2 DE MARÇO DE 2013
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é a prioridade do Partido Socialista: é o essencial ou o acessório? É privilegiar o possível ou tentar manter as
ilusões? É privilegiar aquilo que pode melhorar a situação de Portugal ou apostar, exclusivamente, naquilo que
pode melhorar a situação eleitoral do Partido Socialista?
Este esclarecimento é essencial para saber se o Partido Socialista, com alternativas tão curtas, está
disponível a cooperar e a construir soluções ou quer apenas olhar para a sua própria situação.
Podemos e devemos discutir porque estamos nesta situação; podemos e devemos discutir como é que foi
a execução do programa de ajustamento e podemos e devemos discutir, do ponto de vista político-partidário,
como é que vamos sair daqui.
O facto de cooperarmos num momento específico não nos impede de fazer nenhuma destas discussões.
Aliás, foi essa a responsabilidade que o PSD e o CDS tiveram no momento da assinatura do Memorando de
Entendimento. Não abdicando de discutir nada, era importante que, em cada momento particular de exigência
de responsabilidades a Portugal, todos estivéssemos juntos, porque se todos estivermos juntos
conseguiremos melhor defender o interesse que é de todos nós, que não nos divide mas, sim, que nos deve
unir.
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Temos, com certeza, atenção aos factos, sabemos que a
consolidação orçamental tem sido mais lenta do que era suposto, sabemos que a recessão é mais profunda
do que aquilo que estava previsto e sabemos muito bem que o desemprego é maior do que aquilo que estava
previsto.
O Sr. Honório Novo (PCP): — Porque será?!
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Não ignoramos nenhuma destas realidades. Não ignorarmos
nenhuma destas realidades e não nos limitamos a ter delas consciência.
O Sr. Honório Novo (PCP): — Porque será? Porque será?!
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Exigimos da parte dos nossos parceiros o mesmo realismo,
porque os nossos parceiros não podem ter um discurso político sobre esta realidade e, depois, terem uma
ação concreta na negociação dos ajustamentos ao Memorando que é incoerente com essas posições
políticas.
É para isso que era importante que cooperássemos, ou seja, para exigir dos nossos parceiros, os que
estão connosco, porque o Partido Socialista os trouxe, essa mesma coerência.
Vozes do CDS-PP: — Bem lembrado!
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — E exigir principalmente da Europa. Explicar à Europa que é
impossível construirmos soluções se continuarmos com diferenças tão grandes de financiamento para
empresas de uns países e empresas de outros países. É impossível termos uma união económica e uma
união financeira com este desfasamento.
É importante também explicarmos à Europa que tem de se acabar com o discurso moralista que põe o
norte contra o sul da Europa. É importante explicar à Europa que sem os incentivos corretos, como a afetação
do investimento que permita uma coesão que, neste momento, não existe, com certeza que essa união
económica e financeira não vai subsistir por muito mais tempo.
Mas também retiramos, para nós, com consciência deste realismo, consequências para questões concretas
do programa português. É por isso que é necessário o prolongamento da maturidade dos empréstimos; é por
isso que é necessário mais tempo para reduzirmos o nosso défice; e é por isso que é necessário mais tempo
para a redução estrutural de despesa. Somos realistas e temos disso consciência, mas é por isso também que
achamos que quem está na oposição deve ter a mesma responsabilidade e não pode vender ilusões.