25 DE JANEIRO DE 2013
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O Sr. Paulo Pisco (PS): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Nunca como nos últimos anos a língua
portuguesa teve tanta projeção e o seu valor foi tão reconhecido.
Essencialmente, desde 2008, o País despertou para o valor económico e cultural da língua portuguesa e
ganhou, finalmente, consciência do seu imenso potencial. Portanto, há que valorizá-la e promovê-la. E uma
das formas de o fazer é, reconhecidamente, através das imensas comunidades de portugueses espalhados
pelo mundo.
Vozes do PS: — Muito bem!
O Sr. Paulo Pisco (PS): — Na retórica, o Governo considera o ensino a âncora das políticas para as
comunidades. O próprio preâmbulo do Decreto-Lei n.º 234/2012 sublinha a importância de uma estratégia
global para a língua portuguesa no mundo, visando o reconhecimento da sua importância cultural,
geoestratégica e económica.
Mas a realidade da prática governativa é bem diferente e cheia de contradições. E a verdade é que nunca o
ensino do português no estrangeiro foi tão maltratado.
Não basta ao Governo acenar com a certificação das aprendizagens para garantir maior qualidade nos
cursos. Haveria mais qualidade se os cursos não tivessem sido amputados em uma ou mais horas semanais e
se cada professor não passasse a ter mais algumas dezenas de alunos e mais níveis de ensino por cada sala
de aula.
Aquilo que o Governo gostaria que fosse esquecido, mas que o PS não deixará, é que hoje o ensino do
português no estrangeiro tem menos 11 milhões de euros do que tinha em 2010, que só em 2012 foram
suprimidos mais de 120 professores e que nesse ano foi tomada a inaceitável decisão de despedir, a meio do
ano, 49 professores de França, da Suíça e da Espanha.
Mas a mais grave contradição entre a retórica e a realidade, e na linha da lógica obsessiva de obter
receitas custe o que custar, é a introdução de uma propina no ensino do português no estrangeiro, do pré-
escolar ao secundário, conforme consta do artigo 5.º do Decreto-Lei em apreciação.
Para começar, a introdução da propina foi feita de forma displicente, porque foram definidos e divulgados
os valores a pagar e dadas outras orientações antes de ser aprovado o necessário enquadramento legislativo.
Mas, sobretudo, a criação desta propina significa desprezar vários artigos da Constituição e da Lei de Bases
do Sistema Educativo sobre o que são os deveres do Estado na defesa e promoção da língua e na sua
relação particular com as comunidades portuguesas.
Vozes do PS: — Muito bem!
O Sr. Paulo Pisco (PS): — Significa um corte radical com a ideia que esteve na origem da criação do
ensino do português no estrangeiro, que foi o reconhecimento da importância das nossas comunidades e a
necessidade de com elas manter um vínculo afetivo e efetivo através da língua e da cultura.
Significa a criação de uma discriminação negativa, visto que em Portugal o ensino básico e secundário são
gratuitos.
Significa mais um golpe na escola pública e na sua função de proporcionar mais e melhores oportunidades
para os portugueses, onde quer que vivam.
Significa limitar a oferta no ensino numa altura em que a procura aumenta, porque os fluxos migratórios
estão dramaticamente elevados.
Significa criar um afastamento dos jovens e das suas famílias em relação a Portugal, numa altura em que
há cada vez mais portugueses a optar pela dupla nacionalidade.
Não podemos deixar de evocar aqui, de forma enfática, a surpreendente declaração do Secretário de
Estado das Comunidades no recente Seminário Diplomático, quando disse que «não tinha ilusões sobre o que
aconteceria quando os pais tivessem de pagar a propina».
Pois se a propina vai afastar os jovens do ensino, por que razão insiste numa medida errada que sabe, à
partida, que irá diminuir a capacidade de afirmação e de expansão da língua, que vai criar desigualdades e,
mais uma vez, acentuar um sentimento de discriminação nas nossas comunidades?