I SÉRIE — NÚMERO 44
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O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para apresentar o projeto de resolução do Bloco de Esquerda, tem
a palavra a Sr.ª Deputada Ana Drago.
A Sr.ª Ana Drago (BE): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Talvez a estranheza seja termos de estar
hoje aqui, no Plenário da Assembleia da República, a discutir aquilo que deveria ser o óbvio, ou seja, a
promoção da mobilidade e das diferentes alternativas, em particular as que são alternativas sustentáveis, que
criam hábitos de mobilidade suave e, portanto, muito mais agradável numa cidade (é quase uma outra
maneira de viver a cidade). Esta deveria ser uma política desenvolvida pelos diferentes operadores de
transportes públicos, no sentido óbvio de se articularem para que haja intermodalidade entre os diferentes
modos de transporte. Portanto, não deveria ser necessário que um conjunto de forças políticas tivesse de
trazer à Assembleia da República estes projetos de resolução.
É que, a meu ver, Sr.as
e Srs. Deputados, aquilo que estamos hoje a discutir é uma tentativa alargada de
promover padrões de desenvolvimento sustentável, e até de desenvolvimento societal, que todos devemos
defender.
É nesse sentido que o Bloco de Esquerda vem fazer uma recomendação que, creio, à CP deveria ter
ocorrido mais cedo do que mais tarde. E se é certo que já existem algumas infraestruturas instaladas em
algum tipo de comboios, também é verdade que nos comboios de longo curso esta possibilidade de os
passageiros poderem levar consigo a bicicleta ainda é muitíssimo reduzida.
Aliás, a propósito do projeto de resolução apresentado pelo Bloco de Esquerda, tivemos uma resposta que
nos foi dada pelo Conselho de Administração da CP, dizendo que já há um conjunto de facilidades que são
permitidas no atual sistema de comboios, mas dizendo-nos também que, no entanto, em relação ao Alfa
Pendular, esse tipo de investimento é muito oneroso.
Creio que é um debate que devemos fazer, porque este é um investimento num modo de transporte
sustentável, defensável para as formas de mobilidade das nossas cidades e das nossas localidades. Portanto,
há investimentos que, no longo prazo, rendem e este é certamente um debate que temos de fazer.
Para terminar, gostaria de esclarecer uma dúvida. O projeto de resolução apresentado pelo PSD e pelo
CDS refere a emissão de um título de transporte de bicicleta associado ao bilhete do passageiro. Perante
estas propostas que vêm da maioria, tenho sempre uma dúvida: será que este título de transporte significa um
custo acrescido a quem faça uma escolha pela mobilidade suave?
Como a resposta da CP já nos diz que o transporte de uma bicicleta por passageiro é gratuito — e creio
que é isso que deve ser defensável —, gostaria que não restasse qualquer dúvida neste debate. Espero que a
emissão do título de transporte seja apenas uma reserva da possibilidade, no âmbito da infraestrutura, de
transportar a bicicleta e que jamais possa querer dizer que os senhores, que tantas taxas inventam — quem
respira mais paga uma taxa neste País…! —, tenham inventado mais uma forma de pagamento para quem fez
uma escolha por um modelo de mobilidade que é defensável e que permite, de facto, elevar os padrões de
mobilidade no nosso País.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Paulo
Cavaleiro.
O Sr. Paulo Cavaleiro (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: É incontornável o potencial da
bicicleta como forma de mobilidade, e isso não pode ser negligenciado, quer nas deslocações quotidianas,
pendulares, para o local de trabalho ou para a escola, quer nas práticas desportivas e de lazer, pelo que a
mobilidade ciclável vem somando adeptos e merece a congregação de todos os apoios no sentido da sua
promoção.
Olhando para o peso dos diferentes modos de transporte, verifica-se que, entre 2007 e 2010, as
deslocações em bicicleta, em Portugal, subiram de 1% para 1,6%, valor ainda bem distante da média
europeia, de acordo com a informação constante num estudo recente da Comissão Europeia.
A bicicleta é uma alternativa e uma hipótese de fazer a interligação com o transporte público.
Sabemos que as empresas deste setor têm feito esforços no sentido de melhorar as condições para o
transporte de bicicleta nas suas estruturas.