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I SÉRIE — NÚMERO 63

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Ora, no meio desta escassez e desta razia ao investimento público desenhada e preconizada pelas

bancadas do CDS e do PSD e pelo atual Governo, surge agora um megainvestimento numa

requalificação/transformação do perfil do porto de Lisboa, com esta ideia da criação de um terminal de

contentores e um porto de águas profundas na Trafaria, relativamente ao qual todos os especialistas

consultados sobre esta matéria demonstram enormes dúvidas. Enormes dúvidas, em primeiro lugar, sobre a

forma como está estruturado o projeto de investimento.

A verdade é que cheira a PPP, sabe a PPP, mas do lado do Governo não se utiliza a palavra PPP, porque

caiu em desgraça. Portanto, é qualquer outra coisa que exige um enorme investimento de risco público e,

depois, quem vai usufruir dessa mesma concessão são os privados. O nome é PPP, e bem sabemos ao que

isso conduz o País!

Há, depois, outros aspetos que são relativos a toda a estruturação técnica do projeto que foi apresentado.

Desde logo, o Sr. Deputado Bruno Dias e a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia apontaram uma matéria que é

fundamental: os impactes ambientais que esse tipo de intervenção teria, do lado da Trafaria, numa arriba

fóssil. No entanto, até hoje, «especialistas» como Álvaro Santos Pereira não nos deram nenhuma explicação

sobre isto.

Como não nos deram qualquer explicação sobre qual vai ser o impacto de um terminal deste tipo,

considerando a proximidade do porto de Sines. É que haverá uma dispersão de investimento público: em

Portugal, haverá dois portos de águas profundas muito próximos. E qual será, no futuro, a estruturação deste

tipo de intervenção?

Também não nos explicaram como é que vai ser feito o transporte de mercadorias.

O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Faça favor de terminar, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Ana Drago (BE): — Vou terminar, Sr. Presidente.

Há mesmo quem venha dizer que um tipo de intervenção deste género exigiria uma terceira travessia sobre

o Tejo. Mas sobre isso não sabemos exatamente o que significa a requalificação ferroviária, que agora está

disponível para esta nova PPP e não está disponível para um conjunto de linhas estruturantes da economia

portuguesa. Portanto, Sr. Deputado, temos muitíssimas dúvidas e estamos curiosos para ouvir as bancadas da

maioria.

Vou colocar-lhe uma dúvida: houve decisões tomadas por esta Assembleia no que toca à extensão do

prazo do contrato de concessão à Liscont e, na altura, o CDS foi voluntarista nesta matéria. A verdade é que,

passado um ano, ainda não se ouviu nada sobre a extensão do prazo do contrato de concessão à Liscont.

Gostava que o Sr. Deputado nos ajudasse a perceber este silêncio insuportável por parte do Governo.

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente: (Guilherme Silva): — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Bruno Dias.

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Ana Drago, começo por agradecer a questão

que colocou.

De facto, é uma evidência que o mesmo Governo que, desde o início do mandato, faz uma autêntica

declaração de guerra ao investimento público e que leva à prática essa guerra sem quartel vem agora

anunciar, candidamente — eu diria, triunfalmente —, um suposto investimento privado. Como se o Estado

nada fizesse, não gastasse um cêntimo e aparecesse aí um projeto «chave na mão» que começava algures

no Murfacém e ia até à Cova do Vapor, em que ninguém tinha um cêntimo a pagar e havia uns dinamarqueses

quaisquer ou senhores de outro país que iriam pagar tudo o que houvesse a pagar. Ora, nós já não

acreditamos nessas «histórias da carochinha»,…

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!

O Sr. Bruno Dias (PCP): — … já vimos muitas vezes este «filme» e sabemos sempre como é que acaba!