1 DE MARÇO DE 2013
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O Sr. João Oliveira (PCP): — Sr.ª Secretária de Estado, a solução não é esperarmos apenas por decisões
da União Europeia, há resoluções que tem de ser tomadas a nível europeu para ultrapassar muitos destes
problemas, nomeadamente decisões que têm a ver com o acesso dos Estados ao financiamento direto do
Banco Central Europeu. Mas não podemos ficar à espera eternamente de decisões que venham da União
Europeia para resolver os nossos problemas, nós temos, imediatamente, de proceder a uma renegociação da
nossa dívida pública, alargando prazos, juros e montantes e indexando o montante do juros que pagamos a
uma percentagem das nossas exportações de mercadorias, como o PCP tem proposto — uma percentagem
de 5%.
É necessário travar o desvio de dinheiro do País que está a ir parar aos cofres da banca e pô-lo ao serviço
da economia e da criação de emprego.
Precisamos de uma outra política económica: uma política que recupere para o País o que é do País e não
insista nas privatizações, uma política que apoie a produção nacional e não que continue a apoiar as
importações e a dependência externa do nosso País; precisamos de distribuir com justiça a riqueza e de
aumentar o poder de comprar, aumentando os salários e as pensões, em vez de recapitalizar bancos privados
com dinheiros públicos.
Sem isso, apesar de todos os cortes e apesar de todos os sacrifícios, a Sr.ª Secretária de Estado e o
Governo sabem que a nossa dívida tornar-se-á impagável. Precisamos, pois, de inverter o rumo que tem sido
seguido, Sr.ª Secretária de Estado.
Este pacto da troica e a política que o Governo está a executar já demonstraram que não vão resolver o
problema da dívida nem o problema do défice das contas públicas, e nós perguntamos: então, afinal de
contas, para que serve o pacto e para que serve esta política? Serve para cumprir um programa político
escondido, que o Governo está a executar sem ter mandato para o fazer, e serve para cumprir um programa
de transferência para o Orçamento do Estado (e daí para os bolsos dos portugueses) a dívida privada,
nomeadamente da banca e do setor financeiro.
O pacto da troica serve para impor o empobrecimento e o agravamento da exploração de quem trabalha,
serve para destruir as funções sociais do Estado e serve para entregar a meia dúzia de grupos e interesses
económicos as riquezas nacionais, nomeadamente empresas públicas em setores estratégicos para o nosso
desenvolvimento.
Vozes do PCP: — Muito bem!
O Sr. João Oliveira (PCP): — Por isso, apontamos um caminho: não há alteração da situação nem
resolução dos problemas nacionais sem a rutura com o pacto da troica, sem a rutura com a política de direita e
sem uma política alternativa de verdadeira defesa e promoção do crescimento económico, de valorização do
trabalho e dos trabalhadores e de redistribuição da riqueza.
Queremos saber hoje, nesta Assembleia e neste debate, quem está disposto a acompanhar-nos nesse
rumo alternativo para o País!
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado João Pinho de Almeida.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: Tentando dar a este debate
uma dimensão que, sinceramente, não foi percetível da intervenção inicial do Bloco de Esquerda, estará,
eventualmente, em causa uma questão de médio e longo prazos, que é a sustentabilidade da dívida pública
portuguesa, e uma questão de curto prazo, que é a sétima avaliação e o cumprimento do Programa de
Ajustamento por parte de Portugal.
São questões que, não tendo sido possível identificar na intervenção inicial do Bloco de Esquerda, são
suficientemente relevantes para merecerem a nossa preocupação e a expressão da nossa opinião.
A sustentabilidade da dívida pública portuguesa é, sem dúvida, uma preocupação. Dissemo-lo no passado
e, obviamente, tendo aumentado o peso dessa dívida, não poderíamos deixar de o dizer hoje: é uma
preocupação fundamental de Portugal a sustentabilidade da sua dívida.