12 DE OUTUBRO DE 2012
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Sr.as
e Srs. Deputados, o que corrói e alimenta o discurso contra os partidos é ver o ziguezague
permanente em que, para dar um exemplo, se especializou a atual coligação do Governo. Alimentar esse
discurso com uma manobra de diversão, que, curiosamente, apenas beneficia o Governo, é o pior serviço que
o líder do Partido Socialista podia fazer à democracia e ao País.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — A Mesa regista quatro pedidos de esclarecimentos, designadamente
do PCP, do PS, do PSD e de Os Verdes, pelo que agradeço que a Sr.ª Deputada Cecília Honório informe a
Mesa de que forma pretende responder, se individualmente ou em conjunto.
A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Responderei individualmente, Sr.ª Presidente.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Tem, então, a palavra o Sr. Deputado António Filipe.
O Sr. António Filipe (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Cecília Honório, esta questão que aqui traz
tem uma enorme importância democrática, porque sabemos que, nos tempos que correm, existe uma
campanha populista, associada até, diria, a laivos antidemocráticos e antiparlamentares, e que assenta,
precisamente, na demagógica reivindicação da redução do número de Deputados.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Exatamente!
O Sr. António Filipe (PCP): — E dir-se-ia que essa campanha não tem fim, porque enquanto houver mais
do que um Deputado, essa campanha não cessará!
De facto, a grande surpresa do 5 de Outubro, para além de outras surpresas que a Sr.ª Deputada também
referiu, foi vermos o Secretário-Geral do Partido Socialista a alinhar nesse coro, contrariando, até, posições
expressas, nesta Assembleia, em diversos momentos pelo próprio Partido Socialista.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!
O Sr. António Filipe (PCP): — Lembramos que, em 1998, após a revisão constitucional de 1997, quando o
Governo do Partido Socialista apresentou uma proposta de lei para alterar profundamente o sistema eleitoral,
não chegou a acordo com o PSD, porque o então Governo do Partido Socialista — e, aqui, pela voz do então
Ministro dos Assuntos Parlamentares, António Costa — considerava que, para o Partido Socialista, a redução
do número de Deputados era inaceitável; e não chegou a acordo com o PSD, nessa altura.
E era inaceitável, porquê? Porque o que pretendia o PSD era, de facto, bipolarizar artificialmente este
Parlamento, fazendo com que os partidos com maior representação pudessem obter maiorias absolutas, com
menos votos, ou seja, que pudessem «ganhar na secretaria».
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Exatamente!
O Sr. António Filipe (PCP): — E que isso lesaria, profundamente, a pluralidade da democracia e a
proporcionalidade do sistema eleitoral. Por isso, na altura, o Partido Socialista recusou essa proposta do PSD.
Lembramos, também, que, em 1998, um estudo encomendado, precisamente pelo Partido Socialista e da
autoria dos Professores André Freire, Manuel Meirinho e Diogo Moreira, considerava que a proporcionalidade
do sistema eleitoral português não era compatível com a redução do número de Deputados. Aliás, os estudos
comparativos que faziam demonstravam que Portugal era dos países que, em termos relativos, tinha menos
Deputados na Europa, até pela simples razão de que é um dos poucos países que tem apenas uma Câmara
parlamentar — e dizemos nós, ainda bem que só tem uma Câmara parlamentar!
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!