6 DE DEZEMBRO DE 2012
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de o ser, já o era neste negócio. A própria Associação de Turismo de Lisboa revoltou-se contra o aumento das
taxas aeroportuárias no Aeroporto da Portela, porque este aumento visa tornar mais benéfico para os privados
a exploração do Aeroporto da Portela.
A própria gestão deste processo de privatização feita pelo Governo e pelos privados é questionável e, a par
do esclarecimento da Sr.ª Secretária de Estado sobre este aumento anunciado das taxas aeroportuárias na
Portela (por ser mais benéfico para os privados), também é necessário que, em nome da transparência, o
Governo clarifique por que motivo pede assessoria a uma empresa no âmbito da privatização da ANA e a
mesma empresa está a dar assessoria aos privados no âmbito da privatização da TAP — perdão, é o
contrário!… Como, com certeza, a Sr.ª Secretaria de Estado saberá bem, a Da Vinci (que tem ilustres
membros do PSD como seus assessores) está a prestar assessoria ao Estado na privatização da TAP, tal
como está a prestar assessoria aos privados no processo de privatização da ANA.
Esta realidade demonstra, por um lado, como os interesses públicos e privados ficam numa nebulosa, em
que ganham sempre os interesses privados e, por outro lado, a forma como se protege que a privatização seja
feita em condições que os privados possam, depois, ter o negócio garantido, uma renda garantida.
Pelo caminho fica o interesse nacional num setor estratégico, fica comprometida a garantia da coesão
territorial num cenário da nossa geografia — em que todos percebemos que as regiões autónomas são
protegidas com uma TAP pública e com uma ANA pública —, tal como ficam comprometidos os cofres do
Estado, porque ficam reféns dos interesses privados e «descalços» em relação aos lucros que a ANA tem
dado, ano após ano. É, por isso, um mau negócio para todos. Para todos, menos para os privados.
Conclusão do Governo: privatize-se! A interesse de quem? Dos privados, obviamente.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís
Ferreira.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Para além do mal que
representa para o interesse nacional a privatização da ANA, este processo conhece contornos ainda mais
estranhos do que qualquer outro processo de privatização, desde logo, porque, no caso da privatização da
ANA, a falta de transparência foi ainda mais evidente, foi ainda mais notória do que em qualquer outro
processo de privatização. Ou seja, a transparência esteve e está completamente ausente neste processo.
O pouco que se conhece sobre o contrato de concessão entre o Estado e a ANA é que está a ser
trabalhado tendo como pressuposto de que se trata de um contrato entre duas entidades públicas — de facto,
são públicas, por enquanto —, mas o seu conteúdo pretende definir as bases da concessão por 40 ou 50 anos
a um grupo privado.
De facto, é estranho que a preocupação do Governo nesta concessão não seja a de assegurar o interesse
público ou a de saber se ela é ou não vantajosa para o País. Nada disso! A única preocupação do Governo,
neste processo, é a de saber se a União Europeia e o Eurostat aceitam integrar a receita da concessão para
efeitos da contabilização do défice das contas públicas. Esta é a única preocupação do Governo neste
processo!
Também tem contornos estranhos o facto de esta privatização ser antecedida de uma concessão, e aqui
impõe-se uma pergunta: afinal, o que é que o Governo quer concessionar à ANA? Um serviço público que a
ANA já está a fazer?! É que, por incrível que pareça, é exatamente isto que está a passar-se, ou seja, o
Governo pretende concessionar à ANA um serviço público que a própria ANA já faz! E, agora, abanamos
todos a cabeça duas vezes e dizemos: não pode ser! Mas eu digo: é! É isto que se está a passar.
Parece complicado, mas, afinal, foi este o expediente que o Governo encontrou para se autofinanciar.
O Sr. António Filipe (PCP): — Exatamente!
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Ou seja, o Governo utiliza a ANA para obter empréstimo, obriga
a ANA a endividar-se junto da banca, para termos uma empresa pública com um passivo, a que vão acrescer