26 DE JANEIRO DE 2013
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Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Para apresentar o projeto de lei do PCP, tem a palavra o Sr. Deputado Paulo Sá.
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Ministra, Srs. Deputados: O Governo prepara-se para dar
mais um passo na sua política de entrega dos setores básicos e estratégicos da economia, bem como dos
principais recursos naturais, aos grandes grupos económicos, nacionais e estrangeiros.
Com a sua proposta de lei pretende eliminar os últimos obstáculos que impedem o controlo total por
entidades privadas dos sistemas multimunicipais de abastecimento de água, de saneamento de águas
residuais e de gestão de resíduos sólidos urbanos. O Governo, com a sua proposta, pretende escancarar uma
porta que foi sendo aberta paulatinamente por sucessivos Governos do PS, do PSD e do CDS.
Recordemos aqui, brevemente, as principais etapas do processo de gradual entrega aos privados dos
serviços de águas e resíduos.
De 1976 a 1993, os serviços de águas e resíduos foram uma responsabilidade exclusiva da administração
local do Estado, sendo a sua gestão controlada por órgãos democraticamente eleitos e orientada para a
prestação de um serviço público. Esta opção inseria-se num movimento geral de democratização da
sociedade portuguesa e no reconhecimento que o envolvimento dos cidadãos nas questões que lhes dizem
respeito contribui para o enriquecimento da democracia.
Em 1993, o Governo do PSD, de Cavaco Silva, alterou a Lei de Delimitação dos Setores, abrindo aos
privados, sob a forma de concessão, os serviços de águas e resíduos.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Bem lembrado!
O Sr. Paulo Sá (PCP): — O mesmo Governo, em 1995, legislou no sentido de comprometer o Estado a
repor o equilíbrio económico e financeiro dos contratos de concessão, desta forma garantindo que os
concessionários privados usufruíssem, quaisquer que fossem as circunstâncias, de elevadas taxas de
rendabilidade pela exploração dos serviços de águas e resíduos.
Em 1997, o Governo do PS, de António Guterres, revogou a Lei de Delimitação dos Setores, confirmando a
abertura dos serviços de águas e resíduos aos privados.
Mais recentemente, um outro Governo do PS, de José Sócrates, procedeu à revisão do regime jurídico dos
serviços municipais de águas e resíduos,…
Vozes do PCP: — Bem lembrado!
O Sr. Paulo Sá (PCP): — … estabelecendo, em particular, que a organização dos sistemas deve privilegiar
a integração vertical, objetivo que o atual Governo se empenha em concretizar.
Assim, de mão dada, os partidos da política de direita criaram as condições para que os privados fossem
abocanhando parcelas crescentes dos serviços de águas e resíduos. É este processo que o atual Governo
pretende agora acelerar, entregando aos grandes grupos económicos, nacionais e estrangeiros, os sistemas
multimunicipais.
A água não é uma mera mercadoria, é um bem indispensável à vida! O acesso à água é um direito
fundamental, que é posto em causa com a privatização dos serviços de águas.
O Sr. Altino Bessa (CDS-PP): — Não é verdade!
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Por isso, defender este direito fundamental implica recusar liminarmente a
privatização do setor.
Entendemos que a realização de um referendo sobre a privatização dos serviços de água equivaleria a
referendar, mesmo que indiretamente, um direito fundamental e, para nós, é claro que os direitos
fundamentais não se referendam. Se, por absurdo, num referendo, a privatização dos serviços de água fosse