I SÉRIE — NÚMERO 61
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O Sr. Bernardino Soares (PSP): — Não é bem isso!
O Sr. Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros: — Sucede que nem a independência de
financiamento de Portugal está garantida nem, alguma vez, essas forças explicaram como suportariam os
portugueses que mais sofrem o efeito devastador de uma inexorável saída do euro, que era a consequência
dessa posição.
Ocorre significar, com o devido respeito, que o PCP não se deu conta das décadas que Portugal recuaria
se decidisse viver em autarcia quando todo o resto do mundo vive em economia global. E também ocorre
significar, com igual respeito, que uma coisa é o Bloco de Esquerda gostar de ser o Syriza, outra é os
portugueses gostarem da ideia de serem parecidos com os gregos.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
O bom senso de não piorar o nosso caso é um elemento de racionalidade que, porventura, escapará às
bancadas que citei.
Esta digressão apenas se justifica para colocar a questão onde ela verdadeiramente está e onde se pode
jogar a favor de Portugal e da solução dos nossos problemas. É no quadro da relação com as instâncias
internacionais, no caso a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional,
que se podem defender os interesses de Portugal e melhorar as condições do nosso ajustamento.
A alternativa de que fala o Partido Socialista não é, portanto, uma rutura com a missão externa, o que
implica a consequência de que a negociação, que tem de ser política e técnica, com essa mesma missão
externa também não passa por prescindir unilateralmente dos memorandos que o maior partido da oposição
conhece bem. As negociações visam chegar a compromissos e os compromissos têm de ser aceites por
ambas as partes.
Poderemos, porventura, ter aqui diferenças que não me parecem em todo o caso irreconciliáveis.
Convenhamos, aliás, que neste preciso momento as elites políticas portuguesas dariam uma pobre imagem de
si própria se preferissem acentuar o que as divide face ao que pode e deve unir-nos.
Coloquemos os factos relevantes como eles são.
Portugal está a pouco mais de um ano de terminar o seu programa de assistência externa.
O caminho extremamente difícil e doloroso que o País, como uma só nação, tem feito regista, na coluna
dos passivos, um desemprego que é a maior fratura social da sociedade em que vivemos; uma deterioração
das circunstâncias económicas, que é partilhada por uma demasiado abrangente recessão ou estagnação em
toda a Europa, fator que não controlamos diretamente; e uma carga fiscal que, se não for transitória, ameaça a
fortaleza da classe média que faz a fortaleza de um País.
Na coluna dos ativos estratégicos que Portugal tem a seu favor estão, certamente, a melhoria da perceção
externa sobre o nosso País; a queda acentuada das taxas de juro da dívida nacional;…
O Sr. Sérgio Sousa Pinto (PS): — Não se vê nada!
O Sr. Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros: — … o esforço notável das exportações; as
reformas estruturais que capacitam melhor a competitividade; e os primeiros sinais, mas apenas os primeiros,
de que o Estado e as empresas começam a poder financiar-se nos mercados.
Em face desta observação, o que devemos então fazer? Não creio que a boa escolha seja pôr tudo em
causa.
Parece-me que a boa escolha é procurar, no âmbito da negociação internacional, conciliar a confiança
externa e a confiança interna, preservar o que foi adquirido da confiança externa e apostar na dinamização da
confiança interna. Para isso é essencial, a nosso ver, cuidar do consenso político entre os partidos do arco da
governabilidade e ter consciência da importância interna e externa de uma cultura de acordo social. Na nossa
credibilidade está a nossa margem de manobra.
Um primeiro desafio coloca-se precisamente no plano da dívida: sendo Portugal um País cumpridor,
defendemos que o excesso de reembolsos previstos para alguns dos próximos anos deverá ser repensado. É