I SÉRIE — NÚMERO 19
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Também não se ouviram propostas nem ideias a este respeito por parte de PS, PCP e BE. Idem por parte
do CDS-PP/Madeira. Estamos conversados.
E não se querendo nem a troica, que nos financia o défice, nem os impostos, que nos sobrecarregam,
como fariam para acorrer aos 11 500 milhões de euros agregados destes dois blocos, o défice consentido
mais o agravamento tributário? A evidência é tão absurda e a demagogia tão óbvia que até fica mal pensar só
na pergunta. Estamos conversadíssimos.
É evidente que a mal-amada troica FMI/BCE/CE pode sempre ser substituída por outra troica PS/PCP/BE,
a troica do «não pagamos!» ora em discurso mais bruto e frontal, ora em embrulho mais sonso e sofisticado.
Se esta nova troica, forjada no calor exuberante da discussão parlamentar do OE 2013, desencantar e
fornecer generosamente 11 500 milhões de euros a fundo perdido ou em empréstimo sem juros, o caso era
capaz de mudar de figura: não teríamos que agravar impostos e a cobertura do défice estaria assegurada. Se
o CDS-PP-Madeira se juntasse a esta nova troica e agregasse mais uns fundozitos, com jeito até poderíamos
aumentar um pouco mais a despesa pública deste OE a contento de todos e retomar a linhagem dos «bons
orçamentos» dos últimos anos. E não se falava mais nisso — até termos de pagar a factura.
Porém, como a nova troica PS/PCP/BE não se atravessou, lá temos de continuar com a troica chata, a dos
FMI/BCE/CE.
E a verdade é que o esforço a efetuar no OE 2013 seria ainda maior se a troica nos obrigasse a tentar
atingir a meta fixada no texto original do Memorando negociado pelo Governo socialista. O teto do défice
estava aí fixado, como tem de recordar-se, em 5 224 milhões de euros em 2013. E este facto serve para ter
bem presentes dois outros factos: primeiro, o de que, não fora a revisão desta meta na quinta avaliação
trimestral, teríamos de fazer um esforço adicional de ainda mais 2300 milhões de euros de austeridade,
aumentando substancialmente a dificuldade e a dor do exercício; e, segundo, o de que estamos infelizmente
bem «aquém da troica» (atento o Memorando inicial negociado pelo PS) e não «além da troica», como um
permanente e infeliz jogo de palavras dos socialistas tem procurado dar a entender e atacar.
A «receita» está certa ou estará errada?
Muitos dizem que «a receita está errada» e que é indispensável alterá-la. É possível discutir tudo isso mas,
para trabalhar noutro quadro de referência, é indispensável, por um lado, convencer os credores e quem nos
financia e, por outro, ter a certeza de que a nova «receita» será melhor do que esta.
Nós mandamos no nosso dinheiro — ou melhor, devíamos ter mandado a tempo, em vez de nos
colocarmos nesta posição tão vulnerável de carência extrema e dependência absoluta —, mas não mandamos
no dinheiro dos outros, não mandamos nos recursos de quem nos empresta a boia que nos evita o
afogamento na bancarrota, na ruína total, na completa miséria.
Podemos ter muitas ideias sobre a forma como deviam emprestar-nos ou dar-nos o dinheiro deles, mas
essa avaliação e decisão não é nossa, é deles. Além disso, mesmo que a sua avaliação fosse diferente do que
criticamos e mais ao gosto do que nos convém, era indispensável que eles tivessem todos esses recursos
adicionais a que nós (e outros em situação similar) aspiramos. Ora, sabemos que não é assim.
A crise é mais ampla do que apenas nossa e, mesmo que houvesse outra vontade política, nem esses
recursos estão ilimitadamente disponíveis nem existiriam apenas para nos socorrer e agradar.
Por outro lado, uma outra «receita», passando necessariamente pela renegociação aberta do Memorando
e por um segundo resgate, teria que ser melhor do que esta. Senão... antes como está, em toda a medida que
seja possível cumprir.
A dimensão dos sacrifícios que o endividamento e a incapacidade de financiamento autónomo nos obrigam
a atravessar e suportar não tem a ver apenas com a dose mas também com o tempo de duração.
Frequentemente, o tempo de duração é bem pior do que a dose: sofrer mais tempo também é sofrer mais —
muitas vezes, sofrer muito mais. Por um lado, há políticas de ajustamento que entram em relaxe e
derrapagem: fazem-se os sacrifícios e não se atingem os resultados, nem nos aproximamos deles. Por outro
lado, esse quadro de segundo resgate ou de resgates sucessivos traduz-se em agravamento do descrédito,
agudização da crise, afundamento da dependência, adiamento da liberdade e da recuperação.
O exemplo da Grécia é impressiva ilustração. O segundo resgate pode ter dado a ilusão instantânea do
alívio de sacrifícios que os gregos não estavam dispostos a suportar ou não tinham já condições para suportar.
Mas, em rigor, pouco ou nada aliviou e, quer no presente, quer para diante, o quadro de sacrifícios continua
enorme, porventura mais brutal.