13DEOUTUBRODE2012
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O senhor ouviu o que disse sobre o aumento do desemprego? — «que surpresa!» O Eurostat não permite
aquela operação estranhíssima que era a de os aeroportos se endividarem para pagarem a si próprios a
concessão para fingir que reduziam o défice — «ai, que surpresa!». O défice é maior do que o que
esperávamos — «ai, que surpresa!». Afinal, são só quatro as fundações onde vamos mexer — «ai, que
surpresa!»
Não há surpresas nenhumas na política implacável que está a seguir.
Na sua proposta do Orçamento, não é surpresa dizer que vai despedir dezenas de milhares de
trabalhadores da função pública.
Não é surpresa dizer que vai aumentar o endividamento em 12 mil milhões de euros. Não é surpresa, pois
não, Sr. Primeiro-Ministro, dizer que faz garantias bancárias para o sistema financeiro em 25 000 milhões de
euros?
Os portugueses sabem, hoje, quem vive neste País sabe que vai pagar mais impostos para haver mais
dívida. Esta política não tem nenhum sentido. Mais recessão e mais dívida é mais desespero para as pessoas.
E era o que faltava que o Governo dissesse que lhes vai fazer um favor ao pagar ordenados do trabalho das
pessoas, reformas da vida das pessoas!
Por isso, Sr. Primeiro-Ministro, a pior expressão que foi utilizada (e não me lembro nunca de ter ouvido uma
coisa assim neste Parlamento) perante as pessoas a quem o senhor quer tirar tudo — a esperança, o apoio
aos filhos, o acesso à saúde, o direito a usar aquilo que é de todos — foi a de que, insultando-os, ainda por
cima, o Governo lhes faz um favor. Não faz favor nenhum, Sr. Primeiro-Ministro — ponha isto na cabeça!
O senhor declarou guerra aos portugueses e os portugueses merecem defender-se em nome de Portugal!
Aplausos do BE.
O Sr. ª Presidente: — O Sr. Primeiro-Ministro pede para usar da palavra, mas já não dispõe de tempo para
responder.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr.ª Presidente, quero garantir-lhe que quando terminei de falar dispunha de 2
segundos. E também me parece que o Sr. Deputado Francisco Louçã excedeu o seu tempo em mais de 1
minuto e 56 segundos, pelo que se a Mesa me der a possibilidade, gostava de responder à questão que o Sr.
Deputado acaba de colocar.
Protestos do PS.
A Sr.ª Presidente: — Sr. Primeiro-Ministro, se o Parlamento não se opuser, concedo-lhe tempo para
responder.
Protestos do PS, do PCP e do BE.
Sr. Primeiro-Ministro, parece que não há possibilidade de responder.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Muito obrigado, Sr.ª Presidente.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra, em nome de Os Verdes, a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia, para
formular perguntas.
A Sr.ª HeloísaApolónia (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, quer queira, quer não,
penso que a sua atitude nos debates quinzenais que se vão sucedendo vem revelando um cada vez maior
desnorte do Sr. Primeiro-Ministro perante o País e perante a Assembleia da República.
O Sr. BernardinoSoares (PCP): — É verdade!