2 DE NOVEMBRO DE 2012
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troica. Se o propósito da refundação significa a desresponsabilização do Estado das suas funções sociais,
então ela não é necessária, porque o Governo não tem feito mais nada do que refundar!
Há, contudo, um elemento interessante nesta conversa: é que, se o Governo fala em refundação, é porque
o próprio Governo não acredita neste Orçamento.
Este Orçamento não vai resolver os nossos problemas e o Governo dá sinais visíveis de também ele estar
certo desse falhanço. É por isso que o Governo já está a considerar o patamar seguinte: a refundação do
Memorando.
Mas se este Orçamento não resolve os nossos problemas, significa que a carga de sacrifícios que
representa para os portugueses está a ser completamente em vão.
Como muito bem refere o Conselho Económico e Social, no seu projeto de parecer sobre este Orçamento
do Estado: «O enorme aumento de impostos vai conduzir a uma recessão profunda e provocar um novo
desvio orçamental». Mas diz mais: «Qualquer programa de ajustamento provoca dor, mas neste caso pode
haver dor, sem ajustamento».
Agora, dizemos nós: é o mais certo, vamos ter dor sem ajustamento, porque um ajustamento não se
consegue com sacrifícios, uma dívida paga-se com a criação de riqueza. E, portanto, a palavra mágica tem de
deixar de ser «austeridade» e passar a ser «produção» — a nossa produção, a produção nacional, porque se
não produzimos não criamos riqueza e, se não criarmos riqueza, nunca teremos condições para pagar a
dívida.
Portanto, o que é necessário é pôr o País a produzir. E, para pôr o País a produzir, é preciso investimento
público de qualidade. Mas não há dinheiro para investimento público, dirá o Governo. E, agora, dizemos nós:
não há dinheiro para investir, porque o que existe é para pagar os juros da dívida. Então, renegoceie-se a
dívida, no sentido de nos permitir uma folga, no sentido de nos permitir respirar, para podermos investir na
nossa economia e, dessa forma, pôr o País a produzir, criar postos de trabalho, combater o desemprego, criar
riqueza para podermos, sim, pagar a dívida.
Ao contrário do que dizem alguns, renegociar a dívida não é fugir ao seu pagamento; renegociar a divida é
garantir o seu pagamento!
Também é preciso promover a justiça fiscal, e nem isso este Orçamento consegue.
Este Orçamento, que coloca os doentes e os desempregados a pagar a taxa extraordinária que deveria ser
paga pelos bancos, que procede a um verdadeiro confisco a quem trabalha, deixando milhares de famílias
sem condições para pagar os seus compromissos com os bancos que derivam da habitação, que remete
outras famílias para o limiar da pobreza e outras ainda para a mais completa miséria, é, afinal, o mesmo
Orçamento que deixa praticamente intocáveis as mais-valias que são recebidas através de sociedades
gestoras de participações sociais ou de fundos,…
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — … ou, então, que são recebidas pela via da transferência para
empresas que se vão criando no estrangeiro, continuando isentos do pagamento de impostos ou continuando
a pagar muito pouco. É, afinal, o mesmo Orçamento que privatiza as empresas que são de todos, e que dão
lucros e que, até aqui, contribuíram para as receitas do Estado.
Como diz o Sr. Ministro das Finanças, «nós temos o melhor povo do mundo». Pois temos, Sr. Ministro! Mas
o melhor povo do mundo merecia melhor fado, melhor sorte, melhor Governo, melhores políticas e melhor
Orçamento.
Aplausos de Os Verdes e do PCP.
A Sr.ª Presidente: — A próxima intervenção é do Bloco de Esquerda, pelo que tem a palavra ao Sr.
Deputado Luís Fazenda.
O Sr. Luís Fazenda (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Membros do Governo, Sr.as
Deputadas e Srs. Deputados: No dia 14 de novembro, há um facto histórico na Europa. Em Portugal, Espanha,