portalegre, Beja,
Viseu ou Bragança, senão verem esmifrado o número dos seus representantes?
Mas a perversidade não se fica, apenas, pela representatividade política ou geográfica. Em círculos únicos,
ou de dois lugares, que se tornarão a norma, o próprio lugar das mulheres será posto em causa. A reforma
proposta por António José Seguro é um estratagema para contornar a lei da paridade, que o próprio Partido
Socialista, juntamente com o Bloco de Esquerda, tudo fez para aprovar.
O Sr. João Semedo (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Cecília Honório (BE): — É esta a dimensão do retrocesso, proposto pelo líder do Partido Socialista!
O pior serviço que podemos fazer à democracia, já acossada pelo discurso da inevitabilidade da troica e
dos credores, é naturalizar institucionalmente o discurso populista, é pactuar com este discurso populista
contra os partidos. Ceder perante o populismo só o legitima e dá mais alento à sua perigosa cavalgada. E a
história, Sr.as
Deputadas e Srs. Deputados, aconselha-nos a máxima cautela com este tipo de discurso.
Aplausos do BE.
Na verdade, vivemos uma espécie de sina nacional: pegar num problema que não existe e inventar uma
solução que beneficie os partidos do bloco central, porque é disto mesmo que se trata.
Não nos deixemos iludir, a crise da política não tem nada a ver com o número de Deputados, mas com a
crise da palavra e com as promessas eleitorais que são, sistematicamente, atiradas para o lixo.
O Sr. João Semedo (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Cecília Honório (BE): — O que mina a confiança de cidadãos e cidadãs é esta palavra corroída
pelas políticas.
Vejamos o exemplo deste mesmo Governo, do Governo de Passos Coelho, que, em campanha eleitoral,
prometeu que não ia cortar nos salários nem ia cortar o subsídio de Natal.
É esta corrosão da palavra que mina a democracia!
O Sr. João Semedo (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Cecília Honório (BE): — A resposta, aliás, do PSD a esta proposta do Partido Socialista ficará para
os anais da história: estamos perante uma (e cito) «precipitação populista e demagógica», esclareceu o
Deputado Luís Menezes, antes de nos lembrar que se trata de uma velha bandeira do PSD.
Confusão?…
O Sr. Luís Menezes (PSD): — Leu mal!
A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Nada disso, não é confusão!
O problema do PSD não é tanto o populismo, mas o temor de que este se estenda a outras bancadas. É o
temor de que o populismo se estenda a outras bancadas! O populismo e a demagogia, no entender, afinal, dos
dirigentes «laranja», pertencem ao PSD por direito natural.
Convenhamos, à luz do que tem sido este ano e meio de governação, não podemos, senão, dar-lhes razão
neste ponto: a demagogia é mesmo a vossa arma!
Aplausos do BE.